O que têm em comum Adelaide Cabete (1867-1935), Domitila de Carvalho (1871-1966), Leopoldina Ferreira Paulo (1908-1996), ou Odete Ferreira (1925-2018)? Todas elas foram mulheres portuguesas que, desde finais do século XIX até à atualidade, se destacaram nos diferentes domínios da Ciência. E é o seu legado que a U.Porto se propõe agora a comemorar através do ciclo E contudo, elas movem-se! Mulheres e ciência, a decorrer de 10 de setembro a 29 de outubro, em diferentes espaços da Universidade.

Ao todo são 12 as mulheres cujos percursos inspiram um programa de eventos abertos a toda a cidade e pensados para “mostrar como apesar de tudo e contra tudo, as mulheres, muitas vezes, se moveram. E afinal, com elas, também o mundo”. De acordo com a organização, liderada pelo Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, em parceria com a Reitoria da U.Porto, o propósito passa por “assinalar o contributo das mulheres na área das Ciências, destacando o seu pioneirismo e sublinhando os obstáculos que elas tiveram de ultrapassar para serem admitidas e (re)conhecidas no contexto académico e profissional”.

O ciclo arranca já esta terça-feira, dia 10, com a inauguração da exposição E contudo, elas movem-se! Mulheres e ciência, que ficará patente nas arcadas da Reitoria. Ali será possível encontrar um conjunto de 12 painéis com fotografias e informação detalhada sobre cada uma das homenageadas.

É assim que ficaremos a conhecer o percurso de Adelaide Cabete (1867-1935), a médica ginecologista, feminista e sufragista responsável pela fundação da Maternidade Alfredo da Costa. Ou das também médicas Domitila de Carvalho (1871-1966) e Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911), a primeira mulher a votar em Portugal, em 1911. Pioneiras nas suas áreas foram também a bióloga Matilde Bensaúde (1890-1969) e a física Branca Edmée Marques (1899-1986), esta última discípula de Marie Curie e precursora no estudo da radioatividade em Portugal.

Iniciativa tem como “inspiração” os percursos de 12 mulheres portuguesas que se destacaram nos diferentes domínios da Ciência, desde o final do século XIX até à atualidade.

Mais recentes, mas igualmente inspiradores, são os trajetos de Cesina Bermudes (1908-2001), a primeira mulher a doutorar-se em Medicina em Portugal; de Lídia Salgueiro (1917-2009), pioneira nas áreas de Física Experimental e Física Atómica; de Maria de Lurdes Pintasilgo (1930-2004), engenheira químico-industrial e primeira e única mulher a exercer o cargo de Primeira-Ministra em Portugal; e da cientista Odete Ferreira (1925-2018), pioneira na luta contra a SIDA e responsável pela identificação do Vírus da Imunodeficiência Humana de tipo 2 (VIH-2).

Entre as homenageadas destacam-se ainda três mulheres com fortes ligações à U.Porto. São elas Leopoldina Ferreira Paulo – a primeira mulher doutorada pela Universidade do Porto, em 1944; Virgínia Moura (1915-1998), a segunda mulher a licenciar-se em Engenharia Civil em Portugal, pela Faculdade de Engenharia (FEUP); e Isolina Borges (1931-2007), a primeira mulher doutorada em Psicologia por uma universidade portuguesa, fundadora e primeira professora catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP).

Para ajudar a contar a história de cada homenageada, os painéis incluem ainda um conjunto de 12 poemas inéditos, assinados pelos poetas Àngels Gregori, David Jou, Jaime Rocha, Joana Espain, João Habitualmente, Luís Filipe Castro Mendes, Luís Quintais, Margarida Vale de Gato, Maria do Rosário Pedreira, Maria Teresa Hor­ta, Nuno Júdice e Ana Luísa Amaral.

Mais de 20 eventos dedicados a elas

A exposição nas arcadas da Reitoria será, contudo, apenas o ponto de partida para um programa alargado de ações que, ao longo de três semanas, vão celebrar o contributo das mulheres na área das Ciências, através de debates, mesas-redondas, ciclos de cinema, exposições, conferências, ou do lançamento de livros.

Ainda esta terça-feira, a abertura do ciclo será assinalada, na Casa Comum da Reitoria, com a apresentação do livro “E contudo, elas movem-se! Mulheres e ciência (com poemas)”, por Rosa Maria Martelo. Segue-se a gravação ao vivo do Programa ‘O som que os versos fazem ao abrir’ (3 emissões), da Antena 2, com a participação de Ana Luísa Amaral e Luís Caetano.

O ciclo vai encerrar  com a colocação simbólica do retrato de Leopoldina Ferreira Paulo – a primeira mulher doutorada pela U.Porto – no Salão Nobre da Reitoria. (Foto: DR)

E se a maioria dos eventos irá decorrer nos espaços da Casa Comum, as celebrações vão também chegar ao resto da Universidade. É o caso de “Mulheres artistas docentes”, título da exposição que vai estar em exibição de 30 de setembro a 4 de outubro, na Faculdade de Belas Artes (FBAUP). Já de 3 a 6 de outubro, a FBAUP junta-se à Faculdade de Arquitetura da U.Porto para revelar “As mulheres no ensino superior artístico científico: O caso do Porto entre 1960”.

O encerramento do ciclo está marcado para 29 de outubro e inclui a realização de uma Mesa-redonda na Casa Comum, com as participações de Maria do Céu da Cunha Rêgo, Isabel Pires de Lima e Júlio Machado Vaz, e moderação de Luís Caetano. A sessão culminará com a colocação simbólica do retrato de Leopoldina Ferreira Paulo – o primeiro de uma mulher – no Salão Nobre da Reitoria.

“Vai ser o primeiro retrato de uma mulher no salão nobre, que, actualmente é composto por homens. Com esta homenagem vamos fechar um ciclo, mas, ao mesmo tempo, vamos abrir uma nova era”, destaca Fátima Vieira, Vice-Reitora da U.Porto com o pelouro da Cultura.

Todos os eventos têm entrada livre.

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