O projeto internacional CellRUEE (Investigations of Cell Responses to Extreme Environments Created by 3D Printing), que tem como parceiro o grupo do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) liderado pela investigadora Ana Paula Pêgo, foi recentemente financiado pelo Air Force Office of Scientific Research (AFOSR), dos Estados Unidos, com cerca de 1,4 milhões de euros. O objetivo é perceber como se comportam as células humanas em ambientes extremos para poder desenvolver tratamentos para pilotos e tripulações de aeronaves quando estes sofrem acidentes.

Coordenado pelo investigador ZJ Pei, o consórcio que vai desenvolver o projeto é constituído por quatro parceiros – três laboratórios da Universidade do Texas A&M (TAMU) e um de Portugal – e surge na sequência de um outro projeto também financiado pelo AFOSR e liderado por Ana Paula Pêgo.

No projeto anterior, explica a investigadora, “propusemos um novo modelo 3D para estudar as células da macroglia – astrócitos e oligodendrócitos – e agora queremos expandir e tornar este modelo mais completo, de modo a mimetizar melhor o tecido cerebral”.

Atualmente, explica Ana Paula Pêgo, “não compreendemos completamente como as células humanas respondem a ambientes extremos, tais como temperaturas muito altas ou muito baixas, pressão muito elevada, ou ar rarefeito”.

O objetivo de longo prazo deste novo projeto, clarifica a investigadora, “é avançar na compreensão dos efeitos biofísicos de ambientes extremos no ser humano com o intuito de facilitar o desenvolvimento de tratamentos para pilotos e tripulações de aeronaves quando estes sofrem lesões, bem como protocolos para cuidados preventivos que mitiguem os impactos destes ambientes extremos na saúde a curto e longo prazo de quem opera estes veículos”.

Com este propósito, os cientistas deste consórcio vão “desenvolver novos modelos in vitro, explorando técnicas de bio-impressão, que mimetizam os tecidos cerebrais e do pulmão e permitam simular condições extremas. Iremos também explorar técnicas avançadas de imagem não-invasivas para monitorizar o comportamento celular”.

O grupo «nanoBiomaterials for Targeted Therapies», liderado por Ana Paula Pêgo, receberá cerca de 270 mil euros e ficará responsável por desenvolver novos modelos de tecido cerebral.

A equipa portuguesa vai igualmente “explorar técnicas de bioimpressão para que os estes modelos se tornem mais reprodutíveis e permitam fazer estudos de mais alto rendimento”, adianta a também Professora Associada do Instituto de Ciência Biomédicas Abel Salazar (ICBAS),

Sobre Ana Paula Pêgo

Ana Paula Pêgo tem desenvolvido trabalho pioneiro na área dos biomateriais à escala nanométrica associados à regeneração e reparação de tecidos, com particular enfoque na área da regeneração nervosa. Um trabalho que lhe valeu a conquista de vários prémios nacionais e internacionais, nomeadamente o Prémio Santa Casa Neurociências / Prémio Melo e Castro (2015) e o Prémio Albino Aroso (2016).

Desde 2015 faz parte do Council da Sociedade Europeia de Biomateriais (ESB), tendo sido Presidente da mesma entre 2021 e 2023. Atualmente é Presidente ex officio da ESB. Integra o Board of Reviewing Editors (Conselho de Editores de Revisão) da revista norte-americana Science, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo, como Embaixadora da revista na área dos biomateriais, engenharia de tecidos e entrega de fármacos. É também Editora Associada da revista Biomaterials (uma das principais revistas na área dos Biomateriais).

Atualmente, faz parte de duas Redes Europeias de Formação Inovadora Marie Curie (ITN), financiadas pela União Europeia e lidera um outro projeto financiado pelo Air Force Office of Scientific Research (EUA). Recentemente foi nomeada «Fellow of Biomaterials Science and Engineering (FBSE)» pela União Internacional das Sociedades de Ciência e Engenharia de Biomateriais (IUSBSE). 

Licenciada em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, Ana Paula Pêgo fez o doutoramento na Universidade de Twente, na Holanda, numa área em que ainda trabalha – química de polímeros e biomateriais -, desenvolvendo um projeto para preparar tubos guia para promover a regeneração de lesões do sistema nervoso periférico. Concluído o doutoramento, seguiu-se uma curta passagem pelo Brain Institute, em Amesterdão, onde iniciou o pós-doc e começou a fazer investigação na área da terapia génica para tratamento de lesões neuronais.

A investigadora ingressou no INEB em 2003 e, em 2013, passou a líder do grupo «NanoBiomaterials for Targeted Therapies», agora integrado no i3S. É ainda membro da direção do i3S, sendo responsável pela área da Estratégia e Criação de Valor, bem como Professora Associada do Instituto de Ciência Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).