Para o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), Manuel Heitor, a decisão da Universidade do Porto em avançar com a realização de testes serológicos para aferir o grau de exposição / imunidade da comunidade académica ao novo coronavírus é não só “inédita a nível académico”, como “merece ser replicada nas outras instituições do país”.

Presente na sessão de apresentação da iniciativa, que decorreu na passada segunda-feira, na Reitoria da U.Porto, o governante lembrou que “vivemos num tempo de muita incerteza”  e que “os testes não curam, mas ajudam a prevenir”.

Nesse sentido, nota Manuel Heitor, “o plano apresentado pela U.Porto é particularmente importante para manter e lançar uma série de testes diferentes, ajudando as pessoas a prevenir e dando-nos mais informações para combater esta fase de incerteza”.

A mesma ideia foi enfatizada por Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), responsável pela coordenação científica da iniciativa. “Temos que continuar a investigar, daí ser tão importante irmos sabendo qual é  percentagem de população que está imune e saber se essa informação é viável”, considera o responsável.

Uma picada que pode dizer muito

E que testes serão disponibilizados, afinal, à comunidade U.Porto? Na prática, trata-se de um “teste rápido” –  uma picada no dedo semelhante à que se faz para fazer a medição da glicose no sangue – que permite perceber se a pessoa já produziu anticorpos específicos para o vírus, e, no caso de resposta afirmativa, se a infeção é recente ou antiga.

Nos casos em que tenha sido diagnosticada uma infeção recente, será aplicado um teste de despiste com zaragatoa, por forma a perceber se aquela ainda se mantém.

A este teste poderão, por sua vez, seguir-se outros, porque “nem mesmo o melhor método disponível neste momento é infalível. Portanto, o que vamos sabendo faz parte de um processo evolutivo”, assume Henrique Barros.

Henrique Barros, presidente do ISPUP e coordenador científico da iniciativa. (Foto: U.Porto)

Rumo à “normalidade”

No que toca aos resultados esperados, o presidente do ISPUP admite que da primeira medição, a começar “nas primeiras semanas de maio”, deverá resultar “um valor relativamente baixo de casos, uma vez que muita gente esteve confinada e em teletrabalho”.

É nesse sentido que uma segunda avaliação, a decorrer em outubro e novembro, permitirá compreender o comportamento da doença na comunidade académica e, mais do que protegê-la, “dar à sociedade portuguesa uma dimensão muito exata da dinâmica da infeção”.

A sessão contou com a participação dos ministros Ana Abrunhosa (Coesão Territorial) e Manuel Heitor (Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), bem como do Reitor da U.Porto, António de Sousa Pereira. (Foto: U.Porto)

A iniciativa da U.Porto surge então numa altura em que o país e a própria Universidade já iniciaram o processo de retoma – ainda que faseada – à normalidade.  Nesse sentido, e como refere a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, também presente na sessão, o rastreio serológico afirma-se como uma “peça fundamental na retoma da atividade económica”.

Recorde-se que os testes serólogicos serão feitos, voluntariamente,  a todos os estudantes, docentes, trabalhadores não docentes e investigadores da U.Porto que necessitem de retomar atividades presenciais nas instalações da instituição. Neste momento, estão ainda a ser definidos os procedimentos (datas, locais) para a sua realização, os quais serão devidamente divulgados junto da comunidade académica.