A Universidade do Porto prepara-se para concretizar, ao longo dos próximos anos, um plano de investimentos da ordem dos 100 milhões de euros em infraestruturas, a implementar em todo o campus universitário, mas também na Área Metropolitana do Porto. O anúncio foi feito esta quarta-feira, por António de Sousa Pereira, durante a cerimónia de tomada de posse como Reitor da U.Porto para os próximos quatro anos.

Para além da já anunciada construção de quatro novas residências universitárias, que permitirá duplicar a oferta de alojamento ao dispor dos estudantes da U.Porto, o plano de “investimentos infraestruturais” previstos inclui , por exemplo, a expansão do complexo da Faculdade de Belas Artes, a requalificação da Faculdade de Medicina (nomeadamente do edifício partilhado com o Centro Hospitalar Universitário de São João), a ampliação e beneficiação das instalações da Faculdade de Direito, ou a ampliação das instalações da Faculdade de Engenharia, com a construção de mais três edifícios de raiz.

Em cima da mesa estão também os projetos para a reabilitação do antigo edifício do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), a conclusão da requalificação do Estádio Universitário, a reconversão do Biotério do IBMC/INEB em anfiteatros, bem como a criação de um Centro de Investigação para a Saúde Humana e Animal, na cidade da Maia.

“Estes novos investimentos visam a requalificação do edificado e do património da Universidade, bem como a construção de equipamentos de raiz para investigação científica e inovação tecnológica, para alojamento, estudo e lazer e para a prática desportiva e a fruição cultural e artística”, destacou o Reitor.

Perspetivando aquele que será o posicionamento da U.Porto “a médio prazo”, António de Sousa Pereira corporizou a vontade da Universidade em “assumir um papel de relevo na transformação económica e social do país, contribuindo com a nossa massa crítica e potencialidades científicas e tecnológicas para a adoção de um modelo de desenvolvimento mais inteligente, sustentável e inclusivo em Portugal”.

“Como instituição de referência no ensino superior português e maior produtor de ciência do país, a U.Porto tem a obrigação de estar na linha da frente da recuperação pós-pandemia”, exortou.

Da “oportunidade” do PRR às críticas ao “subfinanciamento” do ensino superior

Apesar de reconhecer que a situação provocada pela crise pandémica, agravada pelo recente conflito na Ucrânia, “criou, objetivamente, um impasse no processo de desenvolvimento e crescimento da Universidade”, o Reitor acredita que “os anos vindouros devem servir para recuperar dos efeitos da crise sanitária e iniciar uma nova fase de expansão sustentada e estrutural”.

“Para o sucesso da retoma pós-Covid, é crucial a materialização das possibilidades abertas pela nova geração de fundos europeus. O Horizonte Europa, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o novo quadro comunitário de apoio representam importantes oportunidades de financiamento para as instituições de ensino superior”, lembrou.

Mantendo a agulha apontada ao tema do financiamento, António de Sousa Pereira criticou a “situação de  subfinanciamento e perda de autonomia” vivida pelas universidades e politécnicos portugueses, “a que se soma o espartilho burocrático imposto pelo regime jurídico que regula o ensino superior”.

Para superar este “desinvestimento”, o Reitor aponta como receita a “atualização dos níveis de financiamento”, “fundamental para a requalificação do património, infraestruturas e equipamentos das instituições”, bem como a “desburocratização da gestão das instituições de ensino superior e de investigação científica”. Até que tal se concretize,  “não tenho dúvidas de que, mesmo num contexto adverso, a Universidade do Porto não deixará de se desenvolver e de desenvolver o país”, vincou.

“Temos de saber valorizar o nosso talento”

No seu primeiro discurso enquanto Reitor reeleito da U.Porto, António Sousa Pereira apresentou-se com a “sensação de dever cumprido” face ao trabalho iniciado em 2018. “A Universidade desenvolveu-se consistentemente nestes últimos quatro anos e reforçou o seu posicionamento entre as melhores instituições europeias de ensino superior”, recordou, dando como exemplo a recente prestação da U.Porto no QS World University Ranking 2023.

Convicto de que “a coesão interna da Universidade saiu fortalecida nestes últimos quatro anos”, António de Sousa Pereira mostrou-se disponível para “continuar a ser um agregador de vontades e um promotor de sinergias dentro da comunidade académica”, de forma a atingir o que define como “o grande desafio da Universidade do Porto: consolidar o seu estatuto de universidade europeia de investigação”.

Para alcançar esse desígnio, o Reitor admite que “há muito a fazer para uma verdadeira maximização das potencialidades da Universidade”: E lançou o repto: “Temos de trabalhar mais e melhor em conjunto. Temos de partilhar melhor os nossos recursos. Temos de aproveitar melhor as nossas competências. Temos de saber dialogar melhor entre nós, sem preconceitos científicos e de forma profícua”, desafiou.

António de Sousa Pereira reconheceu, contudo que, “para aumentar a qualidade, temos antes de mais de saber valorizar o nosso talento”. Para isso, defende que “a Universidade deve procurar valorizar as carreiras dos professores e promover o rejuvenescimento do corpo docente”, bem como “desenvolver esforços para melhorar a carreira científica dos investigadores” e “ter em linha de conta as expectativas e anseios dos funcionários não docentes, dando-lhes as devidas condições de realização profissional”.

“O bom desempenho pedagógico, científico e técnico da Universidade depende, em larga medida, da nossa capacidade de valorizar o trabalho de professores, investigadores e funcionários, trazendo-os para o centro das decisões relacionadas diretamente com as suas atividades”, aponta o Reitor.

António de Sousa Pereira proferiu o seu primeiro discurso como Reitor reeleito da U.Porto (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Relativamente aos estudantes, Sousa Pereira alertou para a necessidade de “um apoio superlativo ao nível das bolsas, da alimentação e do alojamento”, que permita “reforçar a nossa capacidade de resposta ao nível das residências estudantis, das cantinas escolares e dos serviços de apoio médico e psicológico”.

Entre as medidas previstas destaca-se “reorganização conceptual e funcional dos SASUP – Serviços de Ação Social da Universidade do Porto”, com o objetivo de ” implementar uma gestão mais participada dos equipamentos sociais da Universidade, designadamente as residências e cantinas”

“Queremos que os principais utentes destes equipamentos – ou seja, os estudantes – intervenham diretamente na gestão das residências e cantinas, de forma a garantir uma resposta socialmente mais adequada às necessidades da comunidade estudantil”, projetou o Reitor.

Voltando o discurso para o exterior, António de Sousa Pereira revelou a “ambição” de ver a Universidade “profundamente embrenhada na dinâmica social e económica do país, interagindo com outras instituições relevantes, trabalhando com as empresas e comungando dos interesses, expectativas e anseios dos cidadãos”.

No caso particular das empresas, o Reitor destacou que “há espaço para uma aproximação mais efetiva e sinérgica da Universidade ao tecido empresarial”. E usou como exemplo as 51 candidaturas aprovadas recentemente  para financiamento pelas Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial, no âmbito do PRR.

Destes 51 projetos, 37 [72%] têm origem no ecossistema da Universidade do Porto, o que representa um financiamento potencial de cerca de 180 milhões de euros. Um “sucesso” que, para António de Sousa Pereira, reflete “o dinamismo da relação dos nossos institutos de I&D com empresas inovadoras, mas também “uma aposta em áreas científicas e tecnológicas de grande potencial de desenvolvimento económico”.

“Equipa reitoral sólida, competente e determinada”

Aina antes de subir ao púlpito do Salão Nobre da Reitoria para discursar perante uma plateia composta por líderes de várias instituições do país e da região, incluindo a Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, de representantes do Ensino Superior e da comunidade académica da U.Porto, António de Sousa Pereira deu posse aos 11 vice-reitores e Pró-Reitores” que o vão acompanhar na Equipa Reitoral para os próximos quatro anos.

“Estou certo de que contarei, uma vez mais, com uma equipa reitoral sólida, competente e determinada, capaz por isso de prosseguir, com renovada ambição e energia, o projeto para a Universidade do Porto iniciado em 2018”.

Para além do Reitor, integram ainda a nova Equipa Reitoral, para os quadriénio 2022-2026, os Vice-Reitores: José Castro Lopes (Formação, Organização Académica, Saúde e Bem-Estar), Fátima Vieira (Cultura e Museus), Pedro Rodrigues (Investigação e Inovação), Pedro Alves Costa (Património Edificado e Sustentabilidade), Maria Joana de Carvalho (Relações Internacionais, Responsabilidade Social e Desporto); Joana Resende (Empreendedorismo, Valorização do Conhecimento e Planeamento Estratégico) e Ana Camanho (Transformação Digital e Gestão da Informação).

A primeira equipa reitoral totalmente paritária da história da Universidade conta ainda com os Pró-Reitores: Sónia Valente Rodrigues (Inovação Pedagógica, Melhoria Contínua e Promoção da Língua Portuguesa), Olívia Pestana, (Infraestruturas Culturais e Alumni), Pedro Brandão (Infraestruturas Tecnológicas e Sistemas de Informação) e Mário Jorge Pimentel (Gestão e Manutenção do Edificado).

Recorde aqui a cerimónia de Tomada de Poesse da nova Equipa Reitoral da U.Porto.