A No Stomach for Cancer, associação norte-americana de doentes com cancro gástrico hereditário, atribuiu um financiamento de 165 mil euros a um projeto de uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) que tem como objetivo identificar novos biomarcadores moleculares e criar ferramentas automatizadas de bioimagem para melhorar o diagnóstico precoce do cancro gástrico.

O cancro gástrico é a quinta causa mais comum de cancro no mundo e esta equipa está particularmente interessada numa forma muito agressiva de cancro do estômago, o cancro gástrico do tipo difuso. Este tipo de cancro não apresenta sintomatologia de alerta, mas é muito invasivo difundindo-se pela parede do estômago e pelos órgãos adjacentes e peritoneu, com alta taxa de mortalidade. É, portanto, crucial desenvolver metodologias fiáveis para diagnosticar este tipo de cancro numa fase muito inicial.

Nos últimos anos, a equipa portuguesa liderada por Raquel Seruca tem-se focado em desvendar o mecanismo molecular que está subjacente ao comportamento invasivo das células deste tipo de cancro. No projeto agora distinguido, “o nosso plano é determinar quais os principais atores celulares na invasão das células, com particular atenção aos aspetos de plasticidade celular. Queremos perceber como é que o núcleo destas células se adapta durante o processo de invasão, quer nas primeiras fases de invasão quer durante o processo de disseminação na parede gástrica”, explica a investigadora e líder do grupo de investigação do i3S “Epithelial Interactions in Cancer”,

Segundo a investigadora, este conhecimento constitui uma “oportunidade sem precedentes para identificar novos biomarcadores” que podem ser importantes no diagnóstico da doença, nomeadamente através de ferramentas de análise de imagem molecular. O objetivo, sublinha, “é identificar as proteínas que são recrutadas para o processo de invasão celular e usá-las como marcadores moleculares em métodos de analise de expressão e ferramentas de bioimagem no diagnóstico precoce destes tumores agressivos. Desta vez, para além de darmos atenção às proteínas da membrana da célula vamo-nos concentrar nas alterações nucleares e «utilizar» estas variações como biomarcadores para monitorizar a evolução da doença”.

A par desta proposta, Raquel Seruca garante vamos «continuar a oferecer um serviço gratuito a nível mundial de rastreio funcional das alterações do gene da Caderina-E que sejam identicadas na linha germinal em famílias com este tipo de cancro, serviço que está a ser cientificamente coordenado pela investigadora Joana Figueiredo”.

O projeto agora financiado envolve uma equipa de investigadores especializados em genética do cancro, biologia celular e patologia (respetivamente Raquel Seruca, Joana Figueiredo e Fátima Carneiro, todas do i3S) e em análise de imagem (João Sanches, do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa), e conta ainda com a colaboração do Consórcio Internacional de Ligação ao Cancro Gástrico.

Raquel Seruca, Joana Figueiredo e Fátima Carneiro (i3S) e João Sanches (IST) formam a equipa de investigadores envolvida no projeto. (Foto: DR)

Sobre a No Stomach for Cancer

Fundada em 2009, a associação No Stomach for Cancer tem como objetivo promover a sensibilização e educação sobre o cancro do estômago, incluindo o cancro gástrico difuso hereditário (HDGC), estabelecer e manter uma rede de apoio às famílias afetadas, manter uma organização forte e de alto desempenho, apoiar os esforços de investigação para o rastreio, deteção precoce, tratamento e prevenção do cancro do estômago.

Esta associação, sublinha Raquel Seruca, “tem contribuído imenso para a informação e apoio a doentes e famílias, e faz uma verdadeira ponte entre a investigação de ponta e a clínica”.

Além disso, acrescenta a investigadora do i3S, no site da No Stomach for Cancer “é possível encontrar informações relevantes, atuais e rigorosas sobre o que se sabe sobre cancro de estômago desde os estudos epidemiológicos até novas formas de diagnóstico e terapêutica”.

Esta não é, de resto, a primeira vez que a associação norte-americana apoia projetos de investigação do i3S. Em 2015, a No Stomach for Cancer já tinha financiado – com 25 mil euros – um projeto focado no lançamento de novos testes orientados para o diagnóstico do cancro gástrico hereditário (HDGC). Um financiamento que seria reforçado em 2017.