“Foi sempre inspirador e provocador”, para além de ser “um dos grandes apoiantes da criação do ICBAS, uma escola biomédica diferente, interdisciplinar e inovadora”. É desta forma que o cientista e professor emérito da Universidade do Porto, Alexandre Quintanilha, recorda João Monjardino, médico e fundador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), que faleceu no passado 31 de outubro, em Londres, aos 83 anos.

Natural de Lisboa, onde nasceu a 27 de dezembro de 1936, João Pedro Pulido Valente Monjardino licenciou-se em Medicina na Universidade de Lisboa (1961). Enquanto estudante, envolveu-se desde cedo nos movimentos de contestação estudantil, o que o levou à prisão. Obrigado a exilar-se em Londres, seria na capital inglesa que completaria o percurso académico – incluindo o Mestrado em Bioquímica (1964) e o Doutoramento em Virologia (1973) na Universidade de Londres – e viria a fazer toda a sua carreira de investigador na área médica.

De regresso a Portugal após o 25 de Abril de 1974, participou ativamente nas mudanças ocorridas no país ao nível do ensino e investigação da Medicina. Foi nesse âmbito que integrou a Comissão Instaladora do ICBAS (da qual era já o único sobrevivente), constituindo-se como figura central do projeto que levou à criação – em 1975 – e implementação do instituto.

“No inicio das atividades do laboratório de bioquímica [do ICBAS], deu uma preciosa ajuda e sempre estimulou quer o ensino quer a investigação. Não só foi essencial na formação de alguns de nós como foi igualmente promotor da qualidade que se imprimiu ao laboratório”, recorda Pedro Moradas Ferreira, professor catedrático de Bioquímica do ICBAS.

“Na altura da criação do ICBAS a minha ligação ao Doutor Monjardino foi através do Doutor Corino e do Prof. Nuno Grande e aprendi a apreciar as características excecionais tanto pessoais como profissionais”, destaca, por sua vez, o patologista Manuel Sobrinho Simões, fundador do Ipatimup e professor Emérito da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP).

A ligação de João Monjardino à fundação do ICBAS seria, de resto, reconhecida pela Universidade do Porto a 15 de outubro de 2002, data em que lhe atribuiu o título de Doutor Honoris Causa.

Um percurso inspirador

Investigador de referência na área da Virologia, João Monjardino destacou-se igualmente pelos trabalhos científicos sobre a biologia molecular dos vírus causadores das hepatites humanas, tendo publicado mais de 120 artigos em revistas internacionais e sido orador convidado em reuniões internacionais. A nível académico, supervisionou várias teses de doutoramento e deu aulas no prestigiado Imperial College London, inspirando, pelo caminho, várias gerações de cientistas.

Maria João Saraiva,  Professora Catedrática aposentada do ICBAS, foi um deles: “O Prof. Monjardino teve um papel fundamental na minha carreira como Cientista.  Foi por conselho e principalmente apoio dele que frequentei entre 1976-1978 o Master of Science on Biochemistry no University College da Universidade de Londres, curso que me forneceu bases que me guiaram posteriormente. Já depois, conversava frequentemente sobre as pesquisas em curso no meu laboratório e sempre tive muito bons conselhos e colaboração no estabelecimento de linhas celulares de hepatócitos”.

Apesar de radicado em Londres há várias décadas, manteve sempre uma forte ligação a Portugal. Fundador, membro do Conselho de Administração e Presidente do Conselho Consultivo da Fundação Professor Francisco Pulido Valente, desde a sua constituição, em 1991, foi o grande impulsionador do Prémio Pulido Valente Ciência, instituído em 2003.