Um “devolve” à cidade um dos seus espaços comerciais mais emblemáticos. O outro promete ser “um marco histórico para a reorganização de todo o sistema de transporte público do Porto”. Falamos do Mercado do Bolhão e do Terminal Intermodal de Campanhã, duas obras significativas para o quotidiano da cidade, e cujos projetos foram desenvolvidos por docentes da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP).
O Mercado do Bolhão reabre ao público esta quinta-feira, dia 15 de setembro. Para trás ficam quatro anos de uma obra exigente – orçada em cerca de 22,3 milhões de euros – de restauro e modernização que procurou aliar a recuperação física do edifício, a atualização do emblemático mercado de frescos e a restituição da relação do equipamento com a cidade.
Da autoria do professor e arquiteto Nuno Valentim, o projeto de reabilitação do Mercado do Bolhão constitui um caso paradigmático de intervenção, restauro e conservação do património edificado, introduzindo novas demandas contemporâneas de acessibilidade, conforto e transparência na relação com a estrutura urbana envolvente.
“A classificação de ‘monumento de interesse público’, atribuída pela Portaria 613/2013 de 20 de setembro ao Mercado do Bolhão, reconhece valor patrimonial a duas dimensões indissociáveis – a singularidade do edifício «Beaux Arts», e a sua função como mercado tradicional”, começa por destacar o docente da FAUP e autor dos premiados projetos de requalificação do Jardim Botânico do Porto e de reabilitação do edifício dos Albergues Nocturnos do Porto.
Para Nuno Valentim, “a proposta de intervenção no edifício e mercado de 1914-1917, da autoria do arquiteto António Correia da Silva, assenta “na recuperação e valorização do edifício e na modernização necessária às exigências da atividade de mercado de frescos central e quotidiano do Porto”.
“Esta ação transformadora, mas atenta aos valores existentes, visa devolver identidade e coerência ao edifício, abrir o edifício à cidade e atualizar a sua função – numa ponderação exigente entre património material e imaterial”, sublinha o arquiteto, que cita Fernando Távora ao evocar o critério adotado no projeto: “continuar-inovando”.
Uma nova centralidade para Campanhã
Reabertas as portas do Bolhão, seguimos viagem até ao novíssimo Terminal Intermodal de Campanhã (TIC), uma infraestrutura projetada por Nuno Brandão Costa, também docente da FAUP, e que promete revolucionar a mobilidade na cidade do Porto com a criação de um grande interface comum para autocarros citadinos e regionais, comboios urbanos e de longo curso, metropolitano e táxi.
Projetando-se numa área de mais de 50 mil metros quadrados e contemplando oito cais de embarque e desembarque e uma área verde superior a 4,6 hectares (a maior cobertura verde alguma vez implantada num edifício público do Porto), o TIC – cuja abertura decorreu no final de julho – articula de forma exemplar infraestrutura, topografia e espaço público, ultrapassando a sua função e assumindo um papel fundamental na regeneração da zona de Campanhã.
Orçado em mais de 13 milhões de euros, o projeto concebido por Nuno Brandão Costa e recentemente distinguido com o prémio da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA) para Arquitetura 2021 “propõe um acerto territorial, que olha para a cidade num contexto amplo”. Para isso, o arquiteto e docente utilizou “o detalhe do programa e a sua complexidade funcional como solução para estabelecer a relação genérica de todos os elementos do sítio, artificiais e naturais, articulando a sua reposição no mapa urbano”.
Desenhado como “um dispositivo infraestrutural linear”, o Terminal é um equipamento que “estabelece um limite físico para a área de ferrovia. Do ponto de vista do desenho, a implantação resume-se a duas linhas, dispostas no terreno no sentido Norte-Sul, no limite da zona edificável, corrigindo a anacronia morfológica, pré-existente”.
Nas palavras do júri do Prémio AICA de Arquitetura 2021, “a obra [Terminal Intermodal de Campanhã] confirma o percurso de excelência do autor e constitui um marco assinalável na arquitetura portuguesa atual, pelo modo como privilegia os novos sistemas de mobilidade urbana e a consequente regeneração de uma área da cidade afetada, desde o século XIX, pela construção da estrutura ferroviária ainda existente e em funcionamento”.
Ainda de acordo com o júri, “trata-se de um dos mais relevantes projetos públicos em curso no Porto, articulando de forma exemplar infraestrutura, topografia e espaço público numa cidade que vai de novo ao encontro do território para a introdução dos sistemas naturais no seu desenho”.
Vamos (outra vez) ao Batalha!
Para além das duas obras referidas, deverá estar concluída até ao final do ano a reabilitação do Cinema Batalha, da autoria dos arquitetos e professores Eméritos da U.Porto, Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez.
Trata-se de uma obra que se reveste de especial importância na forma como a intervenção no património edificado materializa a memória e a história da cidade, no cruzamento da arquitetura com as outras artes.