Um dos Prémios Santa Casa Neurociências 2019, atribuídos pela Misericórdia de Lisboa, distinguiu esta terça feira a equipa liderada pela neurocientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto (i3S) Mónica de Sousa, por um projeto que pode abrir portas ao desenvolvimento de novas terapias para pessoas com lesão medular.

Distinguido com o Prémio Melo e Castro, no valor de 200 mil euros, o projeto «S0PINY – Identificação e Modulação dos Mecanismos Responsáveis pela Recuperação Funcional e Regeneração Axonal na Medula Espinal de Acomys» foca-se no estudo dos mecanismos moleculares e celulares que levam a que uma espécie de rato africano – o Acomys cahirinus – tenha uma «enorme capacidade regenerativa», a ponto de voltar a andar após uma lesão completa na medula espinal. Algo que não acontece em nenhum outro animal vertebrado adulto.

“Numa exceção notável, descoberta por membros desta equipa, verificou-se que o ratinho africano é capaz de regenerar e recuperar a função motora após uma lesão medular”, explica Mónica Sousa. Assim, o objetivo final é “usar o conhecimento ganho com este mamífero e adaptá-lo ao homem», oferecendo «novas oportunidades terapêuticas a pacientes humanos com lesão medular”.

Segundo a investigadora do i3S, o rato africano Acomys cahirinus “representa uma mais-valia na investigação, uma vez que é um modelo animal muito mais próximo dos humanos”. Isto “quando comparado, por exemplo, com o peixe-zebra, que também é conhecido pela sua capacidade regenerativa de tecidos e órgãos”.

O i3S está a trabalhar neste projeto em colaboração com o Centro de Investigação Biomédica da Universidade do Algarve (CBMR), uma das poucas instituições no mundo a criar em laboratório esta espécie de rato africano. Trata-se de um consórcio constituído por uma equipa de cinco grupos de duas instituições (i3S e CBMR).

Um prémio com história

Esta não é a primeira vez que uma equipa do i3S é distinguida no âmbito dos Prémios Neurociências, atribuídos desde 2013, pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Em 2015, um outro projeto direcionado para o desenvolvimento de uma estratégia inovadora para a recuperação e tratamento de lesões na medula, e que contou igualmente com a participação de Mónica Sousa, venceu o Prémio Melo e Castro. Um ano depois, o mesmo galardão foi atribuído a um projeto orientado para a prevenção da incontinência urinária, liderado por uma equipa da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP).