Que seja um dia “inteiro e limpo”, como escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen, referindo-se ao “dia inicial” após “a madrugada que eu esperava”. Poema que intitulou com a data da Revolução. Chegados à semana em que se cumprem os 50 anos do 25 de Abril, o programa de comemorações preparado pela Reitoria da Universidade do Porto convida toda a comunidade a celebrar a liberdade.

A semana arranca logo no dia 22 de abril, na Casa Comum, com uma proposta do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP) e do Instituto de Filosofia (IF-UP). Associam-se a este programa “não apenas por razões políticas e sociais”, mas também porque “a Revolução permitiu a expressão de novas formas de pensamento e das mais variadas expressões da arte, da música, da poesia, da literatura, do cinema e do teatro, entre outras”.

O programa tem início às 14h30 com uma conversa José Soudo (ArCo) sobre A fotografia na Revolução. Do preto e branco à cor: as fotografias de Bernardino Pires e o 25 de Abril será ainda tema de conversa de Maria Luísa Malato (FLUP) e Paulo Gaspar Ferreira (In Libris). Às 16h30, colocam-se As Canções e as Armas em cima da mesa. Pretexto para ouvir Joana Gomes e Mariana Leite (IF-FLUP): Foi bonita a festa, ai amigo! – A lírica trovadoresca e os cantautores de Abril.

Às 17h30, vamos falar de cinema e experiência política com Sérgio Dias Branco (FLUC). Às 18h30, ficamos com 48, um documentário de Susana Sousa Dias  que procura mostrar os mecanismos através dos quais um sistema autoritário se tentou auto perpetuar em Portugal. Segue-se uma conversa sobre O que pode uma fotografia de um rosto revelar sobre um sistema político? , com a participação de Jorge Campos e Elsa Cerqueira, e com a presença da realizadora.

No dia 24, a programação retoma às 14h30, com a apresentação do livro Siga a malta, trema a terra, de Mário Correia. Uma hora depois, A Filosofia e o 25 de Abril é o tema para uma conversa com Artur Manso (Universidade do Minho). Às 16h25, o tema 25 de abril e inter-artes irá fazer sentar à mesma mesa Cristina Pratas Cruzeiro (UNL) e e Rui Lopo (IF-UP).

Durante a tarde, haverá ainda espaço para um momento musical e cinema. Serão exibidos dois filmes do realizador Abi Feijó: A noite saiu à rua (curta baseada no livro de João Abel Manta “Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar”, com música de José Afonso); e Os salteadores (baseado num dos contos de Jorge de Sena).

O realizador estará presente para uma conversa com Jorge Campos e Elsa Cerqueira. Os curadores deste programa multidisciplinar são Maria Celeste Natário, Vítor Guerreiro e Rui Lopo. A entrada é livre.

Os Salteadores, de Abi Feijó, passa na Casa Comum na tarde de 24 de abril. (Imagem: DR)

Dia 24 é ainda o dia em que o convidamos a dizer poesia na Sala do Fundo Antigo da Reitoria. Neste que é já o último dia da oficina de escrita criativa “Vem dizer o 25 de abril, pá “, os participantes podem contar com a leitura de textos provenientes das obras Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa; As Mulheres do meu País, de Maria Lamas; Apresentação do Rosto, de Herberto Hélder, entre outros. A participação é livre, mediante inscrição prévia.

No dia 25 de abril, Dia da Liberdade, o palco é todo de Sophia de Mello Breyner Andresen e o escritor, poeta e amigo Jorge de Sena. A partir das 18h00, a Nova Companhia leva a cena, na Galeria da Biodiversidade do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP), um dialogo ficcionado entre os dois escritores.

Em Um País que é Noite, vamos, em conjunto, imaginar um encontro entre ambos, exatamente no dia que antecede a fuja de Jorge de Sena para o Brasil. E que local poderia ser simbolicamente mais impactante, para este encontro, do que a casa onde Sophia passava as suas férias quando criança e a inspirou para tantas das suas aventuras imaginárias? A entrada é livre, mas sujeita a inscrição através do e-mail [email protected].

Dia 26, sexta-feira… É dia de ir ao “cinema” da Casa Comum ver Bela Vista. Ilha habitada, o documentário de Rui Rufino que acompanhou a reabilitação da ilha municipal da Bela Vista, na cidade do Porto, entre 2015 e 2017. Segue-se uma conversa com a participação do sociólogo Manuel Carlos Silva (CICS.NOVA-UM), do antropólogo Fernando Matos Rodrigues (CICS.NOVAUM / LAHB), do ativista António Fontelas (Associação de Moradores Ilha da Bela vista) e do arquiteto António Cerejeira Fontes (EAAD_UM / LAHB). A moderação ficará a cargo do sociólogo Fernando Bessa Ribeiro (ICS-UM / CICS.NOVA_UM).

Ilha Habitada, de Rui Gonçalves Rufino, acompanha a reabilitação da ilha municipal da Bela Vista, no Porto. (Imagem: DR)

E porque estamos quase a ver Maio a Nascer, o NEFUP – Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto junta-se à celebração da liberdade no final de tarde de 27 de abril. Entrevistas a elementos da associação foram a base para a construção narrativa de uma (ou muitas) TRAVESSIA(s): do passado ao presente; da ditadura à democracia; da guerra à paz; da emigração ao regresso; do salto a monte ao exílio; do Portugal ultramarino e orgulhosamente só ao país europeu de hoje.

Cruzando a música e a dança tradicionais com os poetas e cantautores de Abril, TRAVESSIA – maio a nascer faz um percurso pela memória, retratando o velho “Portugal suicidado”, confrontando-o com “tudo o que Abril abriu”, nas palavras de Ary dos Santos. O espetáculo tem início às 19h00, no Salão Nobre da Reitoria da U.Porto.

Dia 30 de abril, às 15h00, regressamos à Casa Comum para um debate sobre Democracia e Liberdade. Que Caminho para a Igualdade de Género? será o mote para um debate sobre os direitos das mulheres e o percurso rumo à igualdade de género. Reunindo a visão de duas associações feministas portuguesas, Cristina C: Vieira (APEM) e Manuela Tavares (UMAR) irão lançar uma reflexão sobre desafios e conquistas, o papel das associações de mulheres/de género/feministas e da sociedade nesta transformação rumo à equidade.

O evento é organizado pelo RESET – Redesigning Equality and Scientific Excellence Together, em parceria com a APEM e a UMAR, com o apoio da Casa Comum.

As iniciativas inseridas no programa dos 50 anos da Revolução de Abril têm entrada gratuita, limitada à lotação do espaço, embora algumas sejam de inscrição obrigatória.

Para além dos eventos organizados pela Reitoria (Casa Comum), os 50 anos da Revolução serão também celebrados um pouco por toda a Universidade. Do concerto da Capicua na Faculdade de Ciências ao Concerto dos Cravos na Faculdade de Medicina, com paragens para uma conversa no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, um debate sobre “Ciência e Liberdade” no Planetário do Porto – Centro de Ciência Viva e uma tarde de atividades na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, são muitas as propostas abertas a toda a comunidade.