Raul Leal: Leitor de Fernando Pessoa, Leitor de Si Mesmo ou A Criação do Futuro traz à luz do dia Textos sobre e para Fernando Pessoa, escritos por Raul Leal e pertencentes ao espólio do arquiteto Fernando Távora, que ao longo de décadas colecionou na sua biblioteca “parte substantiva de obras de autores do modernismo português”, lê-se no prefácio da publicação que passa a agora a integrar a coleção Transversal da U.Porto Press.

Este volume decorre de um trabalho realizado no âmbito do Grupo de Investigação “Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal”, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (IFUP), e é publicado em parceria com a Fundação Marques da Silva (FIMS) e a Editora da Universidade do Porto.

Raul Leal: Leitor de Fernando Pessoa, Leitor de Si Mesmo ou A Criação do Futuro. Textos sobre e para Fernando Pessoa será apresentado publicamente no próximo dia 27 de fevereiro, terça-feira, pelas 18h30, na FIMS.

A sessão, que será presidida por Fátima Vieira, Presidente da FIMS, Vice-Reitora da U.Porto para a Cultura, Museus e U.Porto Press, contará também com a presença dos coordenadores científicos da obra, Rui Lopo, Maria Celeste Natário e Renato Epifânio, para uma conversa sobre o livro, sobre Raul Leal, enigmática figura da geração de Orpheu, sobre literatura modernista em Portugal e o seu contexto filosófico e cultural.

A entrada é livre, ainda que sujeita à lotação do espaço.

A obra e o seu legado para o futuro

O acervo do arquiteto Fernando Távora, comodatado à Fundação Marques da Silva após a sua morte, é particularmente rico no que toca ao modernismo português, sendo “um dos exemplos maiores da riqueza documental deste acervo (…) o conjunto de inéditos manuscritos de Raul Leal sobre Fernando Pessoa”, afirma Maria Celeste Natário no seu prefácio.

A também docente da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP) salienta a relevância destes documentos para “incrementar o estado da arte dos estudos sobre Fernando Pessoa”, bem como o “conhecimento do polémico autor modernista de Sodoma Divinizada”.

Na sua apresentação da obra, Renato Epifânio refere-se à forma como este volume foi concretizado, dando conta de dificuldades encontradas, relacionadas ora com a “grafia excêntrica” de Raul Leal, ora com rasuras dos originais – das quais procuraram dar conta, por revelarem “o trabalho de releitura e revisão do autor” –, ora com a (i)legibilidade dos manuscritos – “nalguns casos, quase impossível”.

Ainda assim, Renato Epifânio faz um balanço “amplamente positivo” do trabalho realizado, explicitando a opção dos coordenadores por publicar “a transcrição dos textos conjuntamente com a reprodução digital dos mesmos e de uma extensa anotação exegética e hermenêutica”.

“Fac-símile” de um texto de Raul Leal [P.1 e P.2, pp. 136 e 138 do livro]. (Foto: DR)

Considera este trabalho como um “primeiro passo visível do muito que há ainda a fazer”: dar a conhecer a transcrição dos manuscritos de Raul Leal, integrando-os na história do pensamento português, enquanto contributo “para uma leitura mais complexa deste que é um dos mais originais pensadores portugueses do século XX (…), não só pela sua leitura original sobre Fernando Pessoa, como, a partir dela, pela proposta filosófica própria”.

Segundo Maria Celeste Natário, o conjunto de textos incluídos neste livro – com edição literária de Rui Lopo e colaboração na transcrição de Renato Epifânio – “procura dar conta do contributo de Leal para a História da Filosofia em Portugal, em relevante diálogo com a obra de Fernando Pessoa”, ficando claro, pela sua leitura, que “para este pensador a poesia de Pessoa exige uma leitura à luz da história da filosofia”.

Pessoa pela “lente” de Leal e Leal pela “lente” de Pessoa

Segundo Rui Lopo, o momento em que Leal e Pessoa se conheceram terá sido para Leal “como que um reconhecimento”, dado considerar que, “mesmo antes de se conhecerem, já Pessoa comungaria de algumas das suas próprias concepções filosóficas fundamentais”.

Por outro lado, registos de Fernando Pessoa, datados de 1915, dão conta de “leitura em comum e de entendimentos partilhados”, porventura a partir de 1914. Na Introdução a esta obra, Rui Lopo nota que “Pessoa regozija-se com a apreciação e compreensão que Leal demonstra dos poemas seguramente inéditos que lhe vai lendo (…)”.

Ao longo dos seus textos, Raul Leal refere-se por diversas vezes a Pessoa como “grande amigo”, “um dos oito maiores de Portugal”, enquanto autor, “artista-pensador” ou “velho companheiro das lutas de Orpheu” (juntamente com Mário de Sá-Carneiro, que também vai recordando).

A edição de 1960 da sua obra Sindicalismo Personalista foi, aliás, dedicada “À memória sagrada do meu grande amigo Fernando Pessoa, alto espírito que trago sempre na minha alma criadora, iluminando-me o pensamento, o sonho e a vida.

Raul Leal: Leitor de Fernando Pessoa, Leitor de Si Mesmo ou A Criação do Futuro. Textos sobre e para Fernando Pessoa está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.