Idealizou ser cientista, já que a matemática era a sua disciplina favorita até aos 14 anos, quando passava o verão a resolver problemas, e a gestão parecia ser o melhor percurso devido ao “gosto pelos números”. Mas acabaria por ser a paixão tardia pela Medicina a definir o percurso de Ana Povo.

Licenciada em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e doutorada pela na mesma área pela Faculdade de Medicina (FMUP), a nova Secretária de Estado da Saúde enveredou pela cirurgia geral por considerar a especialidade a mais completa de todas e não se limitar ao gesto cirúrgico.

Atual investigadora e docente no ICBAS e médica assistente hospitalar de cirurgia geral na Unidade Local de Saúde de Santo António, Ana Povo foi a mais nova diretora do Centro Académico Clínico do consórcio ICBAS-CHUdSA (actual ULSSA). Foi ainda membro do SiNATS (Sistema Nacional de Avaliação de Tecnologias de Saúde) do Infarmed e integrou o conselho disciplinar da secção regional do Norte da Ordem dos Médicos.

Nos seus tempos livres, aproveita para viajar, cozinhar, ler e escrever, mas quando tem mais tempo joga golfe ou esquia e toca piano. Diz que prefere estar rodeada da natureza e, é por isso, que esta transmontana se retira para as suas origens em Valpaços, sempre que pode. É ali que retempera energias para a árdua tarefa que tem nas mãos: ajudar a implementar, em 60 dias, um plano de emergência para o setor da saúde em Portugal.

Relembra na mãe e na avó Margarida exemplos de dedicação e bondade, mas também de exemplos no feminino de liderança, fomentando que “um líder tem de saber ouvir e ter tempo para ouvir os que o rodeiam”.

Ana Povo acredita que a Educação é a base de tudo e salienta que esta permite criar um mundo melhor. E foi com essa premissa que aceitou o novo cargo para Secretária de Estado da Saúde do XXIV Governo Constitucional Português.

(Foto: DR)

Naturalidade? Valpaços

Idade? 46 anos

1- De que mais gosta na Universidade do Porto? O ser plural, englobando formas muito variadas do saber, e sendo a melhor em praticamente todas a áreas. A Universidade do Porto é reconhecida internacionalmente pela excelência académica em diversas áreas, oferecendo uma ampla gama de cursos de alta qualidade.

2 – De que menos gosta na Universidade do Porto?  A dispersão das diferentes unidades orgânicas pela cidade, que afasta os estudantes das diferentes faculdades, contudo, numa cidade como o Porto, é muito difícil “construir” a Universidade de outra maneira.

3 – Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? Criar pontes entre a distância física dos diferentes polos da Universidade do Porto, trazendo uma maior intercomunicação nas diferentes áreas, permitindo aos estudantes a aquisição de variadas ferramentas e conhecimento.

 – Como prefere passar os tempos livres?

Nos meus tempos livres gosto de fugir para Valpaços, para a casa que foi construída pelo meu bisavô. Se não puder fugir para Valpaços, a melhor forma de ocupar os tempos livres é passando tempo ao ar livre com a minha cadela.

– Um livro preferido?

Nunca gostei destas perguntas do preferido, porque tenho várias coisas preferidas. Vou deixar aqui vários livros que me marcaram: A Queda de um anjo de Camilo Castelo Branco, o Diário de Anne Frank, A Mão que nos Opera de Atul Gawande e o Erro de Descartes de António Damásio.

– Um disco/músico preferido?

Escolhendo só uma música: Imagine de John Lennon. Mais do que propriamente a música, gosto particularmente da letra, e pelo alento de acreditarmos sempre na possibilidade de construir um mundo melhor.

– Um prato preferido?

Aquele prato da minha infância, que infelizmente nunca mais comerei com o mesmo sabor: bife com batata frita, cozinhado pela minha avó Margarida.

– Um filme preferido?

Tal como respondi para o livro, não gosto nada deste tipo de perguntas. Vou responder três que marcaram a minha infância: Annie, Rei dos Gazeteiros (a espetacular casa do arquiteto americano Frank Lloyd Wrigth, aonde foi filmado) e claro está, o clássico Música no Coração.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Existe todo um mundo ainda por descobrir, e as viagens de sonho são sempre aquelas que ainda estão por realizar. A próxima que gostava: Japão. Planeava realizar para o próximo ano, mas agora será claramente um projeto adiado.

– Um objetivo de vida?

Não é um objetivo de vida, é apenas o único objetivo: ser feliz.

– Uma inspiração?

A minha querida Avó Margarida, de quem herdei o nome, o maior exemplo de espírito de missão que já conheci. Pessoa de enorme bondade e dedicação aos outros. Muitas vezes não estávamos de acordo, e várias vezes lhe chamei a atenção que estaria a ser retrograda, contudo no seu enorme amor pelos outros, sempre lhe permitiu respeitar o próximo, e compreender a diferença de opiniões, e assim os deixou sonhar e prosseguir os seus sonhos.

– O projeto da sua vida…

Na minha opinião a educação é a única arma que podemos usar para construir um mundo melhor, ou seja, uma população mais culta, mais formada, mais critica e atenta, irá contribuir para uma sociedade mais justa e melhor. Posto isto, gostaria de criar uma associação/fundação, que apoiasse crianças desfavorecidas a prosseguir os seus estudos.

– Uma ideia para promover uma maior ligação entre a Universidade e a comunidade?

Uma estratégia eficaz para fortalecer os laços entre a universidade e a comunidade local é implementar uma variedade de iniciativas colaborativas. Isso inclui programas de tutoria e mentoria, onde os estudantes universitários oferecem apoio acadêmico aos alunos locais, além de organizar eventos e workshops gratuitos sobre temas relevantes para a comunidade. Além disso, promover projetos de pesquisa que envolvam membros da comunidade pode ser uma forma valiosa de aproveitar sua experiência e conhecimento. Incentivar o voluntariado em organizações sem fins lucrativos da região oferece uma maneira prática para os membros da universidade se envolverem diretamente com a comunidade. Além disso, facilitar estágios em empresas locais proporciona aos estudantes experiência prática e oportunidades de networking. Por fim, organizar eventos culturais e artísticos abertos à comunidade não apenas enriquece a vida cultural da região, mas também atrai membros da comunidade para o campus universitário, fortalecendo os laços entre a universidade e a comunidade.

– O que representa para si esta nomeação para integrar o novo governo?

A enorme responsabilidade de trabalhar com grande afinco, para contribuir para a melhoria de um sector tão importante para a vida dos portugueses, e que estava a passar uma fase tão crítica, mais ainda do que aquela que vivemos na época da pandemia. E claro está também, não defraudar as expectativas daqueles que me escolheram.