Na sua segunda visita a Portugal, o escritor e cineasta Abdellah Taïa estará na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), numa iniciativa cultural conjunta da Embaixada de França em Lisboa e da Associação Portuguesa de Estudos Franceses, a promover a sua primeira obra publicada em português e em Portugal, intitulada Aquele que é digno de ser amado.

Oriundo de um país onde a homossexualidade ainda é crime, Abdellah Taïa foi o primeiro escritor do mundo árabe a assumir a sua homossexualidade numa carta publicada em 2006, no semanário Tel Quel.

Sobre o romance Celui qui est digne d’être aimé, Paris, Seuil, lançado originalmente em 2017 e agora publicado em Portugal pela Editora Maldoror (com tradução de Diogo Paiva), Abdellah Taïa reconheceu, em entrevista à RTP, “que a escrita existe para fazer existir e mudar as coisas e modificar a relação entre nós e também (…) para provocar, pronto, para provocar, não só para ficar na ternura banal, mas sim no fogo. E eu acho que este livro não é nada calmo. É um livro, é como uma tempestade no meio do oceano, esse livro é um livro que nunca se acalma.

“É um choro. O tempo todo, o tempo todo, o tempo todo. Um chamamento, mas ao mesmo tempo, não é um chamamento para acalmar as coisas, pelo contrário, para colocar ainda mais fogo e ondas na tempestade”, acrescenta.

A apresentação da obra terá lugar no dia 11 de março, pelas 18h00, na Casa dos Livros, e ficará a cargo  Maria de Fátima Marinho, Professora Catedrática Jubilada d  Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos da FLUP. A entrada é livre,

Também no dia 11 de março, mas pelas 9h00, Abdellah Taïa vai estar na FLUP para um Encontro com os Estudantes da faculdade.

O programa da visita do escritor marroquino termina no dia 12 de março, pelas 16h00, com a projeção do filme L’Armée du salut (A. Taïa). Participam nesta sessão os docentes David Pinho Barros e Jorge Vicente Valentim e do investigador Jorge Gato (FPCEUP)).

Sobre Abdellah Taïa

Abdellah Taïa nasceu em Salé, próximo de Rabat, em Marrocos, a 8 de agosto de 1973. Cresceu numa família modesta e numerosa, de nove irmãos, e cedo se interessou pelo mundo do cinema. Viria, contudo, a dedicar os seus estudos À literatura francesa, primeiro na Universidade de Rabat, e mais tarde em Genebra. Doutorou-se na Sorbonne (Paris), com uma tese sobre Fragonard.

O gosto pela escrita surgiu ainda nos tempos de faculdade, e, em 2000, publicou o seu primeiro livro de contos; Mon Maroc, onde revive memórias de infância num registo autobiográfico. Aventurou-se, desde então, em peças de teatro, colaboração com outros autores, e vários romances, de que se destaca L’Armée du salut, de 2006, que o próprio adaptou ao cinema e realizou, apresentando a sua primeira longa-metragem em 2014, e pelo qual recebeu o Grande Prémio do Júri no Festival Premiers Plans d’Angers; e Le Jour du roi, de 2010, que lhe valeu o Prix de Flore.

A homossexualidade em contexto árabe e muçulmano, mais especificamente marroquino, e a condição migrante em França; eis as temáticas que atravessam a obra de Abdellah Taïa que, apesar de escrever em francês, e dos 20 anos que já leva a residir em França, escreve sobre o seu país sem nunca denunciar essa distância.