Diana Nadine Moreira, estudante de Mestrado em Medicina Legal do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, é a vencedora da primeira edição do Prémio João Monjardino, um galardão – no valor de dez mil euros – destinado ao melhor artigo científico publicado no último ano, por jovens investigadores (menos de 35 anos à data de candidatura), relacionado com o tema “Relação Médico-Doente: medicina personalizada e/ou medicina narrativa?”.

No artigo agora premiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pela Fundação Francisco Pulido Valente (FFPV), a também médica interna de Medicina Geral e Familiar – na Unidade de Saúde Familiar Santa Maria (Administração Regional de Saúde do Norte) – propõe uma reflexão sobre o aumento de casos de Violência em Relações de Intimidade (VRI) no contexto da pandemia por Covid-19.

“Tal como esta nova pandemia, a VRI é por si só um problema de saúde pública com importante impacto na saúde e qualidade de vida das vítimas e suas famílias e que afeta um grande número de pessoas a nível mundial. Várias organizações nacionais e internacionais registaram um aumento no número de denúncias de VRI durante a pandemia por Covid-19, o que levou a uma maior reflexão sobre possíveis causas associadas a esse aumento”, lê-se no abstract do artigo publicado no International Journal of Law and Psychiatry, com o título “The impact of the Covid-19 pandemic in the precipitation of intimate partner violence”.

De acordo com o estudo, do qual Diana Moreira é a primeira autora, “torna-se percetível a forma como as atuais políticas de isolamento e distanciamento social, surgem como potenciais fatores precipitantes de episódios de VRI, em que o agressor busca exercer controlo sobre a vítima”.

São ainda realçados os novos desafios enfrentados pelos profissionais de saúde na assistência às vítimas de VRI durante a pandemia, bem como um conjunto de recomendações sobre ações a serem implementadas durante e além da pandemia por Covid-19 na gestão destes casos.

A importância dos profissionais de saúde no combate à violência doméstica

Considerando “uma grande honra o reconhecimento deste artigo pela atribuição do Prémio Monjardino”, Diana Moreira reconhece que “o impacto desta publicação foi de certa forma uma surpresa”. Contudo, também “demonstra a necessidade e importância da investigação sobre violência doméstica com vista à criação de uma resposta eficaz a este problema. Os profissionais de saúde têm um papel fundamental na gestão destes casos e especialmente agora, com as medidas de isolamento em vigor, podem ser o único ponto de acesso das vítimas aos cuidados de que necessitam”, ressalva.

Mariana Pinto da Costa, professora auxiliar do ICBAS, orientadora e coautora do estudo, salienta por sua vez que “o Prémio João Monjardino é o reconhecimento da qualidade deste artigo que publicámos no âmbito do seu trabalho de Mestrado de Medicina Legal no ICBAS, e que num curto período de tempo conta já com mais de 130 citações”.

” É sabido que em situações de emergência, como esta pandemia da COVID-19, os casos de violência doméstica aumentam e, neste contexto, os profissionais de saúde têm um papel importante na proteção destas vítimas, deparando-se com desafios acrescidos em como lidar com estas situações”, nota a docente, mostrando-se confiante que o prémio “sirva de estímulo para a investigação na área da Medicina Legal, da Psiquiatria Forense e da Medicina Geral e Familiar”.

Promovido pela FCT e pela FFPV em homenagem ao antigo médico e fundador do ICBAS, o Prémio João Monjardino vem substituir o Prémio Pulido Valente Ciênciaque teve a sua última edição em 2020.