Um projeto centrado no desenvolvimento de novas terapias para pessoas com lesão medular, liderado pela neurocientista Mónica Sousa, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto (i3S), vai ser apoiado pela prestigiada Fundação internacional «Wings for Life» com um financiamento que pode ascender a perto de 200 mil euros. Este trabalho de investigação centra-se no estudo de uma espécie de ratinho africano que tem uma capacidade regenerativa extraordinária, que não existe em mais nenhum outro animal vertebrado.

Denominado «Identificação e Modulação dos Mecanismos Responsáveis pela Recuperação Funcional e Regeneração Axonal na Medula Espinal de Acomys», o projeto resulta de uma colaboração entre o i3S e o Centro de Investigação Biomédica da Universidade do Algarve (CBMR), uma das poucas instituições no mundo a criar em laboratório esta espécie de rato africano, o Acomys cahirinus.

O trabalho agora distinguido “foca-se no estudo dos mecanismos moleculares e celulares que levam a que o Acomys cahirinus tenha uma enorme capacidade regenerativa, a ponto de voltar a andar após uma lesão completa na medula espinal. Algo que não acontece em nenhum outro animal vertebrado adulto”, como explica Mónica Sousa.

A investigadora sublinha que esta equipa descobriu que o ratinho africano “é capaz de regenerar e recuperar a função motora após uma lesão medular” e o objetivo agora, acrescenta, “é usar o conhecimento adquirido com este mamífero e adaptá-lo ao homem oferecendo «novas oportunidades terapêuticas a pacientes humanos com lesão medular”.

Segundo a líder do rupo de investigação em Regeneração Nervosa do i3S, o rato africano Acomys cahirinus “representa uma mais-valia na investigação, uma vez que é um modelo animal muito mais próximo dos humanos. Isto quando comparado, por exemplo, com o peixe-zebra, que também é conhecido pela sua capacidade regenerativa de tecidos e órgãos”.

“Uma enorme honra”

A Fundação «Wings for Life» tem como objetivo encontrar uma cura para a lesão medular. Nesse sentido, promove uma corrida anual, em todo o mundo – a «Wings for Life Run» – e, com a verba angariada nesta corrida financia ensaios clínicos e investigação pré-clinica e básica em todo o mundo. O Conselho Cientifico, revisores, e premiados pela «Wings for Life» incluem clínicos e investigadores de topo nesta área, que contribuíram com descobertas essenciais para o conhecimento atual sobre regeneração do sistema nervoso.

Mónica Sousa sente, por isso, «uma enorme honra em ser distinguida por uma fundação para a qual contribuem pessoas que tanto inspiram o trabalho do meu grupo”.

Recorde-se que, no final de 2019, o mesmo o projeto já tinha sido distinguido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com o Prémio Melo e Castro, no valor de 200 mil euros. Contudo, adianta a investigadora, esta verba adicional proveniente da «Wings for Life» vai permitir o financiamento de outras áreas que não estavam contempladas, nomeadamente “reforçar os recursos humanos e fazer alterações nos biotérios da Universidade do Algarve e do i3S, de forma a manter esta espécie em condições otimizadas. Vamos receber agora 86 mil euros com possibilidade de mais 100 mil euros após avaliação no segundo ano”.