É rock, é punk, é festa, é uma energia contagiante e desmedida que rebenta com qualquer grelha ou conceito. E já que saltamos para o desconhecido… O que lhe vem à cabeça quando pensa em saliva? Poderá ser algo de divino? A explicação segue mais à frente. Por enquanto o homem que alimenta o aquém e além palco: Manuel Molarinho. O raio de trovão que sobe ao palco é o mesmo que, da plateia, ilumina os grupos que promove. O músico vai estar na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto no dia 21 de junho às 18h30. Muito para descobrir, nesta conversa com Paula Guerra, socióloga e docente da Faculdade de Letras da U.Porto .

Constantemente na estrada, Manuel Molarinho diz que há “três coisas certas na vida:  a morte, os impostos e os concertos d’ O Manipulador”. Fazendo uso do baixo, pedais, loop station e da voz, o projeto a solo deste one band man, tem o rock como semente, e a experimentação como fertilizante.

Depois de’ Boxing‘, ‘Chess‘ e ‘Lop’, o último trabalho, Doppler, é o culminar de um trabalho de experimentação do baixo elétrico. São nove temas compostos ao longo de uma década, autobiográficos e reflexivos, que representam também o ponto de chegada da fase artística que está a viver. O projeto tem o selo da editora/coletivo portuense Saliva Diva.

Baleia, Baleia, Baleia

“E a vida, a morte, em fotos no ecrã / Os dias compridos e os olhos no ecrã / O mundo perdido, achado no ecrã (…) E os sonhos dos outros cumpridos no ecrã (…) E as balas que nunca passam do ecrã / A força dos gritos, regulável no ecrã (…) Medos e incertezas no armário do ecrã (…)  Celulite e flacidez no ginásio do ecrã/ Quero ser um ecrã” . De norte a sul do país, os Baleia Baleia Baleia já dão à costa há cerca de 7 anos. E já lá vão quase 200 concertos.

Sobre o mais recente FaupFest, que se realizou em maio último, Manuel Molarinho ficou depois a “processar” aquele “mar de gente, o pó levantado, o mosh gentil e os sorrisos e abraços em catadupa (…) Tenho pensado no quão lindo é ver o esforço de pessoal que faz sacrifícios à sua vida pessoal e escolar para fazer acontecer por amor à arte, à música e ao encontro”. E é nesta força humana, que faz acontecer, em que acredita.

Baleia Baleia Baleia é uma dupla formada por Manuel Molarinho (baixo e voz) e Ricardo Cabral (bateria). Suicídio Comercial (2022) é o terceiro disco da dupla depois de Botaperna (2017) e Baleia Baleia Baleia (2018).

Manuel Molarinho é um “one band man” que só está bem rodeado de bandas. (Foto: DR)

Saliva Diva

Agora sim, tempo para falar de algo “divino”, símbolo da fé no trabalho com e para a comunidade. Saliva Diva é uma editora independente/coletivo portuense com foco no espírito comunitário. Manuel Molarinho é um dos fundadores deste projeto que acredita na produção criativa como “catarse” e como forma de união. Algo que tanto pode ser “estímulo sensorial e intelectual, como embalo e despertador”. Quer (não queremos todos?) “rir, chorar, pensar, bezerrar e dançar”. Pelo caminho, pretende deixar um lastro que “facilite a união entre criador e ouvinte”. Que os discos que promovem “descubram novas casas, que cheguem a um público mais universal sem sacrificar a liberdade criativa das obras que editamos”.

Alguns dos projetos lançados: Nile Valley, a MДQUIИД, os Palankalama, os Melquíades, os Fugly, Tiago e os Tintos, The Miami Flu, Daniel Catarino, os Bardino, PALMIERS, Conferência Inferno.

Manuel Molarinho, o próprio

Manuel Molarinho iniciou o percurso artístico centrado na música, sobretudo enquanto compositor e baixista, em 2001. É O Manipulador, a “metade da laranja” de Baleia Baleia Baleia, e faz ainda parte dos projetos Burgueses Famintos e Daniel Catarino. Explora o baixo como um “instrumento total”, procurando potencialidades menos convencionais com pedais de efeito para expandir as características rítmicas, texturais e melódicas.

Conta já com cerca de 20 álbuns gravados e um percurso, país fora, de cerca de 1000 concertos, incluindo tours europeias regulares e uma asiática. Também já fez bandas sonoras para vídeo e teatro.

Desde 2014 que tem trabalhado regularmente na organização e curadoria de eventos, entre os quais o festival itinerante de músicos a solo UM AO MOLHE, ZigurFest e Aveiroshima2027.