Os investigadores Mónica Sousa e Paulo Aguiar, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), são os vencedores da edição deste ano dos dois Prémios Santa Casa NeurociênciasPrémio Melo e Castro e Prémio Mantero Belard -, no valor de 200 mil euros cada. É a primeira vez, em dez edições destes Prémios, que um Instituto recebe as duas distinções no mesmo ano.

Identificar os sinais que permitem regenerar a medula espinhal em mamíferos e analisar com detalhe os dados neurofisiológicos de pacientes com Doença de Parkinson implantados com a nova geração de neuroestimuladores, são os objetivos dos dois projetos vencedores desta edição.

Ratinhos com poderes regenerativos

Prémio Melo e Castro foi entregue a Mónica Sousa pelo projeto “TARGET: Traduzir a capacidade regenerativa de Acomys”. O grupo liderado pela investigadora descobriu recentemente, com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da Wings for Life, que o ratinho espinhoso africano (Acomys) é capaz de regenerar e recuperar a função após uma lesão completa da medula espinhal, sendo uma exceção única nos mamíferos. O projeto agora premiado pretende continuar a desvendar os mecanismos subjacentes à capacidade regenerativa da medula espinhal de Acomys.

Para desenvolver o projeto, a equipa liderada pela recente vencedora do Prémio Grünenthal Dor 2021na vertente de investigação básica, vai comparar a resposta do ratinho Acomys à lesão medular com a resposta do ratinho comum (uma espécie sem capacidade regenerativa), usando análise de transcrição genética a diferentes tempos pós-lesão.

“O conhecimento adquirido nesta análise irá permitir modificar o ambiente da medula espinhal e os neurónios do ratinho comum, de forma a tornar esta espécie capaz de regenerar”, explica Mónica Sousa.

Este trabalho, sublinha a investigadora, “poderá ser um ponto de partida para o desenvolvimento de novas terapias para doentes com lesão medular”, uma vez que, até ao momento, não existem opções terapêuticas eficazes. Os principais obstáculos para o tratamento destas condições, recorde-se, são a formação de uma cicatriz no local da lesão e a incapacidade dos neurónios adultos regenerarem.

Um novo estímulo para doentes de Parkinson

Prémio Mantero Belard, por seu lado, foi atribuído ao projeto liderado pelo investigador Paulo Aguiar, denominado «Melhorando a Eficácia da Estimulação Cerebral Profunda em Doença de Parkinson, com Biomarcadores Eletrofisiológicos Personalizados e Estimulação Baseada em Avaliações Quantitativas Objetivas».

Segundo o líder do grupo de investigação em Neuroengenharia e Neurociência Computacional (NCN) do i3S e docente da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), o projeto premiado “tira partido de uma nova geração de neuroestimuladores que, além da componente de estimulação elétrica, tem também a capacidade para registar a atividade neuronal na zona do cérebro que está a ser estimulada”.

A equipa deste projeto reúne especialistas em neuroengenharia, doença de Parkinson (DP), estimulação cerebral profunda (ECP) e análise avançada de sinais eletrofisiológicos. Juntos vão procurar desenvolver estratégias que usam a informação da atividade neuronal para melhorar as terapias baseadas em ECP.

O objetivo, sublinha Paulo Aguiar, “é desenvolver algoritmos “inteligentes” que otimizem os parâmetros da estimulação elétrica de acordo com as características da atividade neuronal de cada paciente”. Além do i3S, este projeto conta com a colaboração de clínicos do Centro Hospitalar Universitário S. João e investigadores do INESC-TEC.

Os Prémios Santa Casa Neurociências

Os Prémios Santa Casa Neurociências representam um dos maiores Prémios atribuídos a investigadores nacionais e destinam-se a promover avanços no tratamento e nos cuidados de saúde de excelência em áreas prioritárias da atuação da Santa Caso. São os casos da recuperação e tratamento de lesões vertebro-medulares e do tratamento de doenças neurodegenerativas associadas ao envelhecimento, como o Parkinson ou o Alzheimer.

Este financiamento traduz-se num investimento anual de 400 mil euros, repartidos em dois prémios: o Prémio Melo e Castro, no valor de 200 mil euros, que distingue o melhor projeto desenvolvido em território nacional que potencie a recuperação e o tratamento de lesões vertebro-medulares; e o Prémio Mantero Belard, também de 200 mil euros, que se destina ao melhor projeto desenvolvido em território nacional que contribua para a compreensão das causas, prevenção e tratamento das doenças neurodegenerativas prevalentes na população idosa.

Os vencedores desta edição foram escolhidos por um júri presidido por José Manuel Castro Lopes (vice-reitor da Universidade do Porto), do qual também faziam parte Catarina Aguiar Branco (Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação), Catarina Resende de Oliveira (Universidade de Coimbra), Cristina Januário (Sociedade Portuguesa de Neurologia), Jorge Jacinto (Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão), George Perry (College of Science, da Universidade do Texas e nomeado pela Santa Casa da Misericordia de Lisboa),  João Malva (Sociedade Portuguesa de Neurociências), José Ferro (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e nomeado pela Santa Casa da Misericordia de Lisboa) e Mamede de Carvalho (Universidade de Lisboa).

A cerimónia de entrega dos Prémios decorreu esta quinta-feira, 17 de novembro, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Na altura foi também anunciado o vencedor do Prémio João Lobo Antunes, destinado a licenciados em medicina em regime de internato médico.

No valor cde 40 mil euros, este prémio foi entregue a David Berhanu, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e do Serviço de Imagiologia Neurológica do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte