Da maionese e dos fiambres veganos aos sumos com mais fibra e ao chocolate com mais nutrientes. Entre o doce e o salgado, uma coisa é certa: é imperativo que sejam mais saudáveis, sem perderem o sabor que conquista o palato dos consumidores. São desafios que levam a indústria a procurar o know-how de instituições de Investigação e Desenvolvimento, como a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). É, nesse contexto, que a FCUP integra o consórcio do projeto VIIAFOOD (Plataforma de valorização, industrialização e inovação comercial para o setor agroalimentar).

Com um orçamento que se aproxima dos dois milhões de euros, a equipa do Foodphenolab, liderada pelo docente e investigador Victor Freitas, já está a avançar neste projeto. “Fomos convidados por várias empresas com as quais já trabalhamos para integrar este consórcio”, descreve.

Liderado pela SONAE MC, o VIIAFOOD integra cerca de 50 entidades, entre empresas, instituições de ensino e investigação, laboratórios e associações do setor. O objetivo é chegar a mais de 130 novos produtos saudáveis e sustentáveis e, para isso, há uma série de subprojetos a decorrer em simultâneo até 2025.

Victor Freitas salienta que há, neste tipo de consórcios, um grande trabalho de equipa, com reuniões a acontecerem todas as semanas. “As empresas disponibilizam as receitas e arranjam-nos ingredientes alternativos. O que fazemos é ver como é que eles se podem conjugar com a receita padrão daquele alimento”, detalha. O objetivo é mudar o menos possível o processo de produção, melhorando a qualidade.

“Não podemos dizer que fomos responsáveis por um produto, mas contribuímos para diversos já no mercado”, continua. Um exemplo são os fiambres vegetarianos. Agora, os fiambres veganos, sem nenhum produto de origem animal, são o próximo desafio da Primor e um dos alimentos a desenvolver.

E é aqui que há um cruzamento entre projetos, empresas e investigação. “A Proenol produz leveduras para a fermentação alcoólica e desenvolveram, em conjunto com a nossa equipa, uma tecnologia de purificação de proteínas de levedura, uma fonte alternativa à proteína”, descreve. Esta poderá ser uma solução a integrar neste novo produto 100% vegetal.

Outro desafio que se irá apresentar nos próximos anos é a redução do sal, do açúcar e gordura nos molhos da Mendes Gonçalves e caberá também ao consórcio responder a esse repto.

Um dos subprojetos em que a equipa do Foodphenolab irá participar está relacionado com o “pulpómetro” que vemos nos rótulos dos sumos da Compal. (Foto: SICC.FCUP)

Neste projeto, coordenado pela PortugalFoods, estão também empresas do setor das bebidas, como a Sumol + Compal. A equipa do Foodphenolab irá participar num subprojeto relacionado com o “pulpómetro” que vemos nos rótulos dos sumos da Compal. “O objetivo é aumentar a densidade da polpa com enriquecimento de fibras e temos de ver se, em termos nutricionais, a qualidade do sumo está ou não a aumentar”, conta Victor Freitas. E, por falar em qualidade, trabalharão também no enriquecimento de chocolates em minerais e vitaminas, com a Imperial.

 Mais um exemplo de um dos muitos contributos da FCUP para o VIAAFOOD será o apoio à SONAE MC, com a expertise do Foodphenolab na substituição de corantes artificiais por corantes naturais.

E será que todos estes produtos serão do agrado do consumidor? Para dar resposta a esta questão participa no projeto a empresa SenseTest, especialista na Análise Sensorial e do Consumidor, e que fará uma primeira análise sensorial aos protótipos laboratoriais mais promissores.

Em paralelo, a equipa da FCUP irá também dedicar-se à procura de novos ingredientes e novos produtos, uma característica do trabalho em Investigação e Desenvolvimento.

Sobre o VIIAFOOD

Integram o consórcio 29 empresas, de diferentes áreas de atividade do sector alimentar, e 20 entidades do sistema científico nacional, associações do sector e laboratórios colaborativos com competências nas áreas de I&D aplicadas à área alimentar.

O  VIIAFOOD, coordenado pela Portugalfoods, representa um investimento global de cerca de 110 milhões de euros, sendo cerca de 50% financiado no âmbito das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial do PRR e os restantes 50% pelas empresas envolvidas. O projeto foi oficialmente divulgado em agosto de 2022, altura em que viu o seu financiamento ser aprovado.

Através da investigação e desenvolvimento de novos produtos e da melhoria de processos produtivos por via de novas tecnologias, os desenvolvimentos obtidos contribuirão para a promoção de uma alimentação mais saudável e sustentável, em linha com tendências de nutrição e sustentabilidade globais, bem como para a capacitação deste setor da economia portuguesa, aumentando a sua competitividade internacional.