O ciclo chama-se O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar, tem curadoria de Sílvia Simões, e traz, a partir do dia 2 de outubro, uma nova proposta à Casa Museu Abel Salazar (CMAS): Coreografias do riso, de Bárbara Fonte. É uma exposição de desenho que surge no âmbito das Jornadas Europeias do Património e pode ser visitada até 27 de novembro, .
A exposição apresenta desenhos a preto e branco, grande escala, a tinta da china e ainda um trabalho em vídeo, onde se explora o papel do riso, em contexto público e privado. O convite foi estendido a Bárbara Fonte há dois anos, altura em que começou a aprofundar a investigação sobre o desenho de Abel Salazar.
De início, a artista julgou que iria estabelecer uma relação com os micro organismos que o médico e artista plástico desenhou com base nas observações que fazia ao microscópio, mas foi sendo surpreendida por outras descobertas, novas perspetivas e, como consequência, desenvolveu outras aproximações.
A diversidade de campos de interesse de Abel Salazar levou, assim, Bárbara Fonte por caminhos que não tinha sequer previsto, nomeadamente com a descoberta de um livro de caricaturas que o então estudante, de 15 ou 16 anos, tinha feito dos professores. E esta é a altura em que os micro organismos ganham outra vertente: a da sátira.
Numa conversa com Sílvia Simões, curadora do ciclo de exposições e professora da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), Bárbara Fonte identifica a “sátira, a ironia e a comédia” dos trabalhos expostos, numa relação com o teatro e drama. Fazer uma caricatura, diz-nos Bárbara Fonte, implica “uma empatia e uma troça”. Há, efetivamente, uma “aproximação” àquele que é representado e depois um “afastamento” que permite a criação da caricatura.
Explorar desse lado ridículo “é uma coisa intimista”, ao qual não é alheio “um certo nível de maldade”. Algo que até se esconde porque “não é para mostrar”. Simultaneamente, aos “rostos de riso largo, ou riso exagerado” também se associa “uma postura de superioridade e segurança. Há um certo lado de autoridade de quem ri”, nota a artista.
O riso enquanto espaço de troça e de medo
Com desenhos em grande escala, Coreografias do riso apresenta formas viscerais por descobrir. O riso surge, nas palavras de Bárbara Fonte, “enquanto espaço de troça e de medo, de idiotice e de agressão, de animalidade e honestidade, de verdade e de satisfação, de prazer”.
Mote para esta exposição e inquietação que a artista promete continuar a explorar, o riso também lhe surge do sonho. Será o “medo de ser alvo de riso” atira Bárbara Fonte. “Ao mesmo tempo estou sempre a procurar esse riso (…) Gosto de fazer com que o riso apareça. Gosto dos extremos”. A propósito desta exposição diz ainda que “o gracejo e a sátira são instrumentos de entendimento humano, onde a carne dá passagem aos estados psíquicos e o desenho acede à máscara.”
Bárbara Fonte é licenciada em Pintura e Pós-graduada em Teoria e Prática do Desenho pela FBAUP. Tem desenvolvido trabalho criativo na área do desenho, da fotografia, do vídeo, da performance e da instalação. Participou com textos e ilustrações em revistas e livros e expõe regularmente, em parceria com outros autores ou individualmente, em diversas galerias e espaços culturais desde 2001.
O desenho contemporâneo de Abel Salazar
Esta é a quinta exposição do ciclo O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar. Sílvia Simões, curadora do ciclo, pretende com esta iniciativa colocar a obra artística do antigo investigador e professor da Universidade do Porto, Abel Salazar, numa relação dialógica com desenhos de artistas contemporâneos, salientando a relevância dos desenhos na atualidade.
A conversa entre a curadora e Bárbara Fonte pode ser ouvida na íntegra aqui.
Com entrada gratuita, Coreografias do riso ficará patente na Casa-Museu Abel Salazar até 27 de novembro. A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 18h00. Aos sábados, abre portas das 14h30 às 17h30. Encerra aos domingos e feriados.