Os doentes com insuficiência cardíaca do “mundo real” seguidos em unidades de saúde de vários países, incluindo Portugal, são geralmente mais velhos e têm mais doenças associadas do que indicavam os estudos realizados anteriormente.

Esta é uma das conclusões mais importantes de um trabalho internacional publicado na revista científica Heart (British Medical Journals) e que contou com a participação de Tiago Taveira-Gomes, professor e investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)/CINTESIS.

O estudo CardioRenal and Metabolic disease (CaReMe) Heart Failure foi realizado com o objetivo de conhecer a prevalência, as principais doenças e os custos associados à insuficiência cardíaca em 11 países.

Ao todo, foram analisados dados clínicos eletrónicos de mais de 600 mil pessoas com diagnóstico de insuficiência cardíaca, numa população superior a 32 milhões de adultos. Os custos por doente foram analisados por um período de cinco anos.

“Até à data, poucos estudos multinacionais haviam abordado o peso desta doença a partir de dados dos registos de saúde nacionais.  Os estudos realizados descrevem frequentemente grupos de doentes muito selecionados, que não são representativos dos doentes de hoje”, explica Tiago Taveira-Gomes, um dos autores deste trabalho.

Uma liderança indesejada

Os resultados indicam que a insuficiência cardíaca afeta, em média, 2% da população. Os autores avisam, porém, há muitos casos por diagnosticar e que, por isso, a prevalência deverá ser superior.

Portugal regista a maior prevalência entre os países estudados: 2,9% dos adultos portugueses sofrem de insuficiência cardíaca, uma taxa superior à registada na Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Noruega, Reino Unido, Suécia, Suíça, Canadá e Israel.

A idade dos doentes era, em média, de 75 anos, acima da idade média dos doentes incluídos em estudos anteriores. Quase metade dos doentes também tinha doença cardíaca isquémica e um terço tinha diabetes. Cerca de 50% tinha doença renal crónica em fases mais avançadas (III-V).

Outra das conclusões aponta para taxas elevadas de descompensação da insuficiência cardíaca e também para um elevado risco de complicações cardiorrenais (19,3 complicações em cada 100 doentes) e de morte. Neste estudo, 13% dos doentes faleceram ao fim de um ano.

Neste mesmo período, a maior taxa de hospitalizações está relacionada com a presença de insuficiência cardíaca e doença renal crónica. Os investigadores alertam, por isso, que é crucial detetar precocemente problemas renais em doentes que sofrem de insuficiência cardíaca.

Em relação aos custos hospitalares, a maior parte é atribuída a hospitalizações por problemas cardíacos e renais, o que, para os autores, sublinha a necessidade de aumentar a prevenção e a monitorização cardiorrenal nestes doentes.

Em todo o mundo, estima-se que a insuficiência cardíaca afete 64 milhões de pessoas, esperando-se que os novos casos aumentem devido ao envelhecimento das populações e à melhoria dos exames de diagnóstico. Em termos de despesa, a Europa e os Estados Unidos gastam, cada um, 1 a 2% do seu orçamento anual na área da saúde com a insuficiência cardíaca.

Este estudo foi desenvolvido em colaboração com Cristina Gavina, professora da FMUP e cardiologista da Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), e contou com o apoio da AstraZeneca.