A investigadora Salomé Pinho, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, acaba de receber, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, um financiamento superior a um milhão de dólares para descobrir biomarcadores preditivos e causais da Doença Inflamatória Intestinal (DII) e desenvolver novas estratégias de prevenção.
Na prática, o projeto consiste na caracterização de uma população de militares norte-americanos que desenvolveram Doença Inflamatória Intestinal (doença de Crohn e colite ulcerosa). A investigadora portuguesa e a sua equipa irão analisar dados e amostras de um elevado numero desses militares até seis anos antes do diagnóstico da doença. “Como eles fazem análises de rotina, todos os anos, iremos ter acesso a dados e amostras de soro numa fase pré-clínica, antes do desenvolvimento da doença, o que é algo inédito”, explica Salomé Pinho.
Segundo a investigadora e líder do grupo “Immunology, Cancer & GlycoMedicine” do i3S, trata-se de “um estudo pioneiro que caracteriza uma população única a nível mundial (antes e após o diagnóstico da DII) que permitirá identificar biomarcadores que possibilitarão um diagnóstico precoce da doença e, desta forma, a implementação de estratégias preventivas primárias (prevenindo o aparecimento da doença em indivíduos saudáveis) ou secundárias (que visam atrasar o inicio e progressão clinica da doença em indivíduos de risco)”.
O projeto tem a duração de três anos e começará por caracterizar, com recurso a técnicas avançadas na área da glicoproteómica, estas amostras biológicas de militares dos EUA. Isso permitirá identificar “assinaturas moleculares” (biomarcadores) associadas ao desenvolvimento da doença e possíveis de serem identificadas numa fase ainda pré-clinica, ou seja, antes da manifestação de sintomas da doença.
O projeto liderado pela equipa do Porto conta com a colaboração de investigadores do centro de investigação médica da Marinha Norte Americana e de especialistas na área da DII do Hospital Mont Sinai em Nova York, sendo que quase 90 por cento do projeto vai ser desenvolvido no i3S. “Vai-nos permitir investir em equipamento de ponta e em recursos humanos diferenciados”, adianta a investigadora, que é também docente convidada da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP)
O grupo de Salomé Pinho no i3S tem realizado estudos pioneiros na área da DII, tendo já identificado alterações no perfil de expressão de carboidratos (glicanos) à superfície de linfócitos T intestinais. Estes estudos têm permitido, não só a identificação de marcadores de prognóstico, como a identificação de novas ferramentas terapêuticas para estes doentes.
A Doença Inflamatória Intestinal (Colite Ulcerosa e Doença de Crohn) é considerada uma doença global do século XXI. Afeta cerca de 2,5 milhões de pessoas na Europa, e estima-se que cerca de 15 a 20 mil indivíduos sofram da doença em Portugal. Trata-se de uma doença crónica do trato gastrointestinal que afeta sobretudo indivíduos jovens em idade ativa. Não havendo uma causa conhecida, não há forma de ser prevenida. Como tal, existe uma necessidade urgente na prática clinica de novos marcadores que auxiliem um diagnóstico precoce de forma a serem implementadas estratégias preventivas que visem impedir e/ou atrasar o desenvolvimento da doença.
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