Comemorou-se, no passado dia 13 de abril, no Salão Nobre do complexo ICBAS/FFUP, os 40 anos do 1.º curso de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto.
Estudantes, docentes e funcionários não docentes da época marcaram presença neste evento comemorativo para assinalar a data que ocorreu durante a pandemia e que, por impossibilidade de se juntarem, apenas pôde ser celebrada agora.
Após a celebração de uma eucaristia de Ação de Graças presidida pelo Padre Abílio Rodrigues, capelão e assistente espiritual na ULS de Santo António, o arranque da festa foi assinalado com a atuação do Grupo Coral do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (CICBAS) sob a batuta do Maestro Ivo Magalhães. Nesse momento musical houve palco também para alguns ex-coralistas que quiseram cantar, juntamento com o CICBAS, a musica emblemática do Coral o “Acordai“.
Seguiu-se a exibição de um vídeo intitulado “memórias de um tempo”, com fotos antigas dessa época. Uma oportunidade para recordar como o ICBAS, mais do que uma Escola, foi um estado de espírito e uma filosofia vivencial, numa aprendizagem inovadora de partilha e potenciação dos saberes que permitiram a continuidade e passagem do testemunho para um futuro. Ideias que Nuno Grande, professor e fundador do Instituto, deixou escrito em texto plasmado no Livro de Curso desse ano. Texto que pelo seu conteúdo e significado, foi lido integralmente no final da apresentação do vídeo pela Comissão Organizadora do evento.
“A igualdade era o mote principal”
Numa sessão que teve como tema Reflexões, coube a Fernando Filgueiras, membro representante dos alumni desse curso na mesa de honra, começar por fazer uma breve contextualização sociopolítica e económica da época que definiu o início da Escola.
“A queda do regime autoritário no 25 de Abril em 1974, tornou possível reformular a educação e outros serviços públicos, onde alguns sonhos tomaram forma e se concretizaram, apesar das dificuldades ocorridas”, lembrou. Um desses sonhos foi o ICBAS, cujo primeiro curso iniciou-se no Seminário de Vilar com uma aula de Estatística e numa altura em que ainda não havia sido assinado o protocolo com o Santo António.
“Foram tempos de sacrifício e desafio para quem queria fazer um curso de Medicina completamente diferente e inovador”, recordou Fernando Filgueiras, sob re uma época onde o ensino era virado para a prática, para os problemas concretos sociais e humanos, em consonância com a postura vivencial do patrono Abel Salazar, defendido e continuado com Nuno Grande. Assim assumiram o lema que ainda hoje caracteriza e baliza o ensino médico oferecido pelo ICBAS: ” Um Médico que só sabe medicina, nem medicina sabe”.
O antigo estudante notou também que “nesta faculdade, a igualdade era o mote principal”. E acrescentou que foi graças ao espírito de confiança no futuro e na escola que não se deixaram absorver pela Faculdade de Medicina, arriscando continuar e mantendo a luta nas Biomédicas, apesar da ausência da garantia de início do ciclo clínico. “Essa atitude tomada em Assembleia Geral valeu a continuidade da Escola na sua plenitude e com o espírito inicial”.
Já Ruy Branco, representante dos docentes do ensino clínico, confessou que tendo, no início, sido muito “crítico à entrada de certos médicos no ensino do ICBAS”, rapidamente mudou de ideias. Considerou que o ICBAS se impôs por critérios de qualidade e exigência.
Carlos Azevedo, docente jubilado e representante dos docentes do ensino básico, salientou o período de instabilidade vivido antes da criação do ICBAS, lembrando que o Professor Nuno Grande estava a juntar médicos para formar a “Nova Escola de Medicina”. Dirigindo-se concretamente aos alumni do primeira Curso de Medicina (1976), destacou “os bons tempos em que viveram em conjunto”, acrescentando que “eles sim deveriam ser os homenageados” fazendo também referência à aula que lhes deu na inauguração das atividades do ICBAS, em outubro de 1976.
José Barros, em representação do Conselho de Administração da ULS de Santo António, frisou que os estudantes “preferem-nos entre as sete escolas de Medicina do país” e destacou que “os utópicos sonharam e afinal estavam certos”. O também antigo estudante e alumnus do ICBAS concluiu falando do papel colaborativo e voluntário de divulgar as diferentes dimensões do Instituto.
O diretor do ICBAS, Henrique Cyrne Carvalho, centrou as atenções nos rostos da fotografia tirada aos estudantes há quatro décadas atrás. “Olhando para a foto, ainda nos conseguimos rever naquilo que era a nossa intenção de fazer o curso”, ressaltou, antes de convidar os presentes a repetir a foto no mesmo local passados estes anos todos.
O também antigo estudante do Instituto sublinhou ainda que a continuidade tem de ser prosseguida no tempo e que prova disso é que “o ICBAS é líder nos cursos que oferece”. “Queremos continuar a formar estudantes no ICBAS, com responsabilidade, profissionalismo, melhores pessoas e cidadãos”, concluiu.
O encerramento da sessão coube ao Reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, que referiu “desde o princípio a ideia era ter um projeto transdisciplinar e multidisciplinar”. O também antigo estudante, professor e diretor do ICBAS recordou ainda que “foram tempos difíceis e duros, mas que no final valeu a pena”.
Olhando para o futuro, o Reitor aproveitou também par anunciar que, daqui a um ano, o edifício antigo do ICBAS estará apto para o apoio do ensino clínico e, que este “será inaugurado até ao final deste ano ou início do próximo”. Terminou dizendo que “todos contribuíram à sua maneira para o ICBAS ser o que é!”
No final da sessão, foi entregue uma pequena lembrança aos membros presentes na mesa de honra e descerrada uma placa comemorativa dos 40 anos do primeiro curso de medicina do ICBAS, cujo texto integra palavras de Nuno Grande.
Após a cerimónia houve ainda espaço para, entre todos, alumni, docentes e não docentes presentes relembrarem os velhos tempos e peripécias dos mesmos, mostrando que amizade partilhada há 40 anos saiu e reforçada e renovada para o futuro.