Os ventos dão uma ajuda, é verdade… Mas todos sabemos que é aos cupidos que cabe, realmente, fazer o trabalho, e cupidos sem asas, ninguém conhece! Os “facilitadores” deste “poliamor” são pássaros e insetos sendo que, neste caso, o foco será em insetos. Ora, já se percebeu. Para o mês de maio, o tema que o Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP) vai explorar é a biodiversidade e a polinização. O que vamos, então, encontrar no hall de entrada do Edifício Histórico da Reitoria a partir do dia 3 de maio? Dois exemplares de plantas, provenientes do herbário e alguns pares de asas que, se voassem, as fariam multiplicar.

The birds and the bees

Há muito que cantarolámos “The birds and the bees / and the flowers and the trees”, em simultâneo, imaginamos um cenário romântico, ao luar “And the mood up abo-ve / And a thing called lo-o-ove”… Imortalizada, nos anos 1960, por Jewel Akens, está há muito tatuada no nossa ADN esta visão da partilha e comunhão entre as espécies para que possamos aceder à proliferação das plantas, dos frutos, do mel e da nossa própria sobrevivência. Entre plantas e cupidos com asas, continua a ser uma história de amor, a que temos pela frente…

Para dar forma a este segundo capítulo do “Breviário” do MHNC-UPCristiana Vieira, curadora do Herbário e José Manuel Grosso-Silva, curador das coleções entomológicas do museu, procuraram exemplos que ilustrassem relações entre a flora e a fauna e a biodiversidade. No fundo, de polinização.

Procuraram “pares dinâmicos”, dizem-nos Cristiana Vieira e José Grosso. Escolheu-se, então uma espécie de orquídea, a erva-abelha (Ophrys apifera) e pensou-se em duas hipóteses de abelhas que a polinizam. Optou-se ainda por outra planta, a Stramonium, invasora, que é polinizada por uma borboleta noturna.

José Grosso e as abelhas. (Foto: DR)

A borboleta faz parte de uma coleção, com mais de 17 mil exemplares, que foi doada ao MHNC-UP em 2016. Integram esta coleção insetos de vários grupos, principalmente provenientes de Portugal e angola.

Já as abelhas foram recolhidas pelo próprio curador, José Grosso. Uma delas já está com o curador há cerca de vinte anos, sendo que a outra foi colhida mais recente, ambas na zona do grande Porto com o objetivo é conhecer as espécies da região.

As plantas, explica Cristiana Vieira, são normalmente coletadas “em campanhas de investigação, no campo, para se conhecer a flora de um determinado local”, ou então, resultam de colheitas de sementes para identificação das plantas mais comuns em território nacional. Este material serve também para efetuar trocas com outros Jardins Botânicos. O exemplar da orquídea resultou dessa colheita de sementes nativas.

A outra planta chegou até ao MHNC-UP nos anos 1960, através de um registo furtuito. Foi colhida ali para os lados da Ponte da Arrábida, onde abunda, nas escarpas junto à Ponte. Falámos da Stramonium. A polinização chega também via os “ventos marítimos” e de outras “colonizações esporádicas, mas densas do Grande Porto”, acrescenta a curadora. Este exemplar chegou até ao Museu pela mão de Arnaldo Deodato da Fonseca Rozeira, um professor, que foi também diretor do Jardim Botânico da U.Porto e do Herbário.

Estes exemplares que fazem parte das reservas do MHNC-UP  estarão então visíveis no átrio de entrada do Edifício Histórico da Reitoria da U.Porto durante o mês de maio.

Para conhecer outros objetos, basta aventurar-se Nos Bastidores do Museu , agendando uma visita às Reservas de Zoologia, Arqueologia e Etnografia, e Herbário.