Noémia Herdade-Gomes, investigadora do Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (CEAU-FAUP), e docente de desenho na FAUP, concebeu um conjunto de filmes a partir do acervo gráfico e cinematográfico do artista sul-africano William Kentridge, um dos nomes de maior destaque no panorama internacional da arte contemporânea.

É no âmbito do pós-doutoramento a decorrer no ID+ (Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura), da Universidade de Aveiro, que Noémia Herdade-Gomes com Francisco Providência (supervisão científica), professor do Departamento de Comunicação e Arte da UA (DECA-UA) e membro do ID+ UA, escreveu o guião de “Máquinas Criativas”. Esta série de filmes trata de forma inédita os métodos criativos presentes nos acervos gráficos e cinematográficos de William Kentridge, editados em vídeo por Cunha Pimentel e disponibilizados, desde agosto de 2023, no website do artista (secção Cabinet).

Na tradição da cultura ocidental, o desenho é sempre produzido com auxílio a ferramentas (máquinas) para “re-presentar” (simular presença ou reproduzir); Kentridge desenvolve um parque tecnológico de máquinas criativas para “a-presentar” (tornar presente ou produzir), invertendo assim a submissão clássica ao modelo, para abrir a experiência do desenho à participação do outro e do acaso.

Deste modo, Kentridge recorre a uma diversidade de máquinas criativas para a realização do seu trabalho. Repensou metodologicamente o desenho como processo inacabado, meio de recolha e geração de iconografia (mediada por diferentes tecnologias), com o objetivo de maximizar a amplitude narrativa que ultrapassa os limites da representação gráfica, recorrendo ao som e à cinematografia.

Na investigação à sua obra, é proposta uma taxonomia documental para identificar diferentes estratégias empregues pelo artista na produção de “imagens-ideias”. Estes filmes são um ensaio demonstrativo do conteúdo do livro com o mesmo nome (no prelo), que se centra na interpretação do trabalho de Kentridge como sistema criativo para a produção artística (através do desenho), que se pensa poder contribuir para outros domínios criativos.

A série de filmes “Máquinas Criativas” trata de forma inédita os métodos criativos presentes nos acervos gráficos e cinematográficos de William Kentridge, disponibilizados pelo artista, desde agosto de 2023, no seu website. (Foto: DR)

Noémia Herdade-Gomes colaborou com William Kentridge na criação de uma base de dados com mais de cinco mil documentos, que serviu de suporte documental à sua tese de doutoramento em desenho, defendida na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona (2011) e premiada por aquela Universidade.

Os filmes foram produzidos com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia através das unidades de investigação CEAU-FAUP e ID+ UA.

Sobre William Kentridge

Nascido em Joanesburgo em 1955, William Kentridge é um artista gráfico, cineasta e ativista das artes teatrais, especialmente conhecido por uma sequência de filmes de animação desenhados à mão que produziu durante a década de 1990.

Com formação em estudos políticos e africanos e em belas artes, é hoje uma figura de referência nas artes performativas, particularmente pelas suas encenações inovadoras das óperas The Nose (2010) e Lulu (2015) na Metropolitan Opera de Nova Iorque, e Wozzeck (2017), no Festival de Salzburgo.

William Kentridge participou da Bienal de Veneza (1993, 1999, 2005 e 2015), e da Documenta de Kassel, na Alemanha (1997, 2002, 2012). Em 2018, foi distinguido com o prestigiado Prémio Princesa de Astúrias das Artes.