“É uma grande honra e um prazer para mim!”. Foi desta forma que Margaret Atwood agradeceu a atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto, numa cerimónia realizada esta sexta-feira, no Salão Nobre da Reitoria.

Num breve agradecimento, a escritora canadiana lembrou a sua ligação à cidade. “O Porto é uma cidade linda e maravilhosa. Usufruí sempre das minhas visitas à cidade. Obrigada por este memória maravilhosa!”, referiu a centésima “Honoris Causa” da U.Porto.

A autora do celebrado romance The Handmaid’s Tale (“A História de uma Serva” na tradução portuguesa) terminou a sua intervenção lendo – “por solicitação” – The Moment, um dos seus poemas mais conhecidos.

“Os seus romances exacerbam o que já existe na nossa realidade”

Antes de Margaret Atwood receber as insígnias doutorais, compostas pelo escapulário, o anel – símbolo de colegialidade e irmandade com os restantes Doutores -, o Livro – símbolo de sabedoria – e o Diploma de Doutoramento, já o escritor argentino-canadiano Alberto Manguel havia subido a palco para fazer o Elogio da doutoranda.

Revisitando o trajeto da escritora, Manguel frisou que, “para [Margaret] Atwood a literatura de ficção cientifica inventa criaturas em mundos fantásticos enquanto os seus romances procuram simplesmente expandir ou exacerbar o que já existe na nossa realidade”. Contudo, e “embora seja conhecida pela sua ficção e os seus ensaios, são os seus poemas que melhor expressam a sua filosofia ética e social”, patente na “exploração dos temas da injustiça, da repressão, da censura de poder ou a indagação sobre identidade sexual”, ressalvou.

“Para Atwood, a inteligência adquirida pelas palavras pode conduzir a um mundo melhor. E o seu oposto, a estupidez, é o mesmo que o mal, se avaliarmos pelos frutos que dá”, sublinhou o elogiador.

A terminar a intervenção, Alberto Manguel lembrou que “a fama e uma irmandade de leitores em todo mudo fizeram de Atwood um alvo de toda a espécie de ataques injustos e maldosos. Acusada de ser tudo, desde má feminista a mulher branca merdosa, conserva a sua dignidade usando o humor e a razão”, concluiu.

Sobre Margaret Atwood

Com a atribuição do Doutoramento Honoris Causa a Margaret Atwood, a U.Porto celebra assim “a extraordinária qualidade da sua obra literária, a importância da sua reflexão intelectual e a pertinência do seu combate público por uma sociedade mais justa, digna e sustentável”, conforme se pode ler na proposta da Faculdade de Letras para a atribuição do doutoramento.

Autora de mais de 50 obras de diferentes géneros literários, Margaret Atwood soma alguns dos mais importantes prémios literários internacionais, com destaque para o Booker Prize em 2000 e 2019 (Reino Unido), o Prémio Príncipe das Astúrias para a Literatura em 2008 (Espanha), o Arthur C. Clarke Award (Reino Unido), o Prémio Mondello (Itália), o Prémio Giller (Canadá), o Franz Kafka Prize (República Checa) ou o PEN Center USA (EUA).

Temas como as alterações climáticas, os direitos das mulheres, as questões de género ou as desigualdades sociais, por exemplo, estão patentes em muitos dos seus livros e traduzem a faceta ativista da escritora canadiana de 82 anos.