29% dos rapazes e 34% das meninas do Norte de Portugal apresentam níveis deficitários de iodo, um nutriente essencial para o desenvolvimento cognitivo. No Grande Porto a situação é ainda mais crítica, com 37% das crianças afetadas. O alerta é dado por uma equipa do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que avaliou 2018 crianças dos 6 aos 12 anos de idade, num trabalho de campo que se prolongou por seis meses.
Em vésperas de arrancar o ano letivo, a equipa de investigadores liderada por Conceição Calhau revela que as escolas ignoraram a indicação dada pela Direção-Geral da Educação, num documento de 2013 (Circular n.º 3/DSEEAS/DGE/2013), que define claramente a utilização de sal iodado na preparação das refeições escolares. Das 83 instituições de Ensino das áreas do Grande Porto, Tâmega e Entre Douro e Vouga monitorizadas pela equipa de investigação do CINTESIS, nenhuma estava a usar sal com iodo no momento da avaliação.
“A falta de iodo na alimentação pode comprometer o Quociente de Inteligência em 15 pontos”, alerta a especialista, apelando à adoção imediata de “políticas de intervenção e, necessariamente, de monitorização” que assegurem o cumprimento da indicação da DGE em todas as escolas do país.
O cenário é agravado pelo desconhecimento das famílias relativamente à necessidade de usarem sal suplementado com iodo na alimentação dos filhos: 68% dos pais inquiridos nunca tinha ouvido falar de sal iodado. Quando questionados sobre o sal de uso no domicílio, 35% dos pais não sabia se era iodado e só 8% indicaram que usavam sal enriquecido com iodo. Mas, quando a equipa de investigadores avaliou amostras do sal existente em casa, concluiu que menos de um quinto desses 8% usava, de facto, o sal iodado.
Para resolver o problema da carência de iodo nas crianças portuguesas, Conceição Calhau defende uma medida de grande impacto e baixo custo: “a criação de uma lei que obrigue à iodização universal de todo o sal para consumo humano, de forma a que, com baixo consumo de sal, se consiga o aporte necessário de iodo”. Esta é uma medida já implementada noutros países e recomendada pela Organização Mundial de Saúde que reconhece que a deficiência de iodo constitui um importante problema de saúde pública e já anunciada pela DGS em 2013.
Presente em alimentos como a cavala, o mexilhão, o bacalhau, o salmão, a pescada ou o camarão, mas também no leite e nos ovos, o iodo é um microelemento essencial à síntese das hormonas da tiroide e ao pleno desenvolvimento neurológico.