Avaliar o impacto do 25 de Abril na geografia do país e “resgatar” a memória das “mulheres invisibilizadas” durante e após a Revolução são os objetivos dos dois projetos de investigação da Universidade do Porto distinguidos no âmbito do concurso “O 25 de Abril e a democracia portuguesa”, cujos resultados provisórios acabam de ser divulgados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

Promovido pela FCT em colaboração com a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, este concurso vai financiar, com um montante de cerca de 500.000 euros, 20 projetos – selecionados entre 78 candidaturas – “de caráter exploratório diretamente relacionados com a conquista e construção da democracia no âmbito da Revolução de 25 de abril de 1974”.

Os projetos recomendados terão uma duração máxima de 18 meses e enquadram-se em linhas de investigação associadas à “participação cívica e política”, “descolonização e dinâmicas internacionais”; “tratamento arquivístico, digitalização e estudo de acervos documentais relativos ao 25 de Abril”; “criação e disponibilização de recursos educativos promotores do conhecimento e memória sobre o 25 de Abril”, entre outras.

A nova Geografia de Abril

Um dos projetos premiados – com 24.000 euros – será coordenado por Teresa Sá Marques, docente da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), e tem como título “50 anos do 25 de abril: as geografias das 50 dinâmicas sociais”.

Assumindo-se como “um projeto de investigação, de divulgação da cultura científica e de intervenção social e pedagógica “, o estudo “compromete-se a explorar as geografias variáveis que emergem das dinâmicas socioeconómicas e sociopolíticas territorialmente desiguais que ocorreram ao longo destes 50 anos”.

“É uma investigação com dupla intencionalidade: de memorial e de reflexão sobre o presente e o futuro do país democrático inaugurado com o 25 de abril de 1974”, refere a equipa de investigação, que trabalhará na identificação de “50 dinâmicas sociais, económicas e políticas, que serão analisadas e representadas para produzir sínteses cartográficas à escala local e regional, que façam emergir a diversidade de matrizes de mudanças”.

Em síntese, acrescentam os investigadores, “este é um projeto que foi desenhado com o intuito de contribuir ativamente para cumprir os objetivos do 25 de abril, refletindo o passado, para construir o futuro. Possibilita o acesso à informação e ao conhecimento sobre as dinâmicas dos últimos 50 anos, empodera as pessoas a partir do desenvolvimento de experiências educativas significativas e constrói pontes de aprendizagem intergeracionais”.

Mulheres Invisíveis no 25 de Abril e Além

“Porque a tua lição é esta: fazer frente”: Mulheres Invisíveis no 25 de Abril e Além – Um Estudo sobre a Participação e Contribuição das Mulheres das Classes Trabalhadoras e Populares nos Movimentos Sociais Portugueses (1972-1979) será por sua vez o mote do trabalho liderado por Maria José Magalhães, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP).

Distinguido com um financiamento de cerca de 25.000 euros, “este projeto de investigação tem como objetivo principal resgatar e documentar as contribuições das mulheres invisibilizadas durante o período do 25 de Abril e no pós-25 de Abril na história da democracia portuguesa (1972-1979) (…), destacando o papel fundamental dessas mulheres na transformação política e social do país”.

Mais concretamente, o estudo focar-se á “na historiografia das mulheres das classes trabalhadoras e populares e outros grupos subalternizados”, sendo dada “especial atenção” às mulheres associadas às comunidades caboverdianas, moçambicanas e angolanas, atendendo ao facto de as suas contribuições para a construção da democracia portuguesa terem sido ainda mais minimizadas ou ignoradas do que as das mulheres portuguesas”.

Para além do trabalho de “resgate histórico”, que envolverá a pesquisa em arquivos, jornais e outras publicações da época ou a recolha de depoimentos orais, o projeto pretende envolver também os mais jovens. Entre as atividades previstas incluem-se grupos de discussão sobre a participação das mulheres no 25 de Abril, e um conjunto de oficinas das quais resultará a “construção de um documento audiovisual didático sobre as mulheres e o 25 de Abril”.