Pode a tecnologia evoluir no tratamento das feridas? Um grupo de investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade Porto (FEUP) acredita que sim, a julgar pelos resultados dos ensaios no âmbito do projeto H2Cure, um projeto que pretende aplicar um protótipo de penso à base de mel na prevenção e tratamento de feridas crónicas.

No âmbito deste projeto pioneiro, a equipa liderada pelo investigador Adriano Carvalho pretende explorar as propriedades terapêuticas do mel, adicionando-lhe outros compostos como o ácido hialurónico. O objetivo é potenciar uma cicatrização mais rápida e eficaz da ferida e, com isso, a possibilidade de novas formulações diferenciadoras no mercado dos dispositivos médicos, com um desempenho superior às existentes e a um custo unitário e global mais reduzido.

O desafio passa, sobretudo, por desenvolver uma nova técnica de esterilização do mel para fins clínicos. Além de Adriano Carvalho, o projeto conta com a experiência de Armando Araújo como investigador e Agostinho Rocha como bolseiro ligado ao H2Cure.

“O trabalho da FEUP neste consórcio passa pelo desenvolvimento de um equipamento baseado em aplicação de campo elétrico de alta frequência, baseado em tecnologia GaN e/ou aplicação de ultrassons de potência capaz de realizar a esterilização completa do mel”, explica Pedro Coelho, do gabinete de Inovação da FEUP,

“É fundamental garantir que neste processo de esterilização se consiga garantir a ausência de organismos com viabilidade biológica, até porque tudo o que envolve a prática hospitalar é tremendamente escrutinada”, reforça o mesmo responsável, que assistiu, ainda no Brasil, às primeiras conversas exploratórias relacionadas com esta investigação.

Da castanha até ao mel, há um Oceano Atlântico de permeio

Na origem do conceito que os investigadores portugueses vão testar em breve em animais, esteve uma viagem a São Paulo, no âmbito da Rede BIN@ em 2016. João Transmontano, atual administrador da Portus Pharma, cruzou-se com a comitiva da FEUP. E de uma conversa de circunstância sobre um novo método de esterilização da castanha 100% eficaz utilizado pelo investigador Adriano Carvalho num projeto familiar, acabaria por surgir a intenção de colaborarem.

O motivo já estaria identificado na altura e, em consonância com a atividade da empresa de Portalegre, que opera  no desenvolvimento de matérias primas de origem natural para uso clínico no tratamento de feridas (escaras, úlceras de pressão, queimados, pé diabético, cicatrização pós-cirúrgica). João Transmontano desafiou então Adriano Carvalho para a criação de um processo de esterilização do mel para fins clínicos – surgia assim o H2Cure.

“O mel é uma matéria prima abundante em Portugal e tem um uso milenar no tratamento de feridas. Tem propriedades únicas na terapia”, refere João Transmontano. “O nosso objetivo é introduzir um produto no mercado como resultado deste projeto, que tem um enorme potencial”.

Para além da Faculdade de Engenharia, a Universidade do Porto está representada neste consórcio de investigação pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Às duas faculdades da U.Porto e à Portus Pharma junta-se ainda uma equipa da Universidade do Minho.