Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) descobriu que é possível corrigir defeitos associados a doenças graves (malformações embrionárias), conhecidas como ciliopatias, através da manipulação genética de um dos motores responsável pelo transporte celular. O estudo foi publicado na revista Cell Reports e abre portas para o desenvolvimento de novas terapias para várias doenças genéticas fatais.

A maioria das nossas células tem na sua superfície uma estrutura fina, com a forma de um cabelo, conhecida como cílio, que funciona como uma sofisticada “antena” de comunicação. Durante o desenvolvimento embrionário, as nossas células captam sinais através destes cílios permitindo-lhes comunicar com as células vizinhas de forma a assegurar o correto desenvolvimento dos nossos órgãos. O mau funcionamento destas “antenas” pode levar a malformações embrionárias tão graves que resultam na morte durante a gestação, ou logo após o nascimento.

Tiago Dantas, coordenador da equipa, explica que «os cílios são como longas antenas de comunicação na superfície da célula» e que, «no interior destas antenas existem motores moleculares que funcionam como elevadores». Todo este sistema complexo de transporte e entrega de moléculas garante o fluxo entre o cílio e o interior da célula, por isso, explica o investigador, «é fácil antever que se um dos motores não funcionar corretamente, haverá engarrafamentos no transporte dos cílios, o que por sua vez, comprometerá a comunicação entre as células e o caos ficará instalado».

Francisco Santos, Ana Castro e os restantes elementos da equipa de investigação liderada por Tiago Dantas, centraram a sua atenção na dineína-2, o motor dos cílios responsável por transportar as moléculas sinalizadoras e outras cargas do topo do cílio para o interior da célula. Isto porque, explicam, «sabemos que os pacientes com mutações em reguladores da dineína-2 desenvolvem malformações caraterísticas de ciliopatias».

A equipa do i3S descobriu que, através de manipulação genética, «é possível modificar e corrigir os defeitos da dineína-2 de forma a permitir a sua ativação mesmo quando alguns dos seus reguladores estão comprometidos dentro dos cílios», explica Tiago Dantas. Com este trabalho, garante, «conseguimos perceber que a manipulação da dineina-2 oferece uma possível abordagem para o desenvolvimento de novas terapias destinadas ao tratamento das ciliopatias associadas à desregulação deste motor».