Durante o mês de outubro, quem cruzar o átrio de entrada do Edifício Histórico da Universidade do Porto (Reitoria) vai ser surpreendido por três peças pertencentes à valiosa coleção de Figurado de Barcelos do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP).

Neste novo capítulo do Berviário – iniciativa do MHNC-UP que procura dar visibilidade a alguns dos objetos que fazem parte das reservas do Museu -, é possível encontrar a representação de uma “porca a alimentar as crias”. Estará lado a lado com uma “junta de bois a transportar um porco”, cuja decoração parece aludir a uma cena de dia de festa. A terceira peça remete para uma atividade associada à sobrevivência das família no mundo rural: a “matança do porco”.

Da autoria da artista Rosa Côta, uma das mais reconhecidas intérpretes do Figurado de Barcelos, estes trabalhos – produzidos entre as décadas de 1960 e 1970 – integram um conjunto mais alargado, composto por mais de 600 peças que foram doadas por Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez, dois arquitetos e antigos estudantes e docentes da Faculdade de Arquitetura da U.Porto (FAUP).

“A matança do porco”. Figurado de Barcelos. (Foto: MHNC-UP)

O papel do porco

Tratando-se de abordar a relação entre o homem e o animal, o MHNC-UP traz à “casa-mãe” da U.Porto várias figuras que demonstram o papel que o porco assume no mundo rural, desde a pré-história.

“Ele foi domesticado no Próximo Oriente (países do sudoeste asiático) e chegou à Península Ibérica no Neolítico (7000 a.C. até 4000 a.C.). Sendo, ainda hoje, consumido em grandes quantidades”, explica Rita Gaspar, curadora das coleções de Arqueologia, Etnografia e Antropologia biológica do MHNC-UP

A acompanhar estas três peças, “temos também uma pequena escultura de um javali, produzida durante a Idade do Ferro (1200 a.C e 600 a.C.), anterior à presença dos romanos, encontrada em Trás-os-Montes”. Foi recolhida ainda em finais do século XIX e posteriormente entregue à Academia.

Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez colecionam figurado de Barcelos desde a altura em que eram ainda estudantes da Escola Superior de Belas Artes do Porto, precursora da Faculdade de Belas Artes da U.Porto. Percorriam feiras, de norte a sul do país, em busca desta expressão da arte popular. Uma paixão que mantiveram até aos dias de hoje, daí terem constituído esta coleção que decidiram doar, enriquecendo, assim, o património etnográfico do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto.

Até ao final do ano, será inaugurada nas Galerias da Casa Comum uma exposição que permitirá conhecer melhor esta coleção de Figurado de Barcelos.

Sobre Rosa Côta

Filha de “barristas”, Rosa Faria da Rocha, ou Rosa “Côta”, nasceu em Galegos Sta. Maria, freguesia do município de Barcelos, em Maio de 1901, e continuou o legado dos pais. Aos 20 anos casou com outro ceramista, Eduardo Fernandes de Sousa, com quem manteve e fortaleceu a produção de figurado de Barcelos.

Recebeu, ao longo da vida, várias distinções pelo trabalho que desenvolveu. Faleceu em 1983, com 81 anos, tendo deixado um relevante património artístico, representativo da arte popular barcelense.

O apelido “Côta” herdou-o do seu pai quando este comprou uma casa a uma “mulherzinha côta de um dedo”. Ficou, desde aí, conhecida pela casa dos “Côtos”. Este apelido permaneceu ao longo das gerações e é, atualmente, um dos nomes consagrados da arte popular desta região.