Mais de três meses depois do anúncio, a estudante Diana Nadine Moreira, do Mestrado em Medicina Legal do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), recebeu, no passado dia 28 de abril, o Prémio João Monjardino 2021, numa cerimónia realizada nas instalações do ICBAS.

Promovido pela Fundação Francisco Pulido Valente (FFPV) em colaboração com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), o Prémio João Monjardino – no valor de 10 mil euros – distinguiu, nesta primeira edição, o trabalho intitulado “O Impacto da Pandemia por Covid-19 na precipitação de episódios de violência nas relações de intimidade”. Neste artigo , Diana Moreira propõe uma reflexão sobre o aumento de casos de Violência em Relações de Intimidade (VRI) no contexto da pandemia por Covid-19.

Para a premiada, atualmente a requentar o 2.º ano do curso, o reconhecimento do seu trabalho “constituiu um estímulo para a continuidade da investigação neste domínio”. A estudante exprimiu também a “necessidade de complementar a informação e a assistência à violência doméstica e mental”.

Para João Lavinha, Presidente do Conselho Consultivo da FFPV, a atribuição deste prémio “reforça a importância da investigação nas Ciências Biomédicas”. Sobre o trabalho vencedor, o responsável alertou para a preocupação acrescida com os temas da violência doméstica e da saúde mental, numa conjuntura atual marcada fortemente pela pandemia de Covie-19 e, mais recentemente, pela guerra na Ucrânia.

Helena Pereira, Presidente do Conselho Diretivo da FCT, enalteceu a pertinência do prémio, lembrando que a divulgação e contacto com as diferentes instituições, na área das ciências, “revestem a maior importância” nos dias de hoje. Daí a relevância das parcerias que desenvolvem a interação com a sociedade, aumentam “o carinho especial pelas instituições” e propiciam a sustentabilidade temática, a cooperação e as sinergias. Para além disso, “todas estas ações podem e devem motivar os jovens na procura da investigação”.

Quanto à temática da violência doméstica e saúde mental, Helena Pereira referiu o “estigma” e “receio” que, durante muito tempo, o tema apresentou no seio da sociedade, mas enfatizou a “mudança de paradigma na sociedade atual”.

Maria José Pinto da Costa, Diretora do Mestrado em Medicina Legal no ICBAS, lembrou por sua vez que a Medicina Legal constitui uma “ponte entre dois mundos”, pelo que há todo o interesse em que os estudantes tenham conhecimentos jurídicos para além do conhecimento médico.

Relativamente à violência doméstica e saúde mental, a docente do ICBAS teme que haja uma “espécie de retrocesso na relação de casal”, uma vez que, no seu entender, a mulher se deixa muitas vezes “subalternizar”, desde muito nova, esquecendo as dificuldades e a luta que gerações anteriores encontraram na “defesa de uma igualdade de género que ainda hoje não foi ultrapassada”.

Por fim, para a docente do ICBAS e orientadora do artigo  premiado, Mariana Pinto da Costa, “este trabalho tem muito valor porque foi realizado num período em que a pandemia requereu muito dos médicos de Medicina geral e familiar e mesmo assim a Diana, que é Médica de Medicina Geral e Familiar, conseguiu dar resposta a todas as frentes”.

A docente notoutambém que “o papel dos médicos de família é de uma importância crucial pois podem conseguir realizar a avaliação, identificação e sinalização dos casos de violência doméstica”.

A Cerimónia de Entrega do Prémio João Monjardino 2021 contou ainda com a participação do Diretor do ICBAS, Henrique Cyrne Carvalho. Foi oradora convidada da sessão a docente do ICBAS, Maria João Saraiva, com uma intervenção focada no legado de João Monjardino.

Maria José Pinto da Costa (Diretora do Mestrado em Medicina Legal), Mariana Pinto da Costa e Diana Moreira (Foto: DR)

Sobre o Prémio João Monjardino

O Prémio João Monjardino tem origem no Prémio Pulido Valente Ciência, um galardão criado em 2003 e que, durante quase duas décadas, distinguiu anualmente os melhores trabalhos científicos da autoria de jovens investigadores, nas diferentes áreas das Ciências Biomédicas e da Saúde.

A partir de 2021, o Prémio passou a ter o nome do seu principal impulsionador, João Monjardino, antigo médico e fundador do ICBAS, membro do Conselho de Administração da Fundação Pulido Valente, em vários mandatos, e Presidente do seu Conselho Consultivo até ao seu falecimento em 2020.

Em edições anteriores, o galardão premiou trabalhos em domínios ligados ao cancro, neurociências, imunologia, engenharia biomédica ou às doenças genéticas.