Do teatro à música, passando pelo desenho, museologia e até à botânica, há combustível novo para ajudar os estudantes da Universidade do Porto a pensar “fora da caixa”. São unidades curriculares de competências transversais, valem 3 ECTS, e vão colocar os participantes dentro de algumas das principais instituições culturais da cidade.

Resultado de uma colaboração entre a Reitoria da U.Porto e o Teatro Nacional São João, o Museu Nacional de Soares dos Reis e a Casa da Música, bem como com o Jardim Botânico e a Faculdade de Belas Artes (FBAUP), este programa inovador vai arrancar no segundo semestre deste ano letivo, e dirige-se aos estudantes de licenciatura e mestrado interessados em abrir perspetivas para além da clássica formação de base. As inscrições decorrem até 31 de janeiro.

Para Fátima Vieira, Vice-Reitora da U.Porto para a área da Cultura, estas novas unidades curriculares transversais são  ferramentas de aprendizagem que vão permitir “um entendimento mais profundo dos discursos artísticos aos quais, através do Corredor Cultural, os estudantes passam a ter um acesso privilegiado”,

Um Corredor Cultural que materializa “a estratégia de afirmação de uma cultura universitária simultaneamente artística e científica. Que seja abrangente, democrática, tolerante e inclusiva. É assim que pensamos a universidade europeia de futuro”, acrescenta a responsável.

Conhecer por dentro o teatro, o museu e a Casa da Música

Volta ao Palco em 80 horas: o Teatro como espaço de aprendizagem é a proposta que vai levar os estudantes ao Teatro Nacional de São João (TNSJ) para os ajudar a compreender, tanto no plano íntimo como político, “por que razão o teatro é uma máquina para ver o mundo”, explica Pedro Sobrado, presidente do Conselho de Administração do TNSJ.

Trabalhando com encenadores e atores, da leitura de obras dramáticas à análise crítica de espetáculos, espera-se que os estudantes façam “um percurso entre aquilo que desconhecem e aquilo que só eles podem descobrir, aventurando-se na floresta dos signos do teatro”, remata. A docente responsável pela unidade é Maria Luísa Malato, da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP).

O Teatro Nacional de São João será uma das novas “salas de aula” dos estudantes da U.Porto. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Do TNSJ  à Casa da Música faz-se, por sua vez, o caminho até Música e Sociedade, um programa que dá a conhecer as “entranhas da Casa”, como nota Jorge Prendas, o Coordenador do Serviço Educativo da instituição sediada no edifício projetado pelo arquiteto Rem Koolhaas. É uma oportunidade, sublinha o responsável, para acompanhar músicos, compositores, maestros e programadores, tendo acesso a “ferramentas” que vão permitir uma melhor “fruição musical”. Gilberto Bernardes, da Faculdade de Engenharia da U.Porto, coordena a disciplina.

Da conservação e restauro à comunicação, passando pela programação, pela gestão financeira e pela gestão de recursos humanos é ampla, e muitas vezes desconhecida, a diversidade de áreas que a museologia abrange. Ora, “levar os estudantes a percorrerem todas esta áreas” é, precisamente, a proposta do Museu Nacional de Soares dos Reis através da unidade curricular O Museu como Lugar de Fruição.

Espera-se que esta seja uma oportunidade para “capacitar novos públicos”, diz-nos o diretor do museu, conseguindo também “gerar novos intermediários de comunicação” acrescenta António Ponte. Hugo Barreira, da FLUP, é o docente associado ao projeto.

Desenhar o corpo, como se desenha um jardim

O “contágio” das medicinas com outras áreas como, por exemplo, a poesia não é recente. Quando foi mobilizado para a Guerra Colonial, o médico Jorge Ginja, formado  pela U.Porto, incluiu na bagagem alguns objetos pouco comuns. Um gravador e bobines com poemas declamados (em 1969) ajudaram-no a suportar os dois anos que esteve em Cabinda (Angola). Ditos por quem? Por outro estudante da academia (curso de História), também apaixonado por poesia. Na altura com 21 anos, foi o amigo Mário Viegas quem deu voz aos poemas que o médico, futuro delegado regional de Cultura do Norte, quis ouvir, durante a guerra.

Sendo a poesia uma disciplina que os estudantes de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) já têm, a U.Porto aposta agora no desenho como ferramenta pedagógica que ajuda a visualizar, a memorizar e a compreender melhor. Desenho e Observação para Médicos é o nome da unidade transdisciplinar que vai levar os estudantes das faculdades de Medicina e de Medicina Dentária, bem como do ICBAS (Medicina), até às salas da Faculdade de Belas Artes. Mário Bismarck é o docente responsável pelo projeto.

Por fim, rumamos ao Jardim Botânico da U.Porto (MHNC-UP) para saber mais sobre O desenho e o cultivo da biodiversidade. Não sendo o contacto com a natureza uma realidade presente no dia-a-dia de todos, nem o cultivo da biodiversidade, esta unidade curricular é uma sugestão pensada para a “promover a literacia científica dos estudantes”, refere o diretor do Jardim Botânico, Paulo Farinha Marques.

Vamos descobrir novas espécies? Perceber como funcionam os ciclos de vida de uma planta? Aprender a desenhar espaços verdes? O convite é feito pelo diretor do Jardim.

Como participar?

Os estudantes interessados devem inscrever-se – até 31 de janeiro – e integrar estas unidades curriculares – que valem 3 ECTS – na componente opcional do curso de licenciatura ou mestrado, ou como complemento de formação, independentemente da  área de estudos.

A exceção é o “curso” de Desenho e Observação para Médicos que é destinado, primordialmente, a estudantes de Medicina, Medicina Dentária e Medicina Veterinária.

Mais informações e inscrições aqui.