Quando, no passado dia 22 de março, subiu até à mesa do Salão Nobre da Reitoria para receber o Prémio de Excelência Científica da Universidade do Porto 2024, Victor Freitas não ia sozinho… “Estes prémios, apesar de terem um caráter individual, dependem de um coletivo já que a Ciência não se faz sozinha. Neste sentido, o meu sucesso expressa o sucesso de todos os investigadores com quem tenho vindo a trabalhar”, apresenta-se o Professor Catedrático do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências (FCUP) e investigador do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV/REQUIMTE).

Falar do percurso de Victor Freitas confunde-se com a história recente da própria Universidade. Licenciado em Química pela FCUP (1989), doutorou-se em Ciências Biológicas e Médicas em Bordéus. Em 1995, regressa definitivamente a Portugal, e à FCUP, para se afirmar como uma referência nacional e internacionais nas áreas da Química e Bioquímica dos alimentos e, em particular, no domínio dos compostos polifenólicos, de que foi um dos grandes impulsionadores.

“Sempre senti existir dentro da estrutura da Universidade um enorme potencial de conhecimento nesta área dispersa por várias instituições e um espaço para crescer e beneficiar destas estruturas contribuindo para solidificar a posição da U.Porto neste domínio”, afirma o atual coordenador da linha de Tecnologia e Qualidade Alimentar do LAQV/REQUIMTE e líder do grupo “Food Polyphenol Lab”, integrado naquele laboratório.

Também por isso, a conquista do Prémio de Excelência Científica assume um sabor especial: “É da maior importância. Trata-se de um prémio de reconhecimento da excelência por parte da nossa instituição”. Mas não só. “Por vezes é mais fácil sermos reconhecidos lá fora do que na nossa própria casa. Dá-nos algum alento saber que temos colegas que reconhecem a dedicação e o impacto do nosso trabalho”.

É de resto ao “espírito cooperativo e de integração” existente no ecossistema científico da U.Porto que Victor Freitas atribui grande parte do sucesso que tem permitido  afirmar a Universidade no “top mundial” da Ciência e Tecnologia Alimentar. E cita Stephen Hawking como inspiração: “«As grandes conquistas da humanidade foram obtidas conversando, e as grandes falhas pela falta de diálogo». No meu caso, motiva-me facilitar a comunicação eficaz entre os membros da equipa, garantindo que as ideias sejam transmitidas de maneira clara e que todos entendam os objetivos e as expectativas”.

Victor Freitas recebeu o prémio das mãos do Reitor da U.Porto durante as comemorações do Dia da Universidade 2024. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

“Motiva-me o conhecimento coletivo de verdades desconhecidas”

Por agora, é à procura de novas respostas para os problemas da Ciência e Tecnologia Alimentar que o investigador promete continuar a dedicar um trabalho traduzido, até à data, em mais de 400 publicações científicas, vários capítulos de livros e inúmeras comunicações em congressos e conferências nacionais e internacionais. E que promete não ficar por aqui…

“Motiva-me saber que há verdades que ainda estão por descobrir e a procura incessante destas verdades é alimentada pelos sucessos que ocorrem com alguma casualidade. Motiva-me saber que existem pessoas que pensam como eu, que gostam de aprender e procurar novos caminhos e novos desafios em ciência. Motiva-me dar esse apoio e trabalhar em equipa, com cientistas de diferentes disciplinas unindo esforços para a construção de um novo conhecimento. Em resumo, motiva-me o conhecimento coletivo de verdades desconhecidas”, diz.

E desafios não faltam no horizonte de Victor Freitas e da sua equipa . “A área da Ciência e Tecnologia Alimentar é bastante desafiante porque está em constante mudança e adaptação às realidades que nos circundam”, aponta o investigador, dando como exemplo os “novos desafios de sustentabilidade alimentar, nomeadamente na redução dos desperdícios alimentares e no reaproveitamento de subprodutos da industria agroalimentar”.

Nos laboratórios da FCUP, “joga-se” igualmente a “procura de novas fontes de alimentos mais saudáveis face à crescente incidência de doenças cardiovasculares, cancro e imunológicas” ou a “produção de alimentos menos poluentes e que levem a uma redução da acumulação dos gases de estufa”.

Desafios entre muitos outros a que Victor Freitas responde com… motivação: “Motiva-me ter todos estes desafios pela frente e poder ser criativo e inspirar uma equipa de investigação a pensar de forma inovadora e a abordar estes desafios de maneiras não convencionais, promovendo um ambiente propício à inovação em colaboração, quer com a indústria agroalimentar, como junto das empresas de distribuição com quem temos vindo a colaborar”.

Professor Catedrático da FCUP desde 2011, Victor Freitas tem-se destacado pelo seu trabalho de investigação no domínio da ciência dos alimentos. (Foto: FCUP)

“Que possam ir muito mais além do que as minhas verdades”

O certo é que, aos 56 anos, Victor Freitas já antecipa a passagem de testemunho a uma nova geração de especialistas nas diferentes áreas da Ciência alimentar. E é a eles que começa por lembrar que “um dos legados mais importantes que um investigador pode deixar é o impacto duradouro das suas descobertas e contribuições para o avanço do conhecimento na sua área de especialização”.

“O legado que pretendo deixar é o conhecimento e deixar interlocutores deste conhecimento que possam ir muito mais além do que as minhas verdades”, projeta, em jeito de desafio.

E se é no laboratório que o vencedor do Prémio de Excelência Científica 2024 promete continuar a dar o exemplo, a sua inspiração chega também às salas de aula da FCUP, enquanto professor e atual diretor do Mestrado em Tecnologia e Ciência Alimentar e do Programa Doutoral em Química Sustentável.

“Deixa-me a sensação de ter cumprido parte do meu desígnio transmitindo aos investigadores (estudantes ou não) confiança neles mesmos e conhecimento nos vários domínios da Ciência Alimentar. Isso pode inspirá-los a perseguir novos objetivos ambiciosos, expandir os seus horizontes de investigação e continuar a contribuir de forma significativa para o avanço do conhecimento nestas áreas desafiantes em termos científicos, tecnológicos e societais”, conclui…

… mas não sem mais uma citação: “A tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer”, disse um dia Albert Einstein. Victor Freitas assina por baixo.