Rodrigo Alzuguir será o “comandante” da viagem pelos 100 anos de evolução da música brasileira, que vai acontecer todas as quintas-feiras de maio e junho, ao final da tarde, na Reitoria da Universidade do Porto e no Instituto Pernambuco – Porto. Com entrada livre, esta será uma oportunidade única para conhecer os pontos cardeais e mapear a história desta sonoridade e canto com travo a “malandragem” e “realidade social”.

Que compositores marcaram a história da música brasileira? De que ritmos poderemos falar? Quais as paragens obrigatórias ao longo deste percurso? Durante a sua performance, ao piano, Rodrigo Alzuguir vai fazer esta contextualização. No total, vamos ter seis Quintas Brasileiras, sendo que, nas últimas três, o pianista vai ter a companhia, em palco e ao violão, do músico brasileiro Yuri Reis.

Concertos de maio a junho

O programa arranca a 9 de maio, às 18h30, na Casa Comum (à Reitoria), com uma pioneira da música popular brasileira. Alguém que se destacou como compositora e maestrina no início do século XX, desafiando, assim, os padrões sociais da época. Vamos recordar Chiquinha Gonzaga, pretexto para homenagear outras compositoras que seguiram seus passos, promovendo uma reflexão sobre a presença feminina na criação musical brasileira.

Dia 16 de maio, 18h30, também na Casa Comum, o “mestre de cerimónias” será Heitor Villa-Lobos, o grande mestre da música erudita brasileira. Nesta primeira parte, serão abordadas as influências que terão orientado o seu percurso musical, identificando como incorporou elementos folclóricos brasileiros nas composições clássicas. Será igualmente destacada a importância de Villa-Lobos na consolidação de uma identidade musical nacional.

A segunda parte desta homenagem acontece a 23 de maio, na mesmo hora e no mesmo local. Nesta “aula”, a atenção vai focar-se em composições específicas, destacando a sua abordagem única da fusão entre a música clássica e as raízes brasileiras. Será ainda apontada a contribuição de Villa-Lobos para a música erudita nacional, bem como a influência que exerceu na formação de novos compositores.

No dia 6 de junho, às 18h30, o último concerto deste ciclo a acontecer na Casa Comum tem como título Polêmica Noel & Wilson – trabalho e malandragem. A relação entre Noel Rosa e Wilson Batista é um capítulo intrigante da música popular brasileira. As suas composições refletem debates sociais e culturais, tais como o conflito entre o “trabalhador honesto” e a figura do “malandro”.

Durante o concerto, Rodrigo Alzuguir vai analisar esta polémica, refletindo sobre como as músicas moldaram discussões sobre ética, trabalho e “malandragem” na sociedade brasileira da época. Ao seu lado, neste e nos próximos dois concertos, estará, ao violão, o compositor e músico brasileiro Yuri Reis.

Yuri Reis irá acompanhar, ao violão, as “Quintas Brasileiras”. (Foto: DR)

Dia 13 de junho, quando forem 18h30, acontece o primeiro concerto deste ciclo no Instituto Pernambuco-Porto. Será dedicado ao tema: Samba-canção e Bossa Nova. Vai falar-se sobre a evolução do Samba-canção para a Bossa Nova, géneros que marcaram épocas distintas.

Que características distinguem um do outro género? Qual foi a contribuição de artistas como Ary Barroso, Dorival Caymmi, Tom Jobim e João Gilberto? Este concerto falado pretende proporcionar uma compreensão mais profunda da transição musical que decorreu no Brasil, e que culminou com a sofisticação da Bossa Nova.

A 20 de junho, sempre às 18h30, no Instituto Pernambuco-Porto, vamos “entrar no universo” Gonzaga. Ou seja, explorar o legado que deixou Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e seu filho Gonzaguinha. Para além da riqueza do seu reportório, Luiz Gonzaga teve um importante papel na divulgação de música com raízes nordestinas. Por sua vez, na abordagem que fez a temáticas sociais e política, Gonzaguinha ampliou o diálogo entre a música e a realidade brasileira.

Prosa, piano e violão

Multidisciplinar, Rodrigo Alzuguir é escritor, músico, investigador, palestrante e produtor cultural, especialista em música e cultura brasileiras. Venceu o prémio Jabuti pela biografia “Wilson Baptista – O samba foi sua glória”. O álbum mais recente, duplo, é uma homenagem, precisamente, ao compositor brasileiro Wilson Baptista de Oliveira.

Dirigiu o longa-documentário “Clara estrela”, sobre Clara Nunes, filme de abertura do festival internacional MIMO e destaque no Festival do Rio. Apresentou séries de podcasts sobre figuras e temas da música brasileira. Coorganizou e escreveu artigos para o livro “A música brasileira em 100 fotografias”.

Escreveu três peças de teatro musical e encontra-se a preparar uma biografia de Heitor Villa-Lobos para a Companhia das Letras. É licenciado em Engenharia Elétrica, mestre em Letras pela PUC-Rio e doutorando em  Estudos em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos pela Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP).

Yuri Reis, compositor e músico com uma sólida formação no cavaquinho, tem uma vasta experiência no Choro e no Samba. Ao longo do seu percurso já colaborou com diversos artistas de destaque, como Joel Nascimento, Maurício Carrilho, Monarco, entre outros.

Nos últimos cinco anos, tem explorado uma interessante fusão entre o Fado e o Choro, culminando na gravação do álbum “Saudade”, com Miguel Amaral, em 2019. Este trabalho de acompanhamento de Fado já o levou a tocar em vários países europeus.

As Quintas Brasileiras são uma iniciativa apoiada pela Embaixada do Brasil em Portugal e pelo Instituto Guimarães Rosa.