A Universidade do Porto vai receber, de 13 a 15 de outubro, a 7.ª edição do Queer Porto – Festival Internacional de Cinema Queer. Para além da projeção de filmes e organização de debates, a participação da U.Porto inclui ainda o lançamento do Prémio Casa Comum, dedicado ao cinema queer português.

O ativismo LGBTQI+ e o impacto que tem tido na transformação das mentalidades, a forma como a pandemia do HIV / sida transformou as comunidades queer, as problemáticas (pessoais, sociais e clínicas ligadas aos processos de transição) vividas pelos indivíduos transgénero, ou o duplo estigma sofrido pelas pessoas com deficiência física ou doença mental são questões que se cruzam com outras ligadas às migrações, aos refugiados, aos direitos humanos ou até às relações familiares. Para explorar este “palimpsesto” de realidades, as sessões de cinema serão acompanhadas de conversas com personalidades ligadas às artes, ao ativismo e à academia.

O programa arranca na tarde de 13 de outubro, quarta-feira, com a exibição do documentário Cured, de Patrick Sammon e Bennett Singer (EUA, 2020, 80’), às 18h00, no Auditório Ruy Luís Gomes, ao edifício histórico da Reitoria. Forcado nos ativistas pioneiros que declararam guerra ao preconceito, com vitórias cruciais para o movimento pela igualdade LGBTQI+, o filme vai servir de mote para uma reflexão sobre saúde mental e os preconceitos clínicos em relação a indivíduos queer.

A conversa vai contar com a presença de Jorge Gato, psicólogo clínico e docente da FPCEUP, e Mia de Seixas, representante da Rede Ex-Aequo Porto.

“Cured”, de Patrick Sammon e Bennett Singer. (Imagem: DR)

The City Was Ours. Radical Feminism in the Seventies, de Netty van Hoorn (Holanda, 2020, 70’) é a proposta para dia 14 de outubro, quinta-feira, às 18h00, também no Auditório Ruy Luís Gomes, à Reitoria. Esta será uma oportunidade para trazer à memória o julgamento das “três Marias”, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, relacionado com a publicação do livro Novas Cartas Portuguesas, proibido pela censura. O caso levou à ocupação da Embaixada de Portugal em Haia, num gesto internacional de solidariedade para com as escritoras portuguesas.

Considerado uma força motriz no seio do feminismo holandês, o movimento lésbico na Holanda será também abordado neste The City Was Ours. Radical Feminism in the Seventies. Procurando ir para além da participação em grupos de consciencialização, manifestações e squats, este movimento, fortalecido na década de 1970, esteve na vanguarda de movimentos ativistas como o Purple September e a Lesbian Nation, e foi responsável pela abertura de cafés, livrarias, revistas, arquivos, gráficas e um coletivo de filmes, todos dirigidos a mulheres.  O documentário será seguido de uma conversa com Ana Luísa Amaral, poeta, professora jubilada, pioneira dos estudos feministas e dos estudos queer na FLUP.

“The City Was Ours. Radical Feminism in the Seventies”, de Netty van Hoorn (Imagem: DR)

Também no dia 14 de outubro, mas um pouco mais cedo, às 17h00, na Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP), passa Gendernauts (Alemanha, 1986, 99’), de Monika Treut. O documentário, sobre identidade transgénero, acompanha os protagonistas de uma comunidade da cidade de São Francisco. Por nascimento ou escolha, recorrendo a tratamentos hormononais ou próteses cirúrgicas, vamos conhecer personagens que baralham os limites do masculino e do feminino.

Após a exibição do documentário, terá lugar uma masterclass com a realizadora Monika Treut.

Finalmente, na sexta-feira, dia 15 de outubro, quando forem 18h00, as luzes do Auditório Ruy Luís Gomes vão apagar-se para vermos Famille Tu Me Hais (França, 2020, 52’), de Gaël Morel. Para além da homofobia e transfobia, nomeadamente nas relações familiares, o documentário – focado num conjunto de jovens que foram expulsos de casa por causa da sua sexualidade – chama a atenção para a necessidade de criação de redes de apoio LGBTQI+.

Para falar sobre todos estes temas estará presente Telmo Fernandes, sociólogo, representante da ILGA Portugal, e Paula Allen, psicóloga e diretora técnica do Centro Gis.

A entrada para as sessões e debates é livre, ainda que limitada à lotação da sala.

Prémio Casa Comum

Uma das novidades da edição deste ano do Festival é a criação do Prémio “Casa Comum”, dedicado exclusivamente ao cinema queer português. O objetivo passa por abrir espaço para o trabalho de realizadores nacionais e para histórias, vivências e problemáticas ligadas às vidas e à cultura queer.

Esta primeira edição do galardão terá nove curtas metragens portuguesas em competição. Errar a noite, na exploração das “sombras que nela se escondem”, é a proposta de Flávio Gonçalves. Já Tiago Resende, em Películas, incide o olhar numa carta enviada a Luís Miguel Nava e recorre a vídeos caseiros de família para evocar o poeta. André Murraças recupera, por sua vez, um conto de António José da Silva Pinto, em O Berloque Vermelho, e Paulo Patrício recorda-nos Gisberta, a transexual assassinada no Porto, com O Teu Nome É.

Com traços distópicos, A Mordida, de Pedro Neves Marques, re-imagina uma epidemia onde um mosquito é metáfora política de guerra e genocídio. Filme biográfico, Geografia do Amor: Vol. 1, de Diego Bragà, evoca a memória do tio, vítima de sida. Uma jornada espiritual sobre o arquivo pessoal colecionado nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Também de fantasmas vive a ficção criada por Sebastião Varela, em Naufrágio, reflexão sobre o transitório a partir do encontro entre dois rapazes. Pedro Barateiro apresenta-nos Monólogo para um Monstro, uma “criatura” não-binária, num constante redesenhar-se de si próprio.

Por fim, Tracing Utopia, de Catarina de Sousa e Nick Tyson, coloca-nos perante um conjunto de questões, nomeadamente a possibilidade de criação de espaços seguros.

“Geografia do Amor: Vol. 1”, de Diego Bragà. (Imagem: DR)

As sessões desta competição terão lugar no Pequeno Auditório do Rivoli. O júri é constituído pelos seguintes membros pertencentes à U.Porto: Ana Gabriela Cabilhas (Presidente da FAP), Jorge Gato (docente da FPCEUP) e Marinela Freitas (Investigadora).

A 7.ª edição do Queer Porto – Festival Internacional de Cinema Queer acontece de 12 a 16 de outubro, em diferentes espaços da cidade do Porto.