As temperaturas vão subir e, com elas, a predisposição para sair à noite e ver um filme ao ar livre, ouvir poesia, participar de um debate, assistir a um concerto ou a uma peça de teatro… E se pudesse fazer tudo isso em pleno centro do Porto, num local histórico e com entrada gratuita? Passa por aí a proposta – ou melhor, as mais de 20 propostas – de mais uma edição das Noites no Pátio do Museu, o programa cultural que convida a usufruir das noites de julho – de terça-feira a sábado, sempre às 21h30 – no Pátio do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP).

O primeiro dia, 1 de julho, calha a uma sexta-feira. Depois do jantar, é, ou não, uma boa hora para ir ao cinema? Proposta: 200 Motels, filme de 1971, assinado por Frank Zappa e Tony Palmer. Continuamos com Whatever happened do Vileness Fats? (1984), de The Residents e Graeme Whifler.

Estas sessões marcam o arranque do ciclo Lo-Fi Rock ‘n’ Roll Remix, integrado no programa Kino-Doc que entra em diálogo com a conferência internacional de subculturas KISMIF. Passamos a explicar. Lo-fi significa “low-fidelity” (o contrário de “high-fidelity”). A denominação Lo-fi Music nasce nos anos 1980 associada à música feita em casa, inspirada pela filosofia punk Do It Yourself. De “má qualidade”, tantas vezes gravada entre as quatro paredes de um quarto, passou mais tarde a influenciar gravações de bandas de garagem. Fala-se em fotografia lo-fi, em cinema de ficção científica lo-fi, e menos em cinema lo-fi. Ao todo, vão passar pelo Pátio do Museu oito filmes lo-fi com emblemáticas “imagens pobres” do rock ‘n’ roll e seus arrabaldes.

Sábado, 2 de julho, vai querer abrir bem os olhos para que nada lhe escape. Este é, por excelência, um espaço em que cultura e natureza se entrelaçam. Um dos mais importantes acervos de plantas vivas do mundo num ambiente que sintetiza a vida e o espírito criativo de um artista e paisagista. De quem falamos? Roberto Burle Marx.

Nas expedições que fez de Norte a Sul do Brasil, na Caatinga, no Pantanal, na Amazônia ou na Mata Atlântica, identificou centenas de novas espécies, coletou e criou uma das mais importantes coleções de plantas tropicais e semitropicais do mundo. A grande obra que deixou é o Sítio Burle Marx. Vai perceber o privilégio que é acompanhar as Expedições Burle Marx, uma série documental que, este sábado, projeta Coleção, o primeiro episódio.

Localizado no bairro de Barra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o “Sítio Roberto Burle Marx” é a grande obra deixada pelo artista brasileiro. (Foto: DR)

No domingo, 3 de julho, à noite, vamos ao Teatro. Trata-se da estreia do ciclo de performances que o Teatro Universitário do Porto (TUP) nos vai trazer ao longo de todo o mês. O propósito é ambicioso: fazer Despertar.

Depois de uma pausa na segunda-feira, que se repetirá ao longo de todo o mês, a noite de 5 de julho traz “poesia imersiva” pela voz de Cláudia R. Sampaio, protagonista de mais uma sessão do ciclo Ouvir, 59 minutos de Imersão Poética, promovido em parceria com a Porto Editora.

Natural de Lisboa, onde vive com Polly Jean e Aurora, duas gatas, Cláudia S. Sampaio (1981) já lançou seis livros de poesia: Os dias da Corja; A primeira urina da manhã; Ver no escuro; 1025mg; Outro nome para a solidão e Já não me deito em pose de morrer. Também está publicada no Brasil com a trilogia ‘Inteira como um coice do Universo’ (Edições Macondo).

Sobre a pintora e poeta, Válter Hugo Mãe diz-nos que “não se ergue panfletária”, mas “numa urgência íntima que não teme expor, usando sua vulnerabilidade para força, como alguém que mapeia as feridas procurando cicatrizá-las, e também glorificá-las, com o verso”. Embora toda a poesia abeire a terapêutica, acrescenta o escritor, neste caso “é fundamental, inclusive como forma de classificar cada detalhe do mundo, como protesto e como alegria do possível. A loucura e a terapia são íntimas e fertilizam, a um tempo, o pensamento e a sabedoria”.

A sessão encerrará com uma conversa com Cláudia S. Sampaio, liderada por Fátima Vieira, a Vice-Reitora da U.Porto com o pelouro da Cultura.

Cláudia R. Sampaio é a protagonista da próxima edição de “Ouvir, 59 minutos de imersão poética”.

Quarta-feira, 6 de julho, a proposta passa por conhecer um animal que, mesmo com uma crise de identidade, conquistou meio mundo. De quem falamos? Da Hemidactylus mabouia. Ou melhor, da lagartixa-doméstica-tropical ou lagartixa de parede. Originária do continente africano, durante os séculos XVI e XVII, à boleia das caravelas e das naus portuguesas, fez viagens transatlânticas e estabeleceu-se no continente americano. É das espécies mais disseminadas do planeta. Investigações recentes permitiram concluir que, afinal, em vez de uma são mais de 20 espécies! Este é só um aperitivo. Luís Ceríaco, curador-chefe do MHNC-UP, vai explicar a importância das coleções dos museus de história natural para este tipo de descobertas.  

Quinta-feira, 7 de julho, é noite de Música na Cidade. E se durante a Temporada Cruzada França – Portugal 2022, músicos dos dois países se juntassem? É precisamente isso que o Quatuor Brevi vai fazer no Pátio do Museu.

Sexta-feira, 8 de julho, vamos ao cinema e a um concerto. É isso: Um Cine-Concerto. Prontinhos na bobine vão estar filmes do cineasta e ilusionista parisiense George Méliès. Este precursor do cinema recorreu a fotografias e técnicas inovadoras para criar efeitos especiais.  A Viagem à Lua (1902) é o filme mais conhecido do “pai do cinema de ficção científica”.

A acompanhar as aventuras ilusionistas de George Méliès vai estar José Valente, considerado um dos mais inovadores violetistas atuais. Depois de várias experiências enquanto improvisador e músico de jazz, foi solista no Carnegie Hall e tocou com algumas das maiores figuras do jazz internacional. Os mais recentes álbuns foram aclamados pela crítica. Serpente Infinita, editado pela Respirar de Ouvido, de 2018, foi inspirado na poesia de Ana Hatherly e galardoado com o Prémio Carlos Paredes.

A Viagem à Lua (1902), obra prima de George Méliès vai iluminar a sétima noite das Noites no Pátio do Museu. (Foto: DR)

No sábado, dia 9 de julho, regressamos a Burle Marx para lhe conhecer a faceta de Paisagista. Homem de muitos talentos, foi pintor,  escultor, músico e um visionário. Transformou o paisagismo em arte e introduziu a ecologia nos projetos para jardim. De Miami ao Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte, Brasília e São Paulo, a sua obra está espalhada pelo mundo.

Domingo, 10 de julho, vamos voltar a Despertar na companhia do TUP.  E fica o aviso: este é um espaço de liberdade para “consciencializar e fazer emergir assuntos perdidos no sonambulismo dos últimos dois anos”. Curioso? É vir até ao Pátio do Museu no domingo, dia 10 de julho, às 21h30.

“Despertar” é o título do ciclo que o TUP vai apresentar nas Noites no Pátio do Museu. (Foto: TUP)

Resultado de uma iniciativa conjunta da Casa Comum da U.Porto e do MHNC-UP, as Noites no Pátio do Museu tiveram a sua primeira edição em 2020, durante o pico da pandemia de Covid-19. Uma condicionante que não impediu o sucesso de uma iniciativa – repetida em 2021 – que provou que “A Cultura faz bem à saúde!”.

Resta reforçar que as Noites no Pátio do Museu 2022 têm sempre início às 21h30. A entrada é livre – ainda que limitada à lotação do espaço – e far-se-á pelo Jardim da Cordoaria.