São obras de grande formato que obrigam a dar uns passos atrás, para poder ver melhor. Entre Folhas, Sobre Paredes é o nome da exposição que ficará  patente a partir desta terça-feira, 4 de maio, e até início de junho, na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP).

Com curadoria de Cristiana Vieira, Curadora do Herbário do MHNC-UP, e Emília Ferreira, Diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), trata-se de uma exposição de desenhos de António Faria.

A ilusão do mergulho na floresta

Vive e trabalha em Lisboa, onde nasceu em 1966, mas é essencialmente a paisagem verde de Sintra, onde também viveu, que marca o trabalho deste designer gráfico, professor e artista plástico.

Foi desde muito cedo que António Faria se ocupou do “mistério do movimento das linhas”, refere Emília Ferreira, um mistério que reside “no silêncio e entre as exigências de um sentimento de melancolia”.

O seu trabalho coloca-nos perante “um labirinto de linhas que, entre as sombras e a luz, deixa passar a ilusão do mergulho na floresta”, acrescenta a Diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea.

Embora resultem de uma composição modular, uma vez que são constituídos por diferentes partes, como um puzzle, cada desenho constitui uma ideia apenas. É a escala que esta ideia assume que nos faz dar um passo atrás e usufruir do caracter imersivo da obra de António Faria.

O recurso à cor, no trabalho do artista, surge como resposta a uma necessidade de luz e vibração, alimentando questões mais emocionais do que simbólicas, enquanto que o carvão, presente em desenhos mais recentes, lhe trouxe uma maior liberdade ao gesto.

A força do vento como antítese à melancolia

António Faria começou por querer fazer cinema de animação. Depois banda desenhada. Mas tinha pouca paciência… Até que o pai lhe disse: “Se pensares que uma só imagem contém todo esse movimento…” Foi esta a pista que seguiu até chegar à ideia de introduzir movimento no desenho. Daí “a presença do vento” na sua obra plástica, o que resulta, precisamente, “da grande necessidade de movimento, de ação”, do “ir para além da melancolia”, conta António Faria numa entrevista a Emília Ferreira e Lúcia Saldanha, coordenadora do projeto “Portugal entre Patrimónios” do MNAC.

Para o artista, a Floresta é um espaço onde faz sentido estar. Já fez várias vezes o Caminho de Santiago de Compostela e acha até “que é uma coisa um pouco espiritual”.

A Floresta é o tema comum às obras em exibição na Galeria da Biodiversidade. (Foto: MHNC-UP)

Hoje, é como professor de desenho que aprende muito com os alunos sobre animação de videojogos e cultura manga, enquanto partilha com eles “outras referências que vêm da banda desenhada franco-belga das vanguardas e cultura underground americana”.

A propósito do “desvio” do cinema de animação, lembra o que disse, uma vez, Ana Hatherly, numa aula. A professora, escritora, realizadora e artista plástica portuguesa confessou que, na realidade, queria ter sido cantora lírica, o que, por questões de saúde, não aconteceu. Ainda assim, não esqueceu o que o médico, na altura, lhe terá dito: “a criatividade é como um prego num saco plástico, acaba sempre por sair”.

Entre Folhas, Sobre Paredes surge no âmbito do projeto “Portugal entre Patrimónios“, do MNAC, e estará patente até 6 de junho, na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, ao Jardim Botânico do Porto.

Com entrada gratuita, a exposição pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00 (último acesso às 17h30).