Uma equipa de investigadores da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) e do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho está a desenvolver um estudo sobre os Fojos do Lobo da Serra da Peneda, com o objetivo de contribuir para a preservação daquele património vernacular em pedra seca do Noroeste de Portugal de elevado valor cultural.

Os fojos do lobo são antigas estruturas vernáculas construídas em alvenaria de pedra, utilizadas até meados do séc. XX para a captura e controlo das populações de lobos. Recorrendo por vezes à utilização de vários em simultâneo, estas caçadas eram momentos de grande envolvimento comunitário e de grande simbolismo para as comunidades que ocupavam estes territórios. Na Península Ibérica encontramos uma forte presença e diversidade deste tipo de estruturas.

Numa primeira fase do trabalho de campo, que decorreu nos dias 16 e 17 de julho, a equipa, constituída por Clara Pimenta do Vale, Fernando Cerqueira Barros, Carlos E. Barroso (FAUP), Eduardo B. Pereira  e Daniel V. Oliveira (Departamento de Engenharia U.Minho), analisou duas tipologias distintas de fojos usadas pelas populações locais para gerir a presença do lobo no seu meio.

Os trabalhos realizados incluíram a recolha de informação morfológica e tipológica das estruturas em estudo e do seu território envolvente, complementadas com análises construtivas e ao seu estado de preservação. Foi ainda recolhida informação digital com vista à construção de modelos virtuais.

Um património de “elevado valor cultural tangível e intangível”

Com “uma presença incontornável na paisagem”, tanto o Fojo da Cabrita (Gondoriz) como o Fojo de Seida (Gavieira), ambos no concelho de Arcos de Valdevez, “são exemplares de património vernáculo de elevado valor cultural tangível e intangível, sendo exemplos de inegável autenticidade e da identidade das comunidades locais e das suas práticas comunitárias na construção e gestão do território”, destaca a equipa de investigação.

Com o apoio do Município de Arcos de Valdevez, o estudo das estruturas vai permitir “compreender as estratégias de implantação no território e relação com as paisagens pastoris da alta montanha Arcuense”, explicam os investigadores, “assim como a elevada flexibilidade da técnica da alvenaria em junta seca, adaptação às condicionantes do território e às caraterísticas do granito existente, e elevada resiliência das estruturas resultantes”.

No âmbito deste projeto, serão desenvolvidos conteúdos em diversos formatos, capazes de contribuir para a divulgação do conhecimento deste tipo de património. Pretende-se desta forma promover a preservação dos fojos do lobo junto da comunidade local e dos diferentes públicos que visitam aquele território, inserido no Parque Nacional Peneda-Gerês, declarado como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO.

Este trabalho dá também seguimento a outros já realizados pela equipa nesta área de montanha, em que se destaca a campanha de 2014-2016 focada nas brandas de Sistelo e no estudo das estruturas pastoris em falsa cúpula.