Poesia, música, cinema, teatro e plantas. As Noites no Pátio do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (edifício da Reitoria, com entrada pelo Jardim da Cordoaria) continuam a apostar forte na confluência entre as artes, não fosse a multidisciplinaridade a “imagem de marca” deste ciclo. As “portas do Pátio” abriram a 30 de junho e encerram, exatamente, um mês depois, a 30 de julho, sempre com entrada gratuita, sempre às 21h30.

Para o arranque desta última semana, há uma Goela Hiante que se vai fazer ouvir. Terça-feira, dia 25, Adolfo Luxúria Canibal e Marta Abreu dão voz e música a poemas de Manuel de Castro, António José Forte, Mário-Henrique Leiria, João Damasceno, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Luís Miguel Nava, Lawrence Ferlinghetti, Vladimir Maiakovski, entre outros. Nos teclados, aplicações i-pad e no sintetizador estará Marta Abreu a criar um ambiente sonoro e visual densamente negro, soturno até, como convém ao universo das leituras que vamos ouvir. A voz é de Adolfo Luxúria Canibal. Juntos fazem soar a Goela Hiante, disco editado pela Cobra Discos, que têm tocado ao vivo e ao qual vêm juntando novos poemas.

Quarta-feira, é provável que aprenda uma palavra nova: exsiccatae. São livros publicados com espécimes botânicos preservados. Foram distribuídos e vendidos por todo o mundo como uma forma de comunicar e dar a conhecer o aspeto real de plantas e fungos de regiões remotas, isto muito antes da fotografia e da internet. Cristiana Vieira, curadora do Herbário do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP), vai apresentar as nossas coleções de exsiccatae mais valiosas e raras.

Exsiccatae da coleção do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto.

Quintas e sextas feiras, temos sessões de cinema gratuitas à nossa espera. Rios Urbanos, de Ricardo Gomes, é um documentário sobre os rios Tejo e Sado e o dia-a-dia de personagens que com eles interagem. O filme segue o preceito de que “só se preserva aquilo que se ama, só se ama aquilo que se conhece”. Vamos ficar ainda com a A Invasão da Agricultura Insustentável. Este trabalho, de Luís Henrique Pereira, é um alerta para a agricultura intensiva que conquista cada vez mais terreno. Nas regiões da Cova da Beira, Baixo Alentejo, Sudoeste e Algarve as explorações de amendoal, olival e abacate estão a levar ao desaparecimento de antigas zonas de cultivo. São alertas do Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, para ver na noite de 27 de julho.

Nome de Guerra, a viagem de Junqueiro é uma longa-metragem sobre a vida, as polémicas, a obra, o pensamento e o legado de Guerra Junqueiro. Resultado de mais de 100 horas de filmagens e de 30 horas de entrevistas, o filme conta com depoimentos de cerca de cinco dezenas de personalidades, entre as quais Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho, Manoel de Oliveira, Nuno Júdice e Eduardo Lourenço. O documentário, que vamos ver dia 28 de julho, é de Henrique Manuel Pereira, que assina o ciclo Pelas Margens.

Sábado, 29 de julho, damos a boas vindas ao Manipulador. Influenciado por bandas de rock alternativo, é em paisagens indústrias abandonadas, nos ritmos e melodias das conversas e na experimentação que Manuel Molarinho encontra inspiração.  Recorre a pedais, loop station e à voz, mas é ao baixo que confere maior protagonismo. E este o principal instrumento de percussão, textural e melódico.

O “Manipulador” sobe ao Palco das Noites no Pátio do Museu dia 29 de julho.

Depois de Boxing, Chess e Lop, Doppler é o 4º registo deste one-man-band. Representa o culminar de um trabalho de investigação e experimentação sobre  baixo elétrico como instrumento total. A viver atualmente no Porto, Manuel Molarinho participa ainda em projetos musicais como Baleia Baleia Baleia, Burgueses Famintos ou Daniel Catarino. Este é mais um concerto com a chancela da editora Saliva Diva.

Dia 30 de julho, domingo, entramos para a última das Noites no Pátio do Museu e é com o Teatro Universitário do Porto (TUP), que celebra 75 anos, que encerramos com chave de ouro esta programação. A proposta do TUP é pensar o passado para construir o presente e o futuro. Lembrar para questionar. Abrir capas, dossiers, janelas. Escancarar portas de armários. Lembrar para debater e para celebrar.

Com início em 2020, este verdadeiro festival de cruzamento das várias artes tem trazido largas centenas de pessoas ao pátio do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto. Desde gastronomia, biologia, botânica, teatro, cinema, poesia, literatura, música… Tudo isto tem burilado o nosso conhecimento transversal. Sempre às 21h30 e sempre gratuito. E a última semana!