José Grade, antigo estudante da Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP) e Professor Jubilado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), faleceu na passada sexta-feira, a poucos dias de completar os 90 anos.

Figura determinante no ensino do Desenho no Curso de Arquitetura da “Escola do Porto”, José Grade nasceu em Portimão a 1 de outubro em 1931, tendo ingressado na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde frequentou os primeiros três anos do curso de Escultura. Em 1957, transfere-se da ESBAL para a ESBAP (antecessora da FAUP e da Faculdade de Belas Artes da U.Porto), onde se matricula no 4.º ano do curso especial de Escultura, depois no curso superior, realizando em 1965 a prova final para obtenção do diploma do curso superior de Escultura, tendo obtido a classificação de vinte valores.

Ainda em 1964, é convidado por Carlos Ramos para integrar o corpo docente da ESBAP, onde exerce funções, oficiosamente, durante um ano. É contratado em 1965 como segundo assistente além do quadro, lecionando até 1969, e entre 1972 e 1974, as disciplinas de Tecnologia de Escultura, Iniciação à Escultura, Escultura Decorativa, Desenho de Modelo Vivo, Composição de Escultura e Estudos Complementares de Escultura.

Em 1969, obteve uma bolsa de estudos do Instituto de Alta Cultura, frequenta o curso de pós graduação em Escultura na St. Martin’s School of Art, formação que se prolonga até 1972 passando por várias escolas europeias: ‘Section des Art’s Visuels’ da École Nacional Supérieur d’Architecture et des Art’s Visuels – La Cambre; Slade School of Art; curso ‘Three Dimensional Design’ e ‘Graphics’ no Ravensbourne College of Art and Design; estágio com o pintor Juan Martinez no atelier de serigrafia de Senarclens, em Lausane; Academia Brera em Milão; e Instituto Stadale d’Arte di Venezia.

Em 1974, é aprovado no concurso documental para primeiro assistente, não tomando posse do respetivo lugar, solidarizando-se com o grupo de docentes que contestam o resultado do concurso. Após o 25 de Abril de 1974 é contratado como Equiparado a Assistente e eleito para a Comissão Diretiva que passa a dirigir a ESBAP, integrando, a partir de Junho, a Comissão Administrativa.

Alexandre Alves Costa, Sergio Fernandez, José Grade, Alcino Soutinho, Fernando Távora e Álvaro Siza (da esquerda para a direita) durante uma visita à Acrópole de Atenas, em 1976. (Foto: DR)

Uma figura da Escola do Porto

A partir do ano letivo 1974/75, José Grade passa a ingressar o corpo docente do Curso de Arquitetura da ESBAP. Após a criação da FAUP, em 1979,  é eleito Presidente do Conselho Diretivo do Curso, cargo que exerceu até 1984. Membro do Conselho Diretivo da FAUP até 1998, integrou igualmente a Assembleia de Representantes da faculdade.

Enquanto docente da ESBAP e da FAUP (onde lecionou Desenho I até à sua jubilação em 2001), José Grade assumiu um papel importante no entendimento do ensino do Desenho no Curso de Arquitetura, tendo deixado marcas indeléveis nas sucessivas gerações dos seus estudantes.

Na FAUP, dirigiu também o Museu e o Serviço Editorial, sendo responsável pelas edições da coleção “Textos Teóricos” (dissertações para provas académicas). Participa, com Fernando Távora, na instalação do Círculo Universitário do Porto na Casa Primo Madeira, do qual foi diretor.

A sua dedicação à ‘escola’ (…), o modo como cuidava e geria os seus espaços, estabelecendo um ambiente de grande hospitalidade, constitui um legado que a Faculdade não esquece e procura preservar”, enaltece a FAUP num comunicado publicado em relação à morte de José Grade.

José Grade notabilizou-se também como escultor, tendo produzido obras de relevo, de que são exemplo as esculturas realizadas para o edifício da Assembleia Legislativa Regional dos Açores ou para os TLP no Porto. A sua obra, de desenho e escultura, integrou diversas exposições.

Em 1963, foi um dos dez pintores e escultores que fundaram no Porto a ‘Árvore – Cooperativa de Atividades Artísticas’. Com o poeta Egito Gonçalves e o crítico Carlos Porto criou os ‘Plano-Cadernos Antológicos de Cinema e Teatro’ cuja existência se manteve até 1968. Integrou ainda a direção do Clube Português de Cinematografia (Cineclube do Porto) entre 1967 e 1968.