O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) vai homenagear, no próximo dia 14 de julho, terça-feira, a investigadora e imunologista Maria de Sousa, falecida no passado mês de abril.

Com transmissão em direto, a partir das 12h00, na página oficial de Facebook do i3S, a sessão de homenagem contará com a intervenções de Claudio Sunkel, diretor do i3S, Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto, e Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior. Pela tribuna passarão ainda Alexandre Quintanilha, ex-diretor do ICBAS e deputado na Assembleia da República, Manuel Sobrinho Simões, diretor do Ipatimup, e Graça Porto, investigadora e colaboradora de longa data com a homenageada.

Para Claudio Sunkel, “trata-se de uma homenagem devida, não só por Maria de Sousa ter sido uma das mais importantes investigadoras da instituição, mas também porque foi uma pedra basilar na construção da ciência em Portugal”.

Dadas as contingências do momento, continua o diretor do i3S, “só agora a cerimónia poderia ter lugar, e os convidados presentes serão muito poucos se considerarmos o merecimento que Maria de Sousa nos exige. Porém a tecnologia permite que vários assistam, pelo que gostaria de estender o convite para assistirem online à cerimónia”.

A homenagem terminará com o descerramento do nome de Maria de Sousa na biblioteca do i3S e com uma breve visita a alguns expositores onde se reuniram algusn objetos pessoais do último gabinete de Maria de Sousa no i3S. Peças que, “de uma forma simbólica, ilustram as facetas da cidadã Maria de Sousa enquanto mulher na ciência, na educação, na cultura e na defesa da liberdade”, salienta Claudio Sunkel.

O descerramento do nome e a visita aos expositores não será transmitida online, mas os expositores ilustrativos ficarão permanentemente na biblioteca, pelo que podem ser visitados por todos os interessados.

A cerimónia culminará com a atribuição do nome de Maria de Sousa à biblioteca do i3S. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Professora Emérita da Universidade do Porto e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), e Investigadora Honorária do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), Maria de Sousa faleceu no passado dia 14 de abril, aos 81 anos de idade, vítima de Covid-19.

Uma das primeiras mulheres portuguesas a serem reconhecidas internacionalmente pelas suas descobertas científicas, Maria de Sousa (1939-2020) notabilizou-se pelas cruciais contribuições que deu para a definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunitário.

Considerada uma mulher de Ciência, Maria de Sousa deixa, contudo, um legado que vai muito para além das descobertas científicas. Em paralelo, desempenhou igualmente um papel fundamental no desenvolvimento do sistema científico nacional e na criação de toda uma nova geração de cientistas portugueses. Na verdade, muitos dos que estão hoje na linha da frente da investigação do vírus que assola o mundo foram seus estudantes, ou seus discípulos.

Sobre Maria de Sousa

Nascida em Lisboa em 1939 e licenciada em Medicina em 1963, Maria de Sousa cedo deixou o País para prosseguir a sua carreira académica científica em Inglaterra, Escócia e Estados Unidos, onde dirigiu  o Laboratório de Ecologia Celular do prestigiado Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova Iorque. Foi nessa fase que se distinguiu internacionalmente enquanto autora de vários artigos científicos fundamentais para a definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunológico, entre os quais o que consagrou a descoberta da área timo-dependente (1966), hoje conhecida universalmente por área T.

Foi precisamente o seu trabalho em doentes com hemocromatose hereditária que trouxe Maria de Sousa para o ICBAS em 1985, para fundar o Mestrado em Imunologia. Enquanto docente e investigadora da U.Porto, foi responsável pela constituição de uma equipa de investigação nova no campo da hemocromatose, repartida pelo ICBAS, pelo Hospital Geral de Santo António e pelo então novo Instituto de Biologia Celular e Molecular (IBMC).

Em 1996, encabeçou a criação do Programa Graduado em Biologia Básica e Aplicada (GABBA), um programa pioneiro em Portugal, resultado da colaboração entre o ICBAS, as faculdades de Ciências (FCUP) e de Medicina (FMUP), o IBMC, o Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) e o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (IPATIMUP) da U.Porto (estes três últimos, integrados atualmente no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto).

Condecorada pela Presidência da República Portuguesa em três ocasiões (Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 1995, Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada em 2012 e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada em 2016, Maria de Sousa recebeu inúmeras distinções nacionais e internacionais. Entre as mais relevantes incluem-se o Grande Prémio Bial de Medicina (1995), o prémio “Estímulo à Excelência”, atribuído pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2004), o Prémio Universidade de Coimbra (2011), o Prémio Universidade de Lisboa, em 2017, ou o Prémio Mina Bissel, em 2018.

Em outubro de 2009, assinalou a sua jubilação como Professor Catedrática do ICBAS com uma Última Aula no Salão Nobre da Reitoria, o mesmo local onde, um ano mais tarde, lhe seria confiado o título de Professora Emérita da Universidade do Porto.