Como prefere deixar entrar o dia? Num jardim, entre o cheiro a terra fresca, o viço das japoneiras e o chilrear dos pássaros, ou no topo de uma serra, onde a ausência de limites no horizonte nos recorda que “somos do tamanho do que vemos”. Estamos com o ar em suspenso, perante a possibilidade de, pela primeira vez, fazermos a cartografia de um coletivo artístico, científico e patrimonial com estas dimensões. A 18 de novembro, Dia Europeu do Património Académico venha com os sentidos despertos para uma experiência que nunca teve: a abrangência transversal e intemporal da Universidade do Porto, como nunca a sentiu. Tem calçado confortável? Venha daí!
Fazemos de conta que começamos pelo Jardim Botânico da U.Porto…. Vai percorrer um traçado, de mais de quatro hectares, delineado no século XIX, até chegar às altas sebes de japoneiras. Pelo caminho vai conhecer o jardim das “suculentas”, dos xistos, ou dos Jota, iniciais dos antigos proprietários, Joana e João Andresen, avós de Sophia e Ruben A.
A decorrer das 10h30 às 11h30, esta visita guiada convida a perceber qual o papel académico, literário, formativo e educativo que este espaço desempenha, como plataforma de promoção da cultura científica. As inscrições fazem-se através do e-mail: [email protected].
À descoberta da Casa dos Livros
Sabe de onde está bem perto? Da Casa dos Livros. Vasco Graça Moura, Herberto Helder, Manuel António Pina, Óscar Lopes entre tantos outros…. É aqui que estão os acervos documentais de algumas das principais figuras da literatura em Portugal.
Inaugurada no passado dia 1 de abril, a Casa recebeu o nome que Vasco Graça Moura dava ao seu recanto de criação, na propriedade rural Eira do Catavento, em Almeirim. É numa das salas que está, precisamente, este espaço “recriado”, com a sua secretária e outros objetos pessoais.
Ao longo do percurso orientado, com início marcado para as 11h30, vai ficar a conhecer toda a história da Casa, mas não só. É que no espaço está agora patente a exposição Diálogos – 100 anos de Saramago e 50 de Valter Hugo Mãe para além de quadros/retratos do Mestre António Bessa.
Para inscrever-se basta enviar um e-mail para [email protected], referir a hora pretendida e que a visita se inscreve no Dia Europeu do Património Académico.
Para estômagos fortes e espíritos curiosos
Seguimos em frente na celebração do Património Académico da U.Porto? Passamos em frente ao Jardim do Palácio de Cristal, contornamos a Rua Jorge de Viterbo Ferreira e chegamos ao complexo que alberga a Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
O Departamento de Anatomia do ICBAS assegura o ensino das cadeiras de Anatomia, que complementa com a existência de um Museu de Anatomia Prof. Nuno Grande. Para além dos modelos anatómicos, o museu conserva em frascos transparentes peças humanas, mas também de animais. As visitas vão decorrer durante o período da manhã. para fazer a inscrição basta enviar um e-mail para: [email protected]
Continuamos viagem em direção ao Jardim da Cordoaria, nomeadamente até ao Campo dos Mártires da Pátria. Entramos no Polo Central do Museu de História Natural e da Ciência (MHNC-UP). Já viu de perto todo o esplendor Art Déco do Laboratório Ferreira da Silva?
A requalificação do espaço devolveu-lhe a traça original, agora com uma vertente de divulgação cultural, científica e educativa. Às 12h00 tem início uma visita orientada por Marisa Monteiro, curadora de instrumentos científicos do MHNC-UP. A marcação prévia faz-se através do e-mail: [email protected].
Quem vem e atravessa o rio…
Recorda-se que havia outra forma de começar o dia? Mais cedo, às 9h30, e mais alto…. Na Serra do Pilar. O que nos traz aqui no Dia Europeu do Património Académico? O Instituto Geofísico da U.Porto (IGUP).
Sabia que ali existe uma estação sísmica americana? E que o IGUP foi chamado a desempenhar um papel durante a Guerra fria? Só como aperitivo dizemos que foi nos anos 1960 que o governo norte-americano e a United States Coast and Geodetic Survey instalaram no IGUP uma estação sísmica que fez parte de uma rede de 125 estações mundiais. A World-Wide Standard Seismographic Network monitorizava testes nucleares no subsolo efetuados pela antiga União Soviética.
Já ouviu falar de sismologia forense? Vai ouvir. E de jardins fenológicos? É que no IGUP há um jardim que pertence a uma rede europeia, o International Phenological Gardens (IPG). Com plantas geneticamente iguais dispersas por diferentes localizações geográficas, os jardins fenológicos estudam a evolução destas espécies. Que espécies estão em observação e qual a proveniência? É vir e perguntar.
As inscrições devem ser encaminhadas para o endereço [email protected].
À tarde, volta a ter de fazer opções… E nem é preciso atravessar o rio. Basta continuar a subir até à Alameda do Monte da Virgem, s/n, Vila Nova de Gaia. Às 14h30, vai poder visitar o Observatório Astronómico Prof. Manuel de Barros e ficar de olhos postos no céu. O Círculo Meridiano de Espelho? Sabe o que é? Uma pista: permite a observação estelar. Foi criado por Manuel de Barros, antes do lançamento do primeiro satélite artificial. As inscrições fazem-se através do e-mail [email protected].
De volta à “casa mãe”
Vai querer travessar o rio? Não faltam opções. Chama-se Praça Gomes Teixeira, mas todos a conhecem por “Praça dos Leões”. É lá que está o edifício histórico da Reitoria da Universidade do Porto, símbolo máximo do Património Académico da instituição.
Após a criação da Universidade, em 1911, o edifício teve sempre um papel central na história da academia, quer como sede de faculdades, quer os serviços centrais. Às 14h00, Susana Barros, Licenciada em História de Arte, vai dar a conhecer a história deste edifício que sobreviveu a dois incêndios e não para de se reinventar, graças à incorporação de espaços como o polo central MHNC-UP ou da Casa Comum.
A experiência culminará precisamente nas Galerias da Casa Comum, com uma visita orientada à exposição Todo o Abel Salazar. Para participar, basta inscrever-se através do e-mail [email protected].
Passeio artístico pelo Porto
Continuamos? Quanto do património intelectual e artístico de quem se sentou nas secretárias da sala de aula da academia está representado nas ruas, nas paredes, nos edifícios e nos monumentos da cidade? Que histórias contam obras que estão por trás daquela porta que nunca teve a oportunidade de abrir?
Foi perseguido, preso e viu a sua obra censurada pelo Estado Novo. A cidade está prestes a descobrir o que se julgava perdido para sempre. Por baixo de sete camadas de tinta, foram recuperados os murais que Júlio Pomar realizou no Cinema Batalha, enquanto era ainda estudante da Escola Superior de Belas Artes do Porto, precursora da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP). Temos um retrato de Pomar a trabalhar no mural, elucidativo de toda a sua exuberância, captado pelo colega e arquiteto Viana de Lima. Mas não só…
Temos também o estudo de outro fresco, de António Sampaio, feito para a escadaria poente do Cinema Batalha (1947). Também já deve ter reparado naqueles azulejos pintados e moldados sobre volumes de cimento, na Praça de Almeida Garrett, em frente à Estação de São Bento? A obra chama-se Memória Amassada e é de Dalila Gonçalves. Nós temos o estudo feito pela antiga estudante da FBAUP.
Se subirmos até à Sé do Porto e atravessarmos de novo a ponte D. Luís I, chegamos ao Jardim de Soares dos Reis. Em bronze e granito, é lá que está o monumento a um dos maiores escultores portugueses do século XIX, António Soares dos Reis. O que temos? Temos o esboço, em gesso, de uma parte desse mesmo monumento, obra de Teixeira Lopes. E, desta vez, não precisa de ir pelo próprio pé identificar a impressão digital dos artistas da U.Porto na cidade….
É isto que lhe vai mostrar Walking Art Maps, a exposição que está patente no Pavilhão de Exposições da FBAUP e que associa trabalhos da sua coleção com obras instaladas em espaços públicos e privados da cidade. Basta apontar o telemóvel para o CR Code associado à obra. Está lá tudo! A visita orientada é às 15h00. Basta fazer a marcação para [email protected].
Um vitral cheio de histórias
Talvez não saiba, mas existe um núcleo museológico na Faculdade de Farmácia da U.Porto onde poderá ver de perto moldes metálicos para supositórios ou óvulos, microscópios em latão, alambique, estufas em cobre, entre tantos outros objetos.
Mas, logo à entrada, no átrio principal da FFUP (e do ICBAS), não há como não reparar. Um imponente vitral ocupa todo o espaço até ao teto de uma das fachadas. Tem uma história que se confunde com a da própria academia. Quer saber qual? A visita tem início marcado para as 16h00, basta enviar um e-mail para: [email protected]
Numa outra ponta da cidade, não terá problemas em olhar para o relógio, porque o conceito será de “Casa Aberta”. Falamos da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) que abre as portas para o que, tradicionalmente, não está acessível ao publico, o depósito de arquivo.
Tudo começa com a inscrição para o e-mail [email protected]. Fica assim garantido o bilhete para uma viagem que inclui a descoberta de dois incunábulos (livro impresso nos primeiros tempos da imprensa com tipos móveis) e das espécies bibliográficas mais raras, Thesaurus Pauperum de Pedro Hispano, edição de 1576, Andreae Vesalii anatomia, de 1604, e o Retrato del Perfecto Medico de Henrique Jorge Henriques, de 1595. Pelo caminho, desvendar-se-ão telas pintadas à mão por Luís de Pina e Alberto Sousa (desenhos anatómicos) e alguns artefactos como esqueletos com anotações e pintura nos próprios ossos e o modelo de um aparelho reprodutor feminino, com os vários estágios de gravidez.
Resta dizer que todas as atividades propostas são gratuitas e abertas a toda a população.
Sobre o Dia Europeu do Património Académico
O Dia Europeu do Património Académico foi celebrado pela primeira vez, em Portugal, a 18 de novembro de 2021. Nesse data, 16 instituições de ensino superior nacionais responderam ao desafio de abrirem as suas portas à comunidade, lançado pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP).
A iniciativa partiu da Comissão Especializada de Cultura do CRUP, ativada pela Universidade Porto durante o primeiro Encontro Nacional Universidade e Cultura, realizado em dezembro passado.
O programa completo das iniciativas programadas para este ano podem ser consultadas aqui.