A cientista Joana Paredes, líder do grupo «Cancer Metastasis» do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e presidente da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC), foi recentemente distinguida com o Prémio ACTIVA Mulheres Inspiradoras de Ciência 2023 pelo trabalho de investigação sobre o mecanismo que explica como o cancro da mama triplo negativo metastiza para os ossos.
A investigação de Joana Paredes tem como foco compreender os mecanismos moleculares subjacentes ao processo metastático, usando o cancro da mama como modelo de estudo, uma vez que, justifica, «a metastização é responsável por mais de 90 por cento das mortes por cancro».
Para a investigadora, este prémio tem um “significado muito especial a nível profissional e pessoal”. Primeiro porque se trata de “um reconhecimento público relativo ao trabalho que tenho vindo a desenvolver, nos últimos anos, como investigadora na área da Oncologia (em particular na área do cancro da mama metastático), que culmina com a atribuição do Prémio FAZ Ciência 2023, atribuído pela Fundação Astrazeneca”.
“Fico também muito feliz por terem realçado a importância do meu papel como Presidente da Associação Portuguesa da Investigação em Cancro (ASPIC), cujo objetivo é promover a investigação em cancro que se faz no nosso país”, acrescenta.
“Desafia-me a continuar a fazer mais e melhor”
Além disso, sublinha Joana Paredes, trata-se de um prémio que visa reconhecer o papel das mulheres em várias áreas da nossa sociedade, pelo que é “uma honra fazer parte deste grupo restrito de mulheres. Num país onde é muito difícil evoluir e progredir em ciência, o que faz com que muitas mulheres acabem por desistir por falta de fundos e incentivo, e ao mesmo tempo dar segurança e apoio à família, é muito gratificante e motivador ser reconhecida como uma mulher inspiradora nesta área. Dá-me um sentido ainda maior de responsabilidade e desafia-me a continuar a fazer mais e melhor”.
A nível pessoal, a investigadora assume ainda ter ficado “muito sensibilizada” por partilhar este prémio com a “grande amiga e mentora Raquel Seruca”, investigadora do i3S – falecida em 2022 – que recebeu o mesmo prémio há dois anos.
“Ela era verdadeiramente uma mulher muito inspiradora. Apesar de infelizmente já não estar entre nós, prometi-lhe que tudo iria fazer para continuar a ter um papel ativo na ciência, como ela tão bem fazia e defendia. Por isso, este prémio tem também um valor sentimental muito importante, pois tenho a certeza que ela estará muito orgulhosa pelo percurso que tenho vindo a trilhar”, justificou Joana Paredes.
A investigadora do i3S partilhou o Prémio Activa com as “mulheres incríveis que trabalham comigo no i3S e na ASPIC, e que me permitem ser feliz enquanto trabalho. E finalmente dizer que inspiradoras são também todas as mulheres com cancro da mama metastático que continuam a ser mães, esposas, filhas, amigas, cuidadoras, e que me fazem querer continuar a descobrir e a desvendar os mistérios desta doença que ainda nos atormenta tanto”.
Sobre Joana Paredes
Licenciada em Biologia pela Universidade de Coimbra e doutorada em Biologia Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Joana Paredes trabalhou durante quatro anos, no Cancer Research Lab da Universidade de Gent (na Bélgica) e no Ipatimup (Porto, Portugal), ambos laboratórios de referência em Oncobiologia. Realizou depois um pós-doutoramento no ICVS, na Universidade do Minho, e iniciou a sua carreira de investigação como cientista independente em 2010 no Ipatimup, com o apoio das posições Ciência 2007 e Investigadora da FCT. Assumiu a liderança do grupo «Cancer Metastasis», no i3S, em 2021.
Joana Paredes é co-autora de 90 publicações em revistas internacionais com revisão por pares, com mais de 4900 citações e um índice-h de 41. Os seus resultados foram publicados em revistas relevantes na área do cancro, como Cancer Research, Oncogene, Clinical Cancer Research, Breast Cancer Research, Stem Cells, e Journal of Pathology. Coordenou ainda 15 projetos de investigação, financiados pela FCT, Portugal 2020, Novartis, Sanofi-Aventis International, Fundação Gulbenkian, e associações de doentes, como a Laço, LPCC e No Stomach for Cancer.
Em 2016, integrou a Direção da ASPIC (Associação Portuguesa de Investigação do Cancro), tendo sido eleita presidente em 2020, cargo que ainda mantém.
Sobre os Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras
Os Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras distinguem as mulheres que ao longo do último ano mais se destacaram como Mulheres Inspiradoras em seis áreas distintas: Artes, Ciência, Desporto, Digital Empreendedorismo, Solidariedade, Sustentabilidade e Liberdade. É atribuído também um Prémio Carreira.
A escolha das nomeadas e das vencedoras do ano de 2023 foi da responsabilidade da revista ACTIVA e de um júri constituído por Maria de Belém Roseira, Conceição Zagalo, Luís Marques Mendes, Mafalda Anjos e Natalina de Almeida. A cerimónia de entrega dos prémios decorreu a 18 de abril no Palácio Conde d´Óbidos, em Lisboa.
Para além de Joana Paredes, na categoria de Ciência, a edição deste ano distinguiu ainda Carolina Deslandes (Prémio Artes), Dolores Silva (Prémio Desporto), Inês Maria Meneses (Prémio Digital), Mafalda Rebordão (Prémio Empreendedorismo) Margarida Guedes de Quinhones (Prémio Solidariedade), Helena Freitas (Prémio Sustentabilidade) e Maria Teresa Horta (Prémio Liberdade).
O Prémio Carreira foi atribuído a Graça Freitas, em homenagem aos 40 anos de carreira que a profissional de saúde entregou ao serviço público. Uma dedicação que se tornou mais visível durante a pandemia devido ao seu trabalho enquanto diretora Geral de Saúde e Autoridade de Saúde Nacional.