A investigadora Ana Rita Matos, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), recebeu recentemente uma Bolsa Fulbright , atribuída pela prestigiada Fundação Fulbright. O apoio ajudará a financiar uma estadia de seis meses em Boston (EUA), onde a jovem cientista vai procurar adquirir novas competências e experiência que lhe permitirão depois criar no i3S o primeiro biobanco de células pluripotentes induzidas (células produzidas em laboratório que têm capacidade de gerar outras células ou tecidos) destinado a encontrar novos defeitos genéticos ou terapias para famílias que sofrem de Síndrome de Cancro Gástrico Difuso Hereditário (HDGC)..

Como estudante do Programa Doutoral em Biotecnologia Molecular e Celular aplicada às Ciências da Saúde (BiotechHealth), Ana Rita Matos vai ter então a oportunidade de passar seis meses no Centro de Medicina Regenerativa da Universidade de Boston, num grupo liderado pelo seu co-orientador Gustavo Mostoslavsky. O plano de trabalhos integra-se num projeto recentemente financiado pela FCT e coordenado pela sua orientadora, Carla Oliveira, líder do grupo do i3S «Expression Regulation in Cancer», e denominado “Estimativas de risco ao longo da vida e modificadores genéticos em Cancro Gástrico Difuso Hereditário”.

“Durante este período de seis meses em que estarei nos Estados Unidos vou adquirir experiência na derivação, manipulação e cultura de células pluripotentes induzidas a partir de linfócitos, assim como na derivação de organóides de mama e estômago a partir destas células”, explica Ana Rita Matos.

Com base no conhecimento adquirido, adianta a investigadora Carla Oliveira, o plano passa por “estabelecer no i3S e no Centro Hospitalar de São João (CHUSJ) o primeiro biobanco de células pluripotentes induzidas para famílias que sofrem de Cancro Gástrico Difuso Hereditário”.

Este biobanco abre a possibilidade de recriar mini-orgãos (estômago e mama, que são os órgãos afetados nesta síndrome), a partir de material dos doentes. Uma abordagem que permitirá explorar novas causas da doença e eventualmente testar terapias que venham a surgir para o Cancro Gástrico Difuso Hereditário, uma forma muito agressiva de cancro do estômago e que apresenta alta taxa de mortalidade.

“Um grande estímulo para a minha carreira científica”

Para além do grupo «Expression Regulation in Cancer» do i3S, o projeto agora premiado conta ainda com o apoio das equipas do Serviço de Genética do Centro Hospitalar Universitário S. João (CHUSJ). “A cooperação interinstitucional foi fundamental para elaborar este projeto e ganhar esta Bolsa da Fulbright”, sublinha Ana Rita Matos, sobre uma conquista que “representa, sem dúvida, um grande estímulo para a minha carreira científica e para o desenvolvimento deste trabalho”.

Os benefícios desta bolsa consistem na oferta do seguro complementar de saúde e acidentes durante o período da bolsa, a emissão dos documentos necessários ao visto e a sua isenção de pagamento.

Além disso, Ana Rita Matos passará a fazer parte da rede mundial de bolseiros Fulbright, tendo orientação antes da partida para os EUA, acompanhamento durante a estadia por parte da Comissão Fulbright e do Institute of International Education, bem como a oportunidade de participar em seminários e outras atividades culturais e científicas organizados pelo Programa Fulbright.

Ana Rita Matos é mestre em Medicina e Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) e, em 2018, já tinha conquistado uma Bolsa “ESHG National Fellowship″, atribuída pela Sociedade Portuguesa de Genética Humana (SPGH).

i3S na vanguarda do combate ao cancro gástrico

Esta não é a primeira vez que o i3S é reconhecido pela investigação que vem produzindo na área do cancro gástrico e, em particular, do Cancro Gástrico Difuso Hereditário (HDGC). Em 2019, o grupo liderado por Carla Oliveira já tinha conquistado o Young Investigator Award Mia Neri, destinado à melhor comunicação oral sobre investigação em cancro apresentada na European Human Genetics Conference (ESHG).

Mais recentemente, o i3S recebeu um financiamento de 165 mil euros atribuído pela associação norte-americana No Stomach for Cancer, para aplicar num projeto que tem como objetivo identificar novos biomarcadores moleculares e criar ferramentas automatizadas de bioimagem para melhorar o diagnóstico precoce do cancro gástrico do tipo difuso.

Destaque ainda para a participação de três grupos de investigação do instituto no consórcio mundial de especialistas responsável pela publicação, em 2020, daquelas que são as novas orientações internacionais de diagnóstico, prevenção e tratamento da Síndrome de Cancro Gástrico Difuso Hereditário (HDGC).