As janelas da Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto vão abrir-se para um novo diálogo interartístico. Com base nos poemas de Ana Luísa Amaral, Helena Rocio Janeiro apresenta Se paredes me dão liberdade. A exposição inaugura no próximo dia 23 de abril, às 18h30.

Quando atravessar as arcadas do Edifício Histórico da U.Porto, repare nas janelas da Casa Comum. Poderá, logo aí, reparar na beleza, claro, mas também na elasticidade da palavra escrita. Quantos corações se podem respigar de um texto?

Mas há também poemas com pontos de interrogação que se agarram à pele como um anzol na boca do peixe. E por isso, a artista não poderia parar aqui. Tinha de fazer reverberar o contexto social e histórico que nos circunscreve, as convicções e a consciência de nós próprios e do que nos norteia… O espaço de liberdade que decidimos ocupar. Quantas vezes o texto nos convoca e observa? E há, efetivamente, “olhares avulsos”, extraídos dos poemas de Ana Luísa Amaral. Que nos observam. Em silêncio. Das palavras da poeta, Helena Rocio Janeiro desenlaçou ainda corpos que deixou em suspenso e braços que os tentam agarrar.

Antes ser tudo e livre do que bom mas humilde, ou Se eu cantasse o amor sem resultado ou causa, seria mais sensata, ou, até, A cada um sua verdade e seu inferno. Esta é apenas uma parcela do “terreno” onde Helena Rocio Janeiro “lavrou a sua safra”. Tal como o texto pode ter múltiplas camadas de significado, também o trabalho de Helena Rocio Janeiro vive de um jogo de sobreposição de suportes. Recorre e conjuga imagens improváveis com frases e reptos marcantes que continuam connosco, tempos depois de os termos lido. Em simultâneo, reconfigura narrativas pré existentes. É de recortes e textos antigos que faz brotar mensagens que nos questionam e mordem o pensamento. O sentido de humor assume uma presença transversal aos vários suportes que desenvolve.

Esta é mais uma iniciativa integrada no programa de homenagem Ana Luísa Amaral, Figura Eminente da U.Porto 2023 – 24. Após a inauguração, a 23 de abril, a exposição Se paredes me dão liberdade vai manter-se até dia 11 de maio. A entrada é livre.

A exposição “Se paredes me dão a liberdade” inaugura dia 23 de abril. (Foto: DR)

Helena Rocio Janeiro

Com formação em Artes Plástica, Helena Rocio Janeiro vive no Porto. Em maio de 2012, criou o projeto de colagens “Coração o Ditador” onde explora a empatia, a simbologia do inconsciente coletivo e a poesia visual. Trabalha com imagens originais selecionadas de revistas, jornais e livros, recorrendo a diferentes suportes para as colagens, nomeadamente papel, livros, loiças, estruturas tridimensionais, entre outros.

Para a artista, o “corta e cola existencial” representa “o cruzamento do mundo tangível com o intangível, onde tanto materiais como conceitos são sucessivamente dissecados, transformados e reciclados”. Foi através das colagens que encontrou o seu modo de expressão, e uma forma de criar pontes de empatia, “brincando com os símbolos e o inconsciente coletivo”.

Com sentido de humor e recurso a algumas “subversões”, a sua obra pretende “levar o observador a refletir”. A sua “poesia visual” tenta “transformar a linha do tempo num imenso círculo”, obedecendo a uma busca constante como “elemento essencial” ao “processo de transformação contínua”.