Quando Roberto Vaz, finalista do Programa Doutoral em Media Digitais na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), publicou um artigo no ano passado sobre a falta de acessibilidade nas visitas a museus para pessoas com deficiência visual – cegueira ou baixa visão –, não imaginou ser premiado com o “International Award for Excellence for The Inclusive Museum Research Network”.

O trabalho do estudante e investigador foi selecionado de entre os dez artigos com maior classificação do The International Journal of the Inclusive Museum, valendo-lhe um lugar como orador na International Conference on the Inclusive Museum 2021, a decorrer em Lisboa de 8 a 10 de setembro de 2021, assim como a transformação do seu artigo em formato livro.

Recorrendo a literatura internacional sobre experiências de visitantes com deficiência visual, Roberto Vaz apresenta uma abordagem com uso de tecnologias assistivas e interativas em museus, contribuindo para a melhoria do acesso intelectual, sensorial e físico (mobilidade e orientação) durante a visita.

Foi através de um trabalho empírico de investigação internacional, realizado num museu no Brasil, que o autor adquiriu interesse pela temática e compreendeu a importância do contributo deste tipo de tecnologias, surgindo, assim, “a necessidade de organizar as diversas soluções de forma sistematizada”, algo que não acontecia previamente em espaços museológicos.

Encetando uma investigação em 2017 que contou com a participação de mais de 70 pessoas com deficiência visual provenientes de 10 instituições a nível nacional, concluiu que este tipo de público recorre, maioritariamente, a visitas organizadas e com agendamento prévio em contexto de associações ou escolas, ao invés de visitas espontâneas nas quais têm menor acesso em termos de experiência sensorial e intelectual.

“Apercebi-me de que certos métodos não estavam a ser pensados para o público com deficiências diversas, sendo muitas vezes analógicos e não inclusivos, uma vez que os museus e outros espaços de exposição tendem a ser altamente visuais. Novas tecnologias poderão introduzir perspetivas relevantes para o setor, levando à evolução positiva de experiências de visita até para o público em geral”, explica Roberto Vaz.

Da teoria à prática

Foi através da sua bolsa de doutoramento na FEUP, financiada pelo Norte 2020, que Roberto Vaz viu a oportunidade de fazer a diferença com aplicações práticas no seio das instituições museológicas. A exposição “Mistérios da Arte de Curar: Uma experiência multissensorial por 5000 anos de história”, resultado de uma parceria entre a FEUP e o Museu da Farmácia do Porto, é um exemplo disso, estando toda a concetualização, produção e montagem da exibição a cargo do investigador.

Com abertura agendada para o próximo dia 5 de abril, esta exposição interativa retrata a história da saúde e da farmácia, de luta contra a doença e de procura da cura na ciência e na religião. Para tal, procura apelar aos múltiplos sentidos humanos através de réplicas de artefactos que, ao serem manuseados, contam a sua história ao visitante.

Museu da Farmácia do Porto. (Foto: MFP)

Para além da experiência amplamente inclusiva, para a qual Roberto Vaz contribuiu ainda na impressão 3D de objetos da coleção do museu e na prototipagem de expositores interativos, está a ser desenvolvida, em parceria com uma colega do Programa Doutoral, Maria Van Zeller, uma aplicação móvel que recorre à técnica de realidade aumentada, envolvendo igualmente o público normovisual.

A exposição estará aberta ao público até ao dia 17 de abril no Museu da Farmácia do Porto. A entrada será gratuita, mas sujeita a marcação prévia devido ao contexto atual de pandemia.