Vasco Graça Moura, Herberto Helder, Manuel António Pina, Óscar Lopes, António Cortesão, Humberto Baquero Moreno e, em breve, Albano Martins e Eugénio de Andrade. Desde esta sexta-feira, todos eles são “moradores” da nova “Casa dos Livros” – Centro de Estudos da Cultura em Portugal da Universidade do Porto. Instalado no renovado Palacete Burmester, no Campo Alegre, este novo espaço gerido pela Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP) visa conservar, promover e divulgar os acervos documentais de algumas das principais figuras da cultura e literatura em Portugal.
Pensada especialmente para a comunidade académica e científica, pode-se dizer que a “Casa dos Livros” nasceu graças a Vasco Graça Moura. Desde logo, no nome. Recupera e homenageia a designação que Vasco Graça Moura dera ao seu espaço de trabalho e criação, na propriedade rural Eira do Catavento (concelho de Almeirim). É isso mesmo que os visitantes vão poder ver.
Numa das salas, está exatamente “recriado” o espaço de trabalho do escritor português, com a sua secretária e outros objetos pessoais. Mas não só. A “Casa dos Livros” acolhe o acerco integral de livros, revistas, manuscritos e obras em várias línguas daquela que é uma das principais figuras da cultura Portuguesa. O acervo foi entregue, em 2016, à FLUP pelos filhos, em regime de comodato.
Enquanto Centro de Estudos da Cultura em Portugal (CECUP), a “Casa dos Livros” assume como principal missão promover atividades que impulsionem o estudo multifacetado e interdisciplinar, com novas leituras de obras, correntes de pensamento e ideias literárias e artísticas.
A “Casa dos Livros” estará aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 14h30 às 17h30, “para visitas, trabalho de investigação, ou mera consulta de lazer”, como explica Fernanda Ribeiro, diretora da FLUP. Está igualmente prevista a organização de exposições, cursos livres, visitas guiadas e outras atividades de interesse para a Universidade e cidade.
À Faculdade de Letras, cabe garantir a conservação, acondicionamento, segurança e tratamento dos acervos, bem como a gestão das consultas e requisições. Todos os documentos e obras estarão disponíveis para consulta (no local), pelo público nacional e internacional.
Os acervos de Herberto Helder e Manuel António Pina, por serem em formato digital, estarão disponíveis para requisição, mediante autorização prévia.
Uma casa que “também podia ser a Casa das Pessoas”
A inauguração da “Casa dos Livros” decorreu esta sexta-feira e contou com a presença do Presidente da República. Na ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa destacou a “visão do relacionamento entre a urbe e a Universidade” que conduziu à criação de um espaço que também “poderia chamar-se a Casa das Pessoas”.
Numa intervenção focada na figura e no legado de Vasco Graça Moura, o Presidente da República referiu-se ao escritor e ensaísta como “um cosmopolita. Basta tomarmos por exemplo as suas traduções para percebermos isso. Tinha uma amplidão de leituras e referências que o definiam como um grande intelectual europeu”, recordou.
“A ideia da criação deste centro de cultura nasceu associada ao acervo de Vasco Graça Moura, e do gosto que os seus filhos tinham em preservá-lo, não o dispersando, ou seja, mantendo a sua integridade”, referiu por sua vez a diretora da FLUP, frisando a vocação da Casa dos Livros para acolher e preservar “acervos integrais cujo estudo permitirá conhecer os contextos de vida e criação intelectual dos seus produtores em toda a sua complexidade”.
A mesma ideia foi reforçada pelo Reitor da U.Porto, que não poupou nos elogios a um “equipamento fundamental para o conhecimento aprofundado de autores e obras que marcaram a literatura portuguesa e, deste modo, contribuíram para o enriquecimento e projeção da nossa cultura”.
“A inauguração de hoje é um notável acontecimento quer para a Universidade do Porto e a sua Faculdade de Letras, quer para a cultura desta cidade e do nosso país”, sublinhou António de Sousa Pereira, mostrando-se “convicto de que a Casa dos Livros será uma unidade de referência na investigação, valorização e divulgação de diferentes autores de relevo da língua portuguesa”.
Eugénio de Andrade “muda-se”, em breve, para a “Casa dos Livros”
O Reitor da U.Porto aproveitou ainda para agradecer à Câmara do Porto a cedência do acervo de Eugénio de Andrade, um dos mais relevantes poetas portugueses do século XX, cujo espólio, atualmente depositado na Biblioteca Municipal, vai passar para a “Casa dos Livros”, a título de depósito.
“A clarividência de colocar aqui neste belo palacete o acervo bibliográfico e os manuscritos pessoais de Eugénio de Andrade representa um simbólico regresso do poeta à cidade, garantindo-se, assim, a salvaguarda de um riquíssimo espólio, cuja relevância cultural espelha a vida e obra de uma figura incontornável da nossa literatura”, sublinhou o presidente da Câmara do Porto, sobre um acervo composto por “mais de 17 mil livros; 1.400 manuscritos, dactiloscritos, tiposcritos com anotações e desenhos; 7.400 cartas, telegramas, postais e fotografias”.
“Tudo será classificado, indexado pela FLUP, que é justamente uma das mais reputadas instituições no que diz respeito ao cruzamento destas duas áreas de conhecimento aqui representadas: a Literatura e a Ciência da Informação”, enalteceu Rui Moreira.
O município e a FLUP vão também estabelecer um protocolo para a doação, por parte da Câmara Municipal do Porto, nos próximos três anos, de 60 mil euros, 20 mil anualmente, para apoiar o “tratamento e disponibilização ao público de todos os fundos documentais em formato físico e digital à sua guarda”
No final, Rui Moreira manifestou ainda a disponibilidade da autarquia “para articular com a FLUP o lançamento de um prémio anual que potencie e promova a publicação de obras que estudem os poetas da cidade do Porto.”
A cerimónia de inauguração da Casa dos Livros contou com a presença da filha Teresa Graça Moura, em representação da família, do secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira, entre outras personalidades da academia e da cidade.