Uma tese de doutoramento da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) comprovou que os efeitos da seca severa provocam uma queda no funcionamento dos ecossistemas das florestas ripícolas, localizadas junto aos rios, o que compromete a mitigação das alterações climáticas, tendo em conta a previsão de secas mais frequentes e intensas. Este trabalho, recentemente premiado pela Associação Ibérica de Limnologia (área de estudo científico de lagos, rios, estuários e zonas húmidas), aponta também medidas e áreas prioritárias para intervenção e restauro. 

Na sua tese, a investigadora Ana Paula Portela centrou-se na análise de eventos de seca de 2017, que contribuíram para os grandes incêndios que ocorreram nesse ano. Examinou, através de imagens de satélite, o funcionamento das florestas ripícolas entre 2016 e 2021 e percebeu que um dos efeitos da seca extrema pode mesmo ser a redução de produtividade das florestas.

“Conseguimos perceber que, ao fim de três anos, as florestas ripícolas ainda não tinham regressado a valores anteriores à seca”, descreve a investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO). 

No âmbito do doutoramento em Biodiversidade, Genética e Evolução, concluiu, por exemplo, que as florestas ripícolas com maior diversidade de alturas são as que apresentam maior resistência aos efeitos da seca.

Assim, uma das medidas que apresenta é a aposta na variabilidade estrutural e funcional destas florestas. “Pelos nossos resultados percebemos que ajuda a contribuir para a maior resistência dos ecossistemas a eventos extremos”, conta. 

A floresta ribeirinha nas margens do Rio Sousa foi um dos locais estudados no âmbito da tese de doutoramento de Ana Portela. Foto: Ana Paula Portela

A investigadora apresentou ainda, na sua tese, algumas zonas em Portugal que necessitam de intervenção para restauro e sugere medidas de planeamento do território. “As zonas mais vulneráveis são as que, muitas vezes, são simplificadas para usos agrícolas ou urbanos e acabam por ter poucas árvores junto ao rio”. São, por exemplo, as áreas de curso médio dos rios de noroeste, refere. 

Estas florestas têm um papel importante na mitigação e adaptação às alterações climáticas. “É importante promover sinergias e tomar medidas de planeamento do território para ajudar a melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos”, defende Ana Portela, que analisou um total de 49 locais no Norte de Portugal. 

Para além da captura de carbono, estas florestas também promovem a manutenção das redes tróficas aquáticas, uma vez que são uma importante fonte de matérias orgânica para os ecossistemas aquáticos. São também responsáveis pela retenção de sedimentos e controle da erosão, funcionando a vegetação como uma espécie de rede que os impede de chegar à água dos rios. Para além da redução de cheias, têm ainda uma importante função de regulação microclimática, proporcionando a canópia das árvores abrigo a vários organismos e atenuando os efeitos das ondas de calor na água.

Ana Paula Portela quer dar seguimento a este estudo que apenas se aplica à zona Norte do país. Para além de avaliar os efeitos a Sul, onde a seca é ainda mais severa, pretende também usar os dados de satélite para recuar no tempo e avaliar se a dificuldade de recuperação das florestas se deve a secas recorrentes. 

Ana Paula Portela é doutorada em Biodiversidade, Genética e Evolução pela FCUP. (Foto: DR)

A tese de Ana Paula Portela, “Linking biodiversity, ecosystem services, and ecological stability for river ecosystem sustainability”,  foi orientada pelo docente da FCUP e também investigador no BIOPOLIS, João Honrado, por Cristiana Vieira, Técnica Superior no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, e por Isabelle Durance, Diretora no Cardiff University Water Research Institute.  

Ana Paula Portela licenciou-se em Biologia, em 2012, seguiu para o Mestrado em Ecologia, Ambiente e Território, que concluiu em 2014. Em 2017, deu início ao Doutoramento em Biodiversidade, Genética e Evolução, tendo terminado em 2023.