O projeto europeu «CARTHAGO», que tem como parceiro o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente financiado pela União Europeia com 3,3 milhões de euros. Trata-se de uma Rede Europeia de Formação Inovadora Marie Curie (ITN) em Medicina Regenerativa para a osteoartrite e a degeneração do disco intervertebral, que conta com a participação de 18 instituições de 10 países da União Europeia. O objetivo desta equipa multidisciplinar é explorar o potencial da terapia genética para regenerar os tecidos danificados em doenças discais e articulares.

O desgaste da cartilagem e dos discos intervertebrais conduz frequentemente à osteoartrose e a dores lombares crónicas, respetivamente, afetando a saúde e o bem-estar humano a nível mundial. O objetivo da equipa interdisciplinar do projeto CARTHAGO é investigar como é que a cartilagem e os discos intervertebrais podem voltar a crescer e estimular ambos os tecidos a regenerarem.

Os investigadores pretendem inibir a produção de fatores inflamatórios nas células, que causam a rutura dos tecidos, e estimular a produção de fatores de crescimento. Para isso, vão desenvolver veículos para os ácidos nucleicos, que tornarão mais fácil a sua entrada nas células.

“No nosso caso, vamos explorar novos polímeros com uma estrutura ramificada desenvolvidos e patenteados por nós, chamados dendrímeros, que, juntamente com o RNA, formam uma nanopartícula”, explica a investigadora Ana Paula Pêgo, que coordena o projeto no i3S. O grupo de investigação que lidera, nanoBiomaterials for Targeted Therapies, vai receber 237 mil euros para, durante quatro anos, formar um investigador nesta área.

“Neste consórcio estamos também a analisar abordagens baseadas na física para tornar o tecido danificado mais acessível às terapias. Para tal, vamos utilizar ultra-sons, ou seja, ondas sonoras com frequências altas que não conseguimos ouvir», acrescenta a investigadora. Além disso, adianta, “vamos investigar como a penetração dos tecidos e a captação de células é influenciada pelas forças biomecânicas que atuam sobre a cartilagem numa articulação e o disco durante as nossas atividades diárias”

Ainda segundo Ana Paula Pêgo, o convite para integrar a ITN «CARTHAGO» “representa uma excelente oportunidade de contribuir com a nossa experiência para desenvolver veículos inovadores e mais biocompatíveis para entregar ácidos nucleicos, o que poderá também ter impacto noutras áreas da nanomedicina, como por exemplo no desenvolvimento de vacinas.

“Adicionalmente, será muito gratificante participar na formação de um grupo de jovens cientistas que no final do seu Doutoramento serão altamente qualificados no design e aplicação de métodos avançados de modulação genética, com uma clara consciência para com sociedade da sua responsabilidade como cientistas e inovadores. Com eles, esperamos que a terapia genética se torne uma realidade como um tratamento regenerativo eficaz de doenças do tecido cartilaginoso”, conclui.

O projeto CARTHAGO (Regeneração do tecido cartilaginoso por terapia genética: Ultrapassando os obstáculos para uma entrega eficiente) é coordenado pelo Centro Médico Universitário de Utrech e conta com a participação de 18 parceiros na Suécia, Holanda, Portugal, Roménia, Dinamarca, Reino Unido, Finlândia, Alemanha, Suíça e Polónia, que irão formar um total de 15 profissionais em Medicina Regenerativa.