Um estudo coordenado por investigadores do CINTESIS e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) mostra que a alteração dos hábitos alimentares permite, em apenas 12 semanas, reduzir a ingestão de sal e a pressão arterial, um importante fator de risco para doenças cérebro e cardiovasculares.

O projeto ReEducar – Reeducação para uma alimentação saudável teve como objetivo reduzir o consumo de sal, tendo contado com cerca de 300 voluntários adultos, de entre 1500 candidaturas registadas. As estratégias consistiam na promoção da literacia alimentar e da alteração de estilos de vida, por via de sessões de formação presencial e acompanhamento ao longo das 12 semanas de intervenção. Durante este período, foram ainda feitas várias avaliações clínicas, incluindo medições da pressão arterial e da urina de 24 horas e medição do perímetro da cintura.

Os resultados apontam para uma alteração favorável dos padrões alimentares, com um aumento do consumo de hortícolas, de frutas, de leguminosas e de peixe, ou seja, uma maior adesão ao padrão alimentar mediterrânico, e uma diminuição do consumo de carnes processadas e de salgadinhos.

Esta alteração alimentar resultou numa redução do consumo de sal, sobretudo quando este era mais elevado (até 0,6 gramas/dia) e num aumento da ingestão de potássio. Como consequência, foi registada uma redução da pressão arterial de 2,1 mmHg. Mesmo em indivíduos com pressão arterial mais elevada foi possível observar uma redução da pressão arterial de 9 mmHg.

“Estamos no caminho certo”

“A ideia não é reduzir apenas os alimentos ricos em sódio, que é o vilão, mas também aumentar os alimentos ricos em potássio, que é protetor. Quanto mais baixo for o rácio sódio/potássio, melhor para a saúde”, afirmou Jorge Polónia, coordenador do projeto, lembrando que, no estudo PHYSA, que também coordenou, se demonstrou que os portugueses consomem cerca de 10 gramas/dia de sal, isto é, o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O estudo foi coordenado por Jorge Polónia, investigador do CINTESIS e da FMUP. (Foto: DR)

Relativamente à pressão arterial, o especialista realçou que “uma redução de apenas 2 mmHg permite uma redução significativa do risco de acidente vascular cerebral, de doença coronária e de morte. Esta é uma intervenção fundamental em termos de saúde pública. Estamos longe do que seria desejado, mas estamos no caminho certo para a redução da mortalidade cardiovascular”.

Ainda segundo o investigador do CINTESIS/FMUP, “todas as intervenções terapêuticas devem começar por alterações nos estilos de vida e só depois vêm os medicamentos, quando necessário. A intervenção nutricional é preventiva e terapêutica”.

Jorge Polónia advoga ainda uma mudança na política fiscal que premeie os alimentos saudáveis, considerando que “não basta taxar os alimentos ditos não saudáveis”.

As principais conclusões do estudo foram apresentadas no Dia Mundial da Alimentação, em Lisboa, por Jorge Polónia e por Conceição Calhau, investigadora do CINTESIS/Nova Medical School.  Na sessão participaram outros investigadores da FMUP, nomeadamente André Rosário, que explicou o desenho do estudo ReEduca, e Carla Rêgo, que também interveio no debate.

O estudo ReEducar insere-se no programa “Menos Sal Portugal”, promovido pela CUF e pelo Pingo Doce.