Patente desde novembro passado nas galerias da Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto, a exposição Bonecos de Barcelos – Identidade, Tradição e Criação reúne cerca de 200 peças provenientes do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP) e das doações dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez. Com chancela da U.Porto Press, o catálogo da exposição será lançado no próximo dia 4 de março, às 18h00, na Casa Comum.

“A cerâmica figurativa de Barcelos constitui uma das mais belas e intrigantes manifestações da cultura e da identidade portuguesas”, afirma, no prefácio da obra, o Reitor da U.Porto.

“Delirante, quase alucinada, parece confirmar a cada boneco, a cada esgar dos seus desorbitados olhos, a ideia segundo a qual as mãos dos artesãos das freguesias de Galegos São Martinho e Galegos Santa Maria possuem um misterioso poder demiúrgico, singular ao ponto de combinar as mais arreigadas manifestações de religiosidade com figuras de feição pagã, quase demoníacas”, sublinha António de Sousa Pereira.

Mais do que “um gesto de reconhecimento e de gratidão”, a realização da exposição e a produção deste catálogo manifestam “um compromisso: ao zelo, à dedicação, à confiança e à generosidade dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez”. A estes, refere o Reitor, “retribuirá a Universidade do Porto com a firme determinação de tudo fazer para preservar e continuar a divulgar o extraordinário acervo que nos legaram”.

Alves Costa e Sergio Fernandez eram ainda estudantes da Escola Superior de Belas Artes do Porto (precursora da Faculdade de Belas Artes da U.Porto) quando decidiram questionar o imaginário criado pelas narrativas do Estado Novo. Com o objetivo de contextualizar as coleções na dinâmica identitária do país, nas décadas de 1950 e 1960, falam do “Portugal rural” que encontram quando, ainda com 20 anos, decidiram viajar por “montes e vales, muitas vezes a pé, do Alto Minho a Trás-os-Montes e ao Alentejo”.

Entre sentimentos de deslumbramento e revolta, sentiram-se “esmagados pelo paradoxo da beleza e da autenticidade sem retoques e da miséria, da falta de instrução e de cuidados de saúde, tantas vezes sem garantia da própria sobrevivência”.

Os dois arquitetos prestam ainda homenagem ao professor António Quadros e à sua aproximação pioneira ao figurado de Barcelos, “logo seguido por um grupo maior de artistas”, tendo, assim, chamado a a atenção para esta “expressão da arte popular”. Entre todas as mensagens possíveis, que se poderiam extrair da exposição, elegem uma: a divulgação do figurado “na sua totalidade, como obra de arte e não como objeto de investigação antropológica ou etnográfica, colocando-o, assim, no território da História da Arte”.

A exposição “Bonecos de Barcelos – Identidade, Tradição e Criação Artística” pode ser visitada até 2 de março, nas galerias da Casa Comum. (Foto: DR)

O catálogo apresenta ainda textos de João Leal (CRIA/FCSH – UNL), José Carlos Pereira (FBAUL/CIEBA), Maria Fernandes (Museu de Alberto Sampaio / Museus e Monumentos de Portugal), Rita Gaspar (MHNC-UP), Rita Maia Gomes (IHA NOVA FCSH/IN2PAST), Sónia Vespereira de Almeida (CRIA / FCSH – UNL/IN2PAST), Sergio Fernandez e Alexandre Alves Costa.

Para além das fotografias das peças, de autoria de Egidio Santos, o Catálogo de Bonecos de Barcelos – Identidade, Tradição e Criação Artística faz todo um mapeamento da exposição com recurso a plantas de arquitetura, fotografias, desenhos etnográficos, capas de revistas, quadros, postais e outros documentos que contextualizam os caminhos que obedeceram à construção deste itinerário de vida.

A sessão apresentação do catálogo contará com a presença da Vice Reitora para a Cultura e Museus, Fátima Vieira, e dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez.

A entrada é livre.